Uma grande coligação entre os conservadores da CDU/CSU e os sociais-democratas do SPD é o cenário mais provável na Alemanha pós-eleições, acreditam diversos analistas.
Esta alianção do centrão – conhecida por Grosse Koalition – é normal na Alemanha, tendo acontecido mais recentemente durante a liderança de Angela Merkel.
Mas por não controlarem dois terços do Parlamento, o Bundestag, esta grande coligação vai ter de negociar com outros partidos alterações ao famoso travão da dívida, o schuldenbremse.
Com mais de 80% dos eleitores a dirigirem-se às urnas, a CDU/CSU venceu o escrutínio (28%), seguido da extrema-direita da AfD (21%), do SPD (16%), dos Verdes (12%), a Esquerda (9%), BSW (5%) e FDP (4%).
Os mercados já reagiram esta manhã. O euro atingiu um máximo de um mês: 1,0528 dólares.
Já a bolsa de Frankfurt (Dax) ganha menos de 1% na negociação esta segunda-feira, com a Rheinmetall a ganhar 4%, e a E.ON, Vonovia, Commerzbank e RWE a negociarem pertos dos 3%.
“Uma vez que o FDP e o BSW não conseguiram entrar no Bundestag, é de esperar que se forme uma coligação CDU/CSU-SPD (SPD = sociais democratas)”, segundo Christoph Berger da Allianz Global Investors (AllianzGI) que espera que Friedrich Merz seja o novo chanceler.
Mas uma reforma do travão da dívida exige uma maioria de dois terços no Bundestag, o que “significa que esta coligação teria de contar com o apoio da oposição ou utilizar outros meios, como “fundos especiais”, para fazer arrancar investimentos importantes para o futuro. Por conseguinte, agora vão ser necessários compromissos. Durante a campanha eleitoral, o atual presidente da CDU e possível novo chanceler, Friedrich Merz, fez campanha por um programa favorável às empresas, com impostos mais baixos, menos regulamentação e menos benefícios sociais. Contudo, é preciso também olhar para os objetivos do SPD. O seu programa eleitoral colocou especial ênfase na justiça social, no investimento na educação e na infraestrutura, bem como na redução dos custos energéticos. Os pontos em que as partes vão convergir são, por agora, pura especulação”, segundo o analista.
A Allianz GI considera que há várias áreas que vão beneficiar de uma grande coligação: como os investimentos em infraestrutura, o que pode beneficiar as empresas de construção, energia e infraestruturas.
A aposta nas energias renováveis é uma das bandeiras do SPD, e a CDU também apoia medidas para o sector. Já a modernização do sistema educativo e o investimento na digitalização são prioridades para ambos os partidos.
Por outro lado, aponta a Allianz GI, o SDP tem mais foco na justiça social, o que “pode levar a maiores despesas sociais e a uma maior regulação do mercado de trabalho. Este é um aspeto menos favorável ao mercado de capitais e resta saber até que ponto a CDU concordará com isto. E quando se trata de política externa, as sobreposições entre a CDU e os Verdes parecem ser maiores do que aquelas entre a CDU e o SPD”.
Para Ben Ritchie da Abrdn, o resultado torna a reforma do travão da dívida “improvável”, com os maiores partidos dependentes, com o Die Linke a ser uma possibilidade para um acordo. “Mas muito depende das negociações sobre a coligação e se Merz vai ser capaz de inovar em políticas que conduzam a reformas pró-negócio e estabelecer financiamento para apoiar gastos da defesa, apoio à Ucrânia e política energética”.
Já os analistas do XTB apontam que “ tudo aponta para uma coligação entre a CDU e o SPD“, pois Friedrich Merz exclui a possibilidade de cooperar com o AfD. “A coligação entre a CDU e o SPD – parece ser a alternativa mais viável, pelo menos a curto prazo, e, provavelmente, positivo tanto para o euro como para o DAX, o principal índice bolsista alemão”.
Analisando o cenário pos-eleições, Ricardo Evangelista do ActivTrades sublinha que os “mercados financeiros receberam os resultados das eleições alemãs com um otimismo moderado. O desfecho esteve em linha com as projeções, sem surpresas — um primeiro sinal positivo para os investidores que valorizam a previsibilidade. Outro fator encorajador é a composição final do Bundestag, que permite às duas forças centristas, CDU e SPD, formar uma coligação maioritária, evitando uma negociação tripartida que tenderia a ser mais complexa e demorada”.
O analista considera que “há também motivos de preocupação”, pois aumentar o teto da dívida alemã exige dois terços de maioria no Parlamento e este é um “passo crucial para financiar o reforço dos investimentos em defesa e infraestruturas”.
“Isso significa que será necessário negociar o apoio dos partidos da extrema-esquerda ou da extrema-direita, sendo que ambos já se mostraram estar em desacordo com tais medidas, o que antecipa um processo de negociação desafiante. Neste contexto, os investidores reagiram aos resultados eleitorais com algum alívio e até um ligeiro otimismo. O índice alemão DAX abriu em alta, assim como o Euro Stoxx, que reúne empresas europeias. Entretanto, o euro valorizou face ao dólar, e os juros dos Bunds alemães caíram devido ao aumento da procura, especialmente nos títulos de longo prazo”, segundo o CEO da ActivTrades Europa.
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