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Espanha recua na compra de balas a Israel que abriu crise na coligação no Governo

Fontes oficiais do Governo espanhol, uma coligação formada pelo Partido Socialista (PSOE) e a plataforma de esquerda Somar, disseram à agência Lusa que o contrato com uma empresa israelita para comprar munições, no valor de 6,6 milhões de euros, vai ser rescindido “de forma unilateral”.
2 – Espanha
24 Abril 2025, 14h39

O Governo espanhol vai anular a compra de 15,3 milhões de balas a Israel, que provocou uma crise na coligação que governa Espanha, garantiu hoje o executivo.

Fontes oficiais do Governo espanhol, uma coligação formada pelo Partido Socialista (PSOE) e a plataforma de esquerda Somar, disseram à agência Lusa que o contrato com uma empresa israelita para comprar munições, no valor de 6,6 milhões de euros, vai ser rescindido “de forma unilateral”.

Segundo as mesmas fontes, esta decisão foi tomada pelo chefe do Governo, o socialista Pedro Sánchez, e pela vice-presidente Yolanda Díaz, do Somar, assim como pelos ministérios envolvidos.

“Os partidos do Governo de coligação progressista estão firmemente comprometidos com a causa da Palestina e a paz no Médio Oriente. Por isso, Espanha não compra nem vende armamento a empresas israelitas desde 07 de outubro de 2023”, disseram as mesmas fontes, numa referência ao ataque a Israel do grupo islamita palestiniano Hamas, que desencadeou uma resposta militar de Telavive e a guerra no território palestiniano de Gaza, onde já morreram mais de 50 mil pessoas.

O Governo espanhol garantiu que “os processos de compra que continuam abertos” com empresas israelitas foram iniciados antes de 07 de outubro de 2023 e todos os que estiverem relacionados com armamento “não se vão executar”.

A notícia de que Espanha avançou com a compra de 15,3 milhões de balas a uma empresa de Israel abriu, na quarta-feira, “a maior crise” da legislatura no Governo de Pedro Sánchez, segundo um dos partidos da plataforma Somar.

“A Esquerda Unida não vai tolerar que nenhuma verba financie um Estado genocida. Não é suficiente pedir explicações. (…) O PSOE abriu a maior crise desde que formámos o Governo em 2023”, disse o líder da Esquerda Unida (IU, na sigla em espanhola), Antonio Maíllo.

O líder parlamentar da IU, Enrique Santiago, admitiu mesmo a possibilidade de o Somar sair total ou parcialmente do Governo e defendeu a demissão de dois ministros socialistas, a da Defesa, Margarita Robles, e o da Administração Interna, Fernando Grande-Marlaska, que autorizou o contrato de compra de balas a Israel, destinadas a serem usadas pela força policial Guarda Civil.

O Somar tem cinco ministros no Governo liderado pelo socialista Pedro Sánchez. A IU, em concreto, tem uma ministra, Sira Rego, que tem a pasta da Juventude e Infância e é filha de pai palestiniano.

A dirigente do Somar com maior protagonismo e peso no Governo é Yolanda Díaz, ministra do Trabalho e uma das vice-presidentes de Pedro Sánchez, que na quarta-feira não falou em crise na coligação ou na possibilidade de abandonar o cargo, mas considerou estar em causa uma “violação flagrante dos acordos” assumidos no seio do Governo e pediu explicações ao colega da Administração Interna, assim como um recuo na compra das balas a Israel.

O Ministério da Administração Interna confirmou na quarta-feira que tinha avançado com a aquisição de 15,3 milhões de balas a uma empresa de Israel, apesar do embargo de compra de armas a este país anunciado pelo Governo espanhol e de em outubro de 2024 o executivo ter garantido que ia cancelar este contrato em concreto, depois de ter sido noticiado que a Guarda Civil tinha adjudicado a aquisição a uma empresa israelita.

O ministério justificou que tinha seguido um parecer da Advocacia Geral do Estado, que recomendou que não fosse rescindido o contrato atendendo ao custo que teria por causa da “fase adiantada” de operacionalização em que já estava.

A adjudicação final do contrato foi publicada oficialmente na sexta-feira passada, feriado nacional.

O Governo espanhol reconheceu o Estado da Palestina em maio do ano passado e Pedro Sánchez tem sido dos líderes europeus mais contundentes no apoio aos palestinianos e na condenação de Israel por causa da guerra em Gaza, provocando críticas por parte do executivo israelita e tensões diplomáticas entre os dois países.

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