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Gaza: Sinais encorajadores de ambos os lados dão esperança quanto a cessar-fogo

A suspensão de hostilidades inclui a troca de reféns, aumento da ajuda humanitária e retirada das tropas israelitas das partes residenciais. O acordo parece mais próximo do que nunca, isto apesar da objeção dos membros mais radicais do governo israelita, que ameaçam quebrar a coligação que suporta Netanyahu.
15 Janeiro 2025, 07h00

Após os avanços recentes nas negociações entre Israel e o Hamas em Doha, no Qatar, o movimento palestiniano já terá aceitado as condições propostas pelos mediadores internacionais, segundo os seus representantes. Do lado israelita, o primeiro-ministro sinalizou aos familiares de um dos reféns estar disposto a aceitar o acordo apesar das palavras de alguns membros do governo.

A proposta passa, numa primeira fase, pela libertação de 33 reféns ainda detidos na Faixa de Gaza durante um período de seis semanas, incluindo mulheres, menores de idade, pessoas acima de 50 anos e feridos ou doentes. Em troca, Israel libertará um número não especificado de detidos palestinianos, com vários órgãos de comunicação social a apontarem a mais de mil libertações, com prioridade dada a mulheres e menores.

Além destes, e numa fase posterior, 47 palestinianos detidos em 2011 e subsequentemente presos novamente serão libertados, enquanto 22 outros condenados a prisão perpétua serão exilados para o Qatar, Turquia ou Egito.

Representantes do movimento islamista já terão aceitado as condições pré-definidas, com a NPR a citar um alto membro anónimo explicando que a intenção é demonstrar alguma flexibilidade em assuntos que vinham bloqueando uma resolução para o conflito que dura há mais de 15 meses.

Por sua vez, o primeiro-ministro israelita terá garantido a familiares de reféns que o acordo “está por horas ou dias”, argumentando que ainda aguarda uma resposta formal do Hamas, reporta o Canal 12 daquele país. Os familiares mostraram-se preocupados com a libertação faseada dos reféns ainda detidos em Gaza, pedindo mais urgência no seu regresso.

A primeira fase incluirá ainda a retirada das forças israelitas de partes atualmente ocupadas na Faixa, sobretudo o norte do enclave, que está cercado há mais de 100 dias, sem entrada de qualquer ajuda humanitária. Os civis destas zonas poderão regressar às suas casas – ou ao que restar delas, dado que a maior parte da infraestrutura de Gaza foi danificada ou completamente destruída.

Além da suspensão dos combates, as atividades militares aéreas israelitas, incluindo de reconhecimento, estarão limitadas a 10 horas por dia. A ajuda humanitária a entrar no enclave será finalmente autorizada, sendo definido um objetivo de 600 camiões diários, incluindo 50 de combustível.

Coligação discorda

O acordo surge após largos meses de avanços e recuos, troca de acusações de ambos os lados e frustração por parte dos mediadores, que ameaçaram várias vezes abandonar as conversações dada a falta de vontade das duas partes em ter posturas construtivas.

Na mesma linha, o ministro israelita da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, revelou esta segunda-feira ter sucessivamente bloqueado qualquer acordo para a libertação dos reféns em Gaza, algo que vários órgãos de comunicação social locais vinham reportando há alguns meses. O líder do partido Poder Judaico, da extrema-direita ultraconservadora, usou a sua plataforma na rede social X para exaltar o seu parceiro de coligação Bezalel Smotrich, ministro das Finanças e líder do Partido Nacional Religioso – Sionismo Religioso, para boicotar o que chama de “acordo de rendição”.

A posição de Ben-Gvir gerou uma forte reação das famílias dos reféns, que o acusaram de privilegiar a sua posição política em detrimento das vidas dos cidadãos ainda em Gaza.

Em sentido inverso, Joe Biden elogiou a proposta apresentada pelos qataris, que contou com a colaboração dos enviados da atual administração para a política externa e dos futuros, já nomeados por Trump, numa rara cooperação entre administrações cessantes e futuras nos EUA. O ainda presidente destacou o aumento de ajuda humanitária para os palestinianos e a libertação dos reféns ainda vivos, incentivando à sua adoção.

Por sua vez, Anthony Blinken, o responsável da Casa Branca pela pasta dos negócios estrangeiros, colocou a bola do lado do Hamas, como fez repetidas vezes no passado. Ainda assim, o responsável pela política externa norte-americana teve palavras duras para os líderes israelitas, pedindo-lhes que “abandonem o mito de que podem levar a cabo uma anexação de facto sem custos nem consequências para a sua democracia”.

“O governo de Israel tem sistematicamente minado a capacidade e legitimidade da única alternativa viável ao Hamas, a Autoridade Palestiniana (AP)”, afirmou Blinken numa sessão do Conselho Atlântico esta terça-feira, lembrando as centenas de milhões de dólares que Telavive apreendeu à AP em receitas fiscais.

“Os israelitas têm de decidir que relação querem ter com os palestinianos e deixar de lado a ilusão de que estes aceitarão ser um não-povo sem direitos nacionais”, acrescentou.

Já Donald Trump voltou a usar das ameaças, prometendo que “haverá muitos sarilhos” caso este acordo não seja firmado até à sua tomada de posse, a 20 de janeiro. Ainda assim, o sinal que recebeu vindo dos seus enviados à região é que “houve um aperto de mão e agora estão a limar arestas”, dando mais indícios de que uma suspensão das hostilidades poderá estar perto.

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