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Portugal e Espanha não se comprometem com agenda da NATO

O secretário-geral da NATO esteve na Península Ibérica para ouvir o que têm os respetivos governos a dizer sobre o orçamento para a Defesa. No final, o recado deixado por Mark Rutte foi o mesmo: “é pouco”.
epa11634956 New NATO Secretary General Mark Rutte gives his first press conference after he succeeds Jens Stoltenberg as NATO Secretary General, at the Alliance headquarters in Brussels, Belgium, 01 October 2024. Former Dutch Prime Minister Mark Rutte succeeds Jens Stoltenberg as Secretary General of the North Atlantic Treaty Organization (NATO) on 01 October 2024 after the latter’s ten years at the helm of the Alliance. EPA/OLIVIER HOSLET
28 Janeiro 2025, 18h43

A alguns milhares de quilómetros das fronteiras do Dombass, o secretário-geral da NATO, o neerlandês Mark Rutte, esteve de visita à Península Ibérica para saber o que pensam os respetivos governos do orçamento para a Defesa. Em perspetiva está o facto, diz Rutte, e entre outras coisas, que a Península tem de estar apta a defender a aliança das incursões marítimas da Rússia nas redondezas das suas águas territoriais. De Portugal e de Espanha, o secretário-geral ouviu mais ou menos o mesmo: a disposição de, até 2019, o orçamento para essa área específica chegar ao patamar dos 2%. “Não chega”, disse Rutte aos dois governos.

De facto, Portugal mostrou-se disposto a “acelerar” o seu calendário de investimentos militares para alcançar os 2% do PIB antes de 2029. Em Espanha, o governo confirmou essa mesma meta para esse ano. Portugal e Espanha fazem parte dos países com menos gastos militares dentro da União Europeia, num momento em que o presidente norte-americano, Donald Trump, ‘mandou’ (talvez mesmo sem aspas) que os membros da NATO dediquem pelo menos 5% do PIB.

Inegavelmente, a visita de Rutte à Península Ibérica não correu bem – e agora segue tudo para um encontro mais alargado a ter lugar na próxima semana, quando o secretário-geral repetir a exigência da administração Trump. No encontro, o mais certo é que o tema polémico venha a ser a questão do interesse norte-americano pela Gronelândia.

Ontem mesmo, terça-feira, a primeira-ministra da Dinamarca, a ‘potência administrante’ fez um périplo pela Europa (Berlim, Paris e Bruxelas) para recolher apoio à causa dinamarquesa e contra a vontade norte-americana. Mette Frederiksen ficou a saber que, se o solicitar, poderá contar com o envio de tropas francesas na Dinamarca – possivelmente para provar a Trump que aquele lado da fronteira NATO está devidamente defendida. Na capital germânica, o apoio não foi tão longe como em França. O chanceler Olaf Scholz, voltou a condenar todas as tentativas de expansão territorial, independentemente de quem as esteja a realizar, ~mas não se mostrou disponível para movimentar tropas.

Enquanto que o primeiro-ministro de Portugal disse que o empenhamento do país é gastar os 2% do PIB em Defesa, o seu homólogo Pedro Sánchez destacou que a Espanha aumentou os gastos no setor em 70% na última década, sendo o terceiro país aliado que mais aumentou” o seu orçamento segundo comunicado oficial da chefia do governo. “Além disso, o presidente de governo colocou ênfase em que a segurança deve ir além do gasto em Defesa, e insistiu em que a Espanha está entre os dez principais contribuintes em gastos absolutos em Defesa”, acrescentava o comunicado. Sánchez salientou que a Espanha “é o primeiro em percentagem nos gasto em operações, destinando quase dez vezes mais que a média dos aliados”. A Espanha, com um esforço em matéria de Defesa de 1,28% do PIB em 2024, é de todos os membros da NATO o país que gasta menos nesse setor em relação à dimensão da sua economia. O comunicado não o dizia, mas Sánchez parece pouco interessado em aumentar os gastos em Defesa até ao patamar dos 5% do PIB. Em Portugal, tudo indica que sucede precisamente o mesmo.

O Conselho Europeu convocou uma reunião para 3 de fevereiro que apresenta como “uma jornada de reflexão informal dos dirigentes da EU” para “debaterem a defesa europeia. Mas salienta que o secretário-geral da NATO foi convidado para o almoço e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, para o jantar.

“Num panorama de segurança marcado pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, por um crescendo de ataques híbridos e ciberataques contra os Estados-membros e pela situação no Médio Oriente, os dirigentes da UE vão debater a defesa europeia e a forma de reforçar as capacidades de defesa”, refere nota oficial do Conselho.

“Com base nos princípios de que a Europa tem de assumir uma maior responsabilidade pela sua defesa e de que é do nosso interesse comum cooperar mais estreitamente a nível europeu, o debate centrar-se-á nos seguintes aspetos: desenvolvimento das capacidades de defesa; financiamento, incluindo a mobilização de financiamento privado, melhor forma de utilizar os instrumentos e o orçamento da UE e outras opções comuns que é possível ponderar; e reforço e aprofundamento das parcerias.

“O debate ajudará a preparar as próximas etapas para tornar a Europa um interveniente mais resiliente e mais fiável no domínio da segurança e da defesa, tornando-se assim um parceiro transatlântico mais forte, inclusive no contexto da OTAN, e contribuirá para orientara Comissão e a alta representante na preparação das propostas sobre o futuro da defesa europeia. Nesse contexto, os dirigentes vão também debater a ligação entre o aumento do investimento no domínio da defesa e o reforço da competitividade económica global e da coesão da EU”, diz ainda o documento de apresentação do encontro.

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