O Grupo Parlamentar do PCP entregou hoje na Assembleia da República um projeto de resolução “em defesa da plena soberania nacional em matérias de política fiscal”. Ou mais concretamente, recomendando ao Governo que “adote as diligências necessárias, junto das instituições da União Europeia (UE), ao reconhecimento de que as matérias de política fiscal são uma competência soberana e exclusiva dos Estadosmembros, rejeitando uma qualquer alienação desta competência soberana para as instituições supranacionais da UE promovendo a revogação de normas dos tratados da UE que disponham em sentido contrário”.
“Os impostos têm como objetivo central o financiamento do Orçamento do Estado e das escolhas políticas, económicas e sociais, desempenhando ainda uma importante função redistributiva visando garantir uma repartição mais justa e equitativa da riqueza nacional”, começam por salientar os deputados comunistas, na fundamentação do projeto de resolução. “A capacidade de criar, alterar ou extinguir impostos e de determinar a sua natureza, âmbito e limites é um elemento central da soberania de um Estado. Abdicar, mesmo que parcialmente, desta capacidade, transferindo-a para entidades supranacionais, compromete a soberania do Estado, limitando as suas escolhas, designadamente no que diz respeito ao exercício das suas funções, incluindo as funções sociais, e à definição de políticas de repartição de riqueza”.
“No âmbito do processo de integração capitalista da UE, moldado aos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, importantes competências soberanas dos Estados-membros foram sendo paulatinamente ‘transferidas’ para instituições da UE”, prosseguem. “As competências em matéria fiscal não escaparam a este processo de concentração do poder político e económico nas instituições supranacionais da UE, determinado e em função dos interesses das suas grandes potências. Com o alegado objetivo de garantir o bom funcionamento do mercado único, a UE assumiu competências, embora limitadas, em matérias de tributação indireta”.
“Entende o PCP que o princípio da unanimidade não deve ser posto em causa. Este princípio, que coloca os Estados em pé de igualdade no processo decisório, constitui um instrumento imprescindível de defesa dos interesses nacionais, contra a imposição supranacional de orientações e decisões contrárias a esses interesses. Passar da aprovação por unanimidade para maioria qualificada é passar de uma situação em que o voto de um país tem a capacidade de salvaguardar a sua soberania, para uma situação em que passam outros a determinar as opções quanto às suas políticas. É passar de uma situação em que cada país vale o mesmo no processo de decisão para um cenário em que o voto de alguns dos países maiores vale mais do que o voto de outros países mais pequenos. Ou seja, o fim do princípio da unanimidade apenas reforçará o poder das principiais potências, com destaque para a Alemanha, acentuando assim a desigualdade entre os Estados-membros já hoje existente em termos de poder decisório na UE”, defendem.
“Depois de perder a sua soberania monetária e cambial, com o euro, depois de ver fortemente limitada a soberania orçamental, com a panóplia de regras e de constrangimentos associados ao Pacto de Estabilidade e Crescimento e ao Tratado Orçamental, depois de perder o poder de controlo e de supervisão do respetivo sistema bancário, com a União Bancária, pretende-se agora usurpar a Portugal a soberania no plano fiscal, limitando ou privando o Estado de capacidade de intervenção ao nível do investimento público, da redistribuição da riqueza e da prestação pública de serviços e bens de qualidade”, alertam os deputados do PCP.
E concluem: “Portugal não só não deve alienar novas parcelas de soberania, como deve recuperar aquelas que foram alienadas no passado, em particular aquelas respeitantes a matérias fiscais”.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com