2025 vai ser o ano em que a Inteligência Artificial (IA) vai explodir em todo o mundo, beneficiando as tecnológicas norte-americanas do sector, mas também empresas de outras áreas que vão sofrer um contágio positivo com esta revolução.
A previsão é da Blackrock que aposta mais nas ações norte-americanas no próximo ano, face às europeias. “Estamos mais ‘overweight’ [maior aposta] nas ações americanas, nas europeias estávamos ‘neutral’, mas agora estamos ‘underweight’ [menor aposta]”, segundo o líder da BlackRock em Portugal.
“A IA e a transição energética estão ao mesmo nível do investimento da revolução industrial”, disse André Themudo, apontando que o crescimento da IA “vai acontecer em diferentes fases. Primeiro, a construção da infraestrutura de IA. Depois, a adoção da tecnologia e a transformação da economia, seguindo-se os ganhos de produtividade. “A IA tem efeito de contágio fora do setor tecnológico, como o do retalho ou o industrial” ou o das energéticas, apontando que estes setores “serão indiretamente afetados e impactados em termos de preços”, apontando para, além do setor tecnológico, as cotadas de centros de dados, de energia, retalho e indústria, mas também a da saúde onde a IA representa novas oportunidades.
“Os EUA têm uma economia mais permeável a megatendências. Se compararmos com a Europa que vai perder 10% da sua força de trabalho nos próximos 20 anos, e a energia tem um custo mais barato do que na Europa. Com o presidente Trump eleito, deverá haver uma política de desregulação. Os EUA têm ventos favoráveis que ajudam, com a Europa a ter ventos adversos pela frente. A Europa parte de uma desvantagem competitiva”, afirmou o responsável nacional da maior gestora de ativos mundial.
“Vai ser preciso mesmo muito investimento ao nível da revolução industrial. Os governos não vão conseguir fazer face, vai ter de haver uma abertura cada vez maior do investimento privado e facilitar o investimento em infraestruturas”, acrescentou.
Deu o exemplo de que um investidor não pode estar à espera vários anos para ter a certeza se consegue obter a regulação necessária para abrir o negócio, o que “afasta os investidores privados”. Neste momento, a expectativa nos EUA é que Donald Trump venha a resolver estas questões burocráticas. “Este é um bom momento histórico para investir em infraestruturas”.
Olhando para a política monetária, apontou que há um ano previa-se sete descidas nas taxas de juro pelo BCE e pela Fed, mas tal não aconteceu. “As taxas de juro serão mais altas do que o descontado pelo mercado”, afirmou, apontando que as taxas de juro de referência vão atingir os 2%-2,5% na Europa e os 4% nos EUA até ao final de 2025. Atualmente, o BCE tem a taxa de referência nos 3,25% e a Fed nos 4,75%.
As energéticas poderão também ser beneficiadas com a descida das taxas de juro, pois o serviço de dívida será menor.
“Estamos positivos na saúde, principalmente na Europa. A IA vai beneficiar na análise, diagnóstico. Temos o envelhecimento da população: 12% do mundo tem mais de 65 anos que gastam três vezes mais dinheiro em saúde”, sublinhou num encontro com jornalistas em Lisboa na quarta-feira.
No caso das obrigações, a companhia está mais positiva para as obrigações europeias face às norte-americanas, perante a perspetiva de que as taxas de juro vão descer mais cedo face aos EUA, criando preços mais atrativos.
A aposta é nas obrigações com high yield; apesar de serem mais arriscadas, os defaults estão em mínimos históricos. A aposta vai para os setores financeiros e de utilities.
A companhia deixa elogios ao desempenho económico dos países da periferia da zona euro, que crescem mais face à média europeia. Só a Alemanha está 8% abaixo do crescimento registado durante a pandemia.
“O setor financeiro na Europa está mais do que compensado pela perda da margem com as descidas das taxas de juro. Há um aumento do comissionamento dos bancos na Europa. Houve uma maior reestruturação dos bancos na Europa, os balanços não estavam tão saneados como agora, a qualidade dos bancos europeus está muito mais sólida agora”, apontando para diversos bancos italianos e espanhóis.
“Não prevemos que seja um ciclo de descidas como vimos antes. Não vai ser tentativa-erro, mas quase”, afirmou, destacando que as políticas expansionistas prometidas por Donald Trump deverão provocar inflação, sendo necessárias medidas para a controlar. “É esperar para ver e ir ajustando”, disse, sobre a ação da Fed.
Nos clientes que contacta, sente uma “preocupação” sobre o estado da Europa. Citou o relatório Draghi que aponta para a falta de competitividade da Europa e das suas empresas, num momento em que as duas maiores economias – Alemanha e França – estão em dificuldades.
Para terminar, o gestor apontou para vários diversificadores da carteira de investimentos, como o ouro ou a prata, mas também os criptoativos como a Bitcoin.
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