As delegações norte-americana e russa, reunidas em Riad esta terça-feira, debateram, entre outros assuntos, a possibilidade de organização de uma cimeira entre Vladimir Putin e o seu homólogo Donald Trump, mas, segundo a agência TASS, nada ficou fechado – disse Yuri Ushakov, conselheiro de Política Externa do presidente russo.
“Ainda é difícil dizer se as posições russa e americana se aproximaram, mas esse era o tópico”, disse Ushakov, considerando prematuro falar sobre “datas concretas para um encontro entre os dois líderes”. Ou seja, a convergência de pontos de vista sobre a Ucrânia não é, afinal, tão grande como a que deixavam antecipar as declarações recentes de Trump sobre a Ucrânia.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse, após se encontrar com o seu homólogo russo, Sergey Lavrov, que Washington quer um fim “justo e duradouro” para o conflito na Ucrânia. Lavrov estabeleceu condições, dizendo que a Rússia se opunha ao envio de tropas de países membros da NATO para a Ucrânia, mesmo sob bandeiras nacionais ou da União Europeia – o que de algum modo esvazia, ou dá um novo contexto, às decisões tomadas na segunda-feira em Paris, na cimeira de emergência patrocinada por Emmanuel Macron.
“Explicámos que a implantação na Ucrânia de tropas das forças armadas dos países da NATO, mesmo que sob uma bandeira diferente, sob a bandeira da União Europeia ou sob bandeiras nacionais, não muda nada. Isso é claro que é inaceitável”, disse Lavrov. A ótica de Moscovo é que a presença desse contingente junto à fronteira russa é uma pressão intolerável em termos da soberania russa. Mesmo assim, “tenho motivos para acreditar que os americanos começaram a entender melhor a nossa posição”, disse, considerando a conversa “útil”. “Nós não apenas nos ouvimos uns aos outros, como nos escutámos”.
Lavrov referiu-se às sanções contra Moscovo e disse ter observado “um grande interesse em remover obstáculos artificiais ao desenvolvimento da cooperação económica mutuamente benéfica” entre a Rússia e os Estados Unidos. Após vários anos sem comunicação, as delegações russa e norte-americana discutiram a reconstrução das relações, os preparativos para uma reunião entre Vladimir Putin e Donald Trump, bem como as perspetivas para resolver o conflito na Ucrânia. Yury Ushakov disse que as equipas tiveram uma “conversa muito séria sobre todas as questões”.
As conversas russo-americanas aconteceram num dos palácios da família real e a reunião durou cerca de quatro horas e meia. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Arábia Saudita foi escolhida como local para as negociações porque é conveniente para ambos os lados. Para além de Sergey Lavrov e de Yury Ushakov, estava também do lado russo o CEO do Fundo Russo de Investimento Direto, Kirill Dmitriev. O secretário de Estado Marco Rubio era acompanhado pelo conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz e pelo enviado especial ao Oriente Médio Steve Witkoff.
Rubio e Lavrov concordaram em nomear equipas de alto nível para começar a trabalhar no fim do conflito na Ucrânia o mais rapidamente possível, disse a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce. Estabeleceram também uma via direta de resolução de conflitos potenciais (qualquer coisa próxima do célebre telefone vermelho, que ligava a Casa Branca ao Kremlin durante a Guerra Fria) e estabelecer as bases para uma cooperação futura em questões de interesse geopolítico mútuo e oportunidades económicas e de investimento, ainda segundo a TASS.
Neste contexto de renovação, os dois países concordaram em restaurar as suas embaixadas em Moscovo e Washington aos níveis anteriores de pessoal para facilitar o envolvimento diplomático contínuo, disse Marco Rubio. “Precisaremos do trabalho ativo de missões diplomáticas capazes de funcionar normalmente para podermos continuar os contatos”, disse, citado pela Associated Press. As duas capitais concordaram em garantir a nomeação de embaixadores o mais rapidamente possível.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, disse posteriormente que a reação dos países ocidentais às conversas Rússia-EUA é “nervosa” e “histérica” – tendo referido o esforço de Macron como “um fenômeno sem precedentes nas relações internacionais: esforços para impor a própria participação num processo de negociação”.
Entretanto, a Dinamarca prepara-se para anunciar um plano de rearmamento do seu exército, disse a primeira-ministra Mette Frederiksen ao parlamento esta terça-feira. “Precisamos de nos fortalecer enormemente para proteger a Dinamarca” “e para evitar a guerra”. Os jornais do país afirmam que, em princípio, a Dinamarca está disposta a financiar este esforço com 6,8 mil milhões de euros em 2025-26, cerca de 3% do PIB. Desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, o apoio militar dinamarquês à Ucrânia totalizou cerca de 7,2 mil milhões, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores dinamarquês.
Um pouco mais a sul, e após uma reunião em Ancara com Volodymyr Zelensky, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan disse esta terça-feira que a Turquia seria um “anfitrião ideal para as prováveis negociações entre Rússia, Ucrânia e Estados Unidos num futuro próximo”. E recordou iniciativas anteriores da Turquia, membro da NATO, que sediou duas vezes, em 2022, negociações entre Moscovo e Kiev que resultaram na troca de prisioneiros e na abertura do Mar Negro à exportação de cereais por parte da Ucrânia.
Ficou também a saber-se que o presidente ucraniano adiou uma viagem à Arábia Saudita, marcada para quarta-feira, e voltou a criticar o perímetro das negociações entre Rússia e EUA. A viagem foi adiada para 10 de março – e a sensação que fica, mas nada disso foi dito, é que Zelensky acalentava a possibilidade de ser convocado para o encontro entre as duas potências, o que não veio a acontecer.
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