A presidente da Comissão Europeia anunciou esta terça-feira, 11 de fevereiro, que a União Europeia vai retaliar contra as tarifas impostas por Donald Trump sobre as importações de aço e alumínio, uma mensagem ecoada por vários outros representantes do bloco europeu e seus Estados-membros. O presidente dos Estados Unidos revelou que as taxas vão entrar em vigor a 12 de março.
Em comunicado, Ursula von der Leyen confirma que “as tarifas injustificadas sobre a União Europeia não ficarão sem resposta”, sendo que vão “desencadear contramedidas firmes e proporcionais”.
“Lamento profundamente a decisão dos EUA de impor tarifas nas exportações europeias de aço e alumínio. As tarifas e impostos são más para as empresas e pior para os consumidores”, escreve a líder europeia no comunicado emitido por Bruxelas.
Na mensagem partilhada pela Comissão Europeia, Ursula von der Leyen aponta que a “União Europeia vai agir para assegurar os seus interesses económicos”, bem como “proteger os nossos trabalhadores, empresas e consumidores”.
A resposta de Bruxelas surgiu depois dos Estados Unidos terem definido o dia 12 de março como entrada em vigor das novas taxas aduaneiras sobre o alumínio e aço, na ordem dos 25%, sobre importações provenientes da UE, Argentina, Austrália, Canadá, Japão, Brasil, México, Coreia do Sul e Reino Unido.
Para já, o sector metalomecânico e metalúrgico português está tranquilo perante as tarifas norte-americanas, lembrando que, por um lado, as suas exportações vão bastante para lá daquele mercado e, por outro, são compostas sobretudo por produtos trabalhados, não a matéria-prima.
Ainda assim, a associação europeia do ramo, a Eurofer, teme que estas medidas venham “exacerbar” uma situação “já terrível”, lembrando a importância do mercado norte-americano como destino de exportação europeia – o segundo mais relevante, com 16% do total extracomunitário. A Eurofer teme um redirecionamento de fluxos destinados originalmente para os EUA para a Europa, fluxos esses oriundos de países terceiros, nomeadamente a China, e que levem ao colapso do sector.
Líderes europeus unidos
Após o anúncio de Ursula von der Leyen, vários líderes do bloco europeu reforçaram a mensagem de Bruxelas, garantindo uma resposta ao que classificam de medidas “injustas” tomadas pelos EUA em relação à Europa. A própria presidente da Comissão moderou ligeiramente o tom depois de reunir com o vice-presidente norte-americano, JD Vance, esta terça-feira, falando numa “reunião produtiva sobre os nossos desafios comuns.”
António Costa, presidente do Conselho Europeu, foi dos representantes europeus a colocar-se do lado da Comissão e de von der Leyen, reforçando que apoia “plenamente” a decisão europeia de retaliar as tarifas “injustificadas” impostas pelos EUA ao alumínio e aço. Costa garantiu ainda um bloco “unido na defesa dos interesses das suas empresas, trabalhadores e cidadãos” numa publicação na rede social Bluesky.
Também Maroš Šefčovič, comissário encarregue da pasta do comércio, criticou a decisão norte-americana, classificando as taxas aduaneiras como “contraproducentes.” Para o representante da Comissão, “não há justificação” para a sua imposição, que “é prejudicial para as empresas e pior para os consumidores,” quem acaba por pagar a fatura.
Uma das possibilidades de resposta europeia passa por descongelar as medidas retaliatórias desenhadas em 2018, aquando do primeiro capítulo da guerra comercial desencadeada por Trump, entretanto suspensas em 2021. Na altura, a UE optou por tarifas produto-a-produto numa série de bens politicamente relevantes, como importações agrícolas, marcas norte-americanas como a Levi’s ou Harley Davidson e, claro, sobre o aço e o alumínio.
Segundo a Bloomberg, que cita um representante europeu próximo da matéria, esta suspensão pode ser levantada rapidamente.
Trump explicou a decisão com a necessidade de revitalizar a indústria norte-americana, que vinha enfrentando uma concorrência internacional capaz de cortar os seus preços. Regiões como a chamada “Cintura de Ferrugem,” a zona à volta dos Grandes Lagos, no norte dos EUA, viem há algumas décadas um declínio económico causado sobretudo pela perda de competitividade da indústria norte-americana, tendo votado esmagadoramente a favor do regressado presidente nas mais recentes eleições.
Ao nível nacional, vários líderes europeus também não deixaram de se manifestar contra a política norte-americana. O chanceler alemão, Olaf Scholz, lembrou que a UE é “o maior mercado do mundo, com 450 milhões de cidadãos,” pelo que deve responder de forma coordenada e unida. Essa resposta pode ser desenhada “numa hora”, reforçou, embora a sua estratégia preferencial para lidar com o segundo mandato do presidente norte-americano passe por “discussões claras e abertas”, afirmou no primeiro debate televisivo para as eleições deste mês.
Também o ministro francês para a indústria, Marc Ferracci, falou na necessidade de o bloco se manter coeso perante estas “tentativas de nos dividir” vindas dos EUA. Reinette Klever, ministra neerlandesa do comércio externo, também deixou críticas às tarifas de Trump, argumentando que nem norte-americanos, nem europeus – neerlandeses incluídos – beneficiam destas barreiras comerciais.
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