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Economia circular: “Expectativas dos investidores são elevadas”, diz diretor da EY-Parthenon

“Precisamos de ser muitos mais consequentes no futuro para ir ao encontro dessas expetativas”, alertou o mesmo responsável, que foi convidado pelo Jornal Económico (JE) a traçar o estado da circularidade na conferência “O Futuro é Circular”. 
6 Maio 2025, 13h32

A circularidade tem vindo a representar um peso crescente na estratégia das organizações, constituindo-se hoje como um “imperativo”, defende Hermano Rodrigues, diretor strategy and execution da EY-Parthenon, chamando a atenção para as “elevadas expectativas dos investidores e dos parceiros” em relação à economia circular.

“Precisamos de ser muitos mais consequentes no futuro para ir ao encontro dessas expetativas”, alertou o mesmo responsável, que foi convidado pelo Jornal Económico (JE) a traçar o estado da circularidade na conferência “O Futuro é Circular”.

De acordo com Hermano Rodrigues, “as exigências dos clientes” por produtos deste universo são cada vez maiores, o que pede às empresas que acompanhem a mudança.

Para o dirigente da EY-Parthenon, o braço de consultoria estratégia da EY, a economia circular assume um papel de relevo para a resiliência das cadeias de valor. “Precisa de aumentar e a circularidade é um caminho para esse efeito”.

Intervindo imediatamente a seguir a Duarte Cordeiro, antigo ministro do Ambiente, Hermano Rodrigues listou quatro imperativos neste tema: ambiental, económico, social e regulamentar.

Sobre o económico, Hermano alertou para os “desequilíbrios significativos entre a oferta e a procura e entre aquilo que os clientes querem e que, na verdade, têm”. “Há benefícios inexplorados de redução de resíduos, de remanufatura, entre outros princípios que estão subjacentes à economia circular”. Passando ao imperativo social, o mesmo responsável apontou para uma clara “mudança de preferência dos consumidores em relação à adoção da sustentabilidade. “Há os efeitos sobre a biodiversidade que decorrem de uma extração muito significativa de recursos naturais não renováveis”.

Por fim, quanto ao imperativo regulamentar, “um dos eixos importantes em matéria de circularidade”, para o próprio, “uma parte do avanço depende de mudanças significativas e de um certo endurecimento em matéria regulamentar numa base de razoabilidade”.

No campo da circularidade, “não há um caminho”: “há vários, e é muito importante conseguir conciliá-los e encontrar a melhor relação custo-benefício”, afirmou.

Circularidade em Portugal e na Europa

Os dados mostram que Portugal está “mal posicionado no contexto europeu” no que diz respeito à pegada material diz Hermano Rodrigues. Olhando para a taxa de utilização circular de materiais, o cenário é mais preocupante.

De acordo com uma análise da EY-Parthenon baseada em números do Eurostat, Portugal tinha uma pegada material de 16,5 toneladas per capita em 2023, acima da média europeia de 14,2. A Dinamarca lidera a lista, com 21,9 toneladas, que é rematada pelos Países Baixos, com seis toneladas.

“Isto dependente de um conjunto variável de aspetos. Um deles, muito importante, tem a ver com o padrão de especialização da economia portuguesa e o tipo de coisas que nós produzimos. O conceito de valor acrescentado é um conceito muito importante. A pegada é um rácio entre o que consumimos de recursos materiais e o PIB. O PIB temos de entender que é uma média agregada de valor acrescentado bruto, que é uma medida influenciada por duas coisas muito importantes: a produtividade-custo, a eficiência que está associada na utilização de recursos, mas também a produtividade-valor.

Quanto ao indicador que mede a utilização circular de materiais, Portugal está “mesmo muito mal posicionado”, com uma taxa de 2,8%, alertou, significativamente abaixo dos 11,8% de média da comunidade dos 27. Nesse mesmo indicador, a Dinamarca atingiu uma taxa de 9,1%, os Países Baixos 30,6%, Espanha 8,5% e Itália 20,8%.

“Há países que, claramente, são bem-sucedidos neste valor, porque o que produzem são produtos, bens e serviços de elevadíssimo valor acrescentado. Vendem muito em valor, mas muito pouco em quantidade”, explica o mesmo responsável da EY-Parthenon. Perante esta relação, a pegada material “é menor”, sublinha.

Portugal seguramente uma progressão muito interessante se mudar o seu perfil de especialização económica e, mesmo com o perfil atual, conseguir valorizar cada vez mais os seus bens.

Juntando à análise a indústria portuguesa de calçado, que é representado por 1.500 empresas e chega a 172 países, Hermano indica que Portugal “é um grande exportador de calçado em valor mas não em volume”.

Quanto ao investimento privado nos setores da economia circular, “está abaixo da média europeia, mas não é um indicador onde estejamos muito mal posicionados”. “Em matéria de patentes, também estamos relativamente bem posicionados”.

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