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Como se desenvolve uma fragrância? Perfumista da Moellhausen junta-se à Água da Madeira para revelar os segredos

A marca madeirense de fragrâncias Água da Madeira juntou-se à perfumista da Moellhausen, Mariaceleste Lombardo, para desenvolver duas fragrâncias exclusivas que será inspiradas nos cheiros do arquipélago. Em entrevista ao JE, Mariaceleste Lombardo descreve o processo criativo por detrás do desenvolvimento de uma fragrância e que inspiração podem ter as novas fragrâncias que serão desenvolvidas para a marca madeirense.
Myriam Wattiez (Água da Madeira) junta-se a Mariaceleste Lombardo (perfumista da Moellhausen) para desenvolver fragrâncias exclusivas baseadas na Região Autónoma
Myriam Wattiez (Água da Madeira) junta-se a Mariaceleste Lombardo (perfumista da Moellhausen) para desenvolver fragrâncias exclusivas baseadas na Região Autónoma
17 Junho 2025, 07h00

Como se desenvolve uma fragrância? A perfumista italiana da Moellhausen, Mariaceleste Lombardo, esteve de visita à Madeira, onde explicou ao Jornal Económico (JE) todo o processo criativo por detrás desta arte.

Esta arte é bastante preciosa, tendo em conta que a perfumista se juntou à marca madeirense de fragrâncias Água da Madeira, com sede em Câmara de Lobos, através da sua criadora, Myriam Wattiez, para a criação de duas novas fragrâncias exclusivas, que terão como inspiração principal os cheiros da Região Autónoma da Madeira, em concreto a flora endémica da ilha.

Atualmente, a Água da Madeira tem na sua linha de produtos Eau de Parfum, sabonete, gel de banho, vela perfumada e ambientador, todos fabricados em Portugal e baseados na mesma fragrância. Este ano, deverá adicionar creme de mãos e creme de corpo.

“O processo criativo é uma arte complexa. Combina química, sensibilidade olfativa e criatividade. O sentido do cheiro é, talvez, o mais imaterial dos sentidos. Dar forma e substância a um perfume é uma emoção. É algo difícil. Representa um desafio cada vez que o fazemos. Traduzir uma ideia abstrata, uma emoção, num perfume é sempre um processo técnico e artístico”, começa por descrever Mariaceleste Lombardo.

A perfumista da Moellhausen sublinha que a empresa dispõe de mais de três mil materiais para procurar inspiração no desenvolvimento das suas fragrâncias, um processo que é crucial para a criação das duas novas fragrâncias para a Água da Madeira.

Face a esta abundância de materiais, Mariaceleste Lombardo destaca a importância de o perfumista conhecer as propriedades físicas e químicas dos ingredientes. “Com esta quantidade de materiais, todos os dias treinamos a nossa memória olfativa, que é uma espécie de base de dados. Cada perfumista costuma ter uma inclinação natural para certos ingredientes, influenciada pela nossa cultura e as nossas origens. Somos todos diferentes. A memória olfativa é um dos mais preciosos ativos que possuímos. A riqueza da nossa memória olfativa é como uma espécie de indicador da criatividade de um perfumista”, considera a perfumista italiana.

Durante a sua visita à Madeira, a perfumista visitou vários locais e tomou contacto com a flora que pode servir de inspiração para o desenvolvimento das duas fragrâncias para a Água da Madeira.

No meio de tanta flora, algumas marcaram Mariaceleste Lombardo. Uma delas foram as mimosas.

“Eu conheço a mimosa; temos em Itália e em França, onde também fiz a escola de perfumaria”, recorda Mariaceleste Lombardo. “Esta ilha [Madeira] deu-me uma nova interpretação e visão da planta. É mais intensa e tem uma cor diferente. É muito mais amarelo, com sombras acinzentadas. É algo novo para mim”, descreve a perfumista italiana.

Entre a flora vista por Mariaceleste Lombardo, estiveram ainda os lírios das árvores do vale e os eucaliptos.

“Para mim, a ilha foi uma surpresa. É cheia de contrastes, em termos de temperatura, mar e cores. Recolhi vários elementos-chave que quero traduzir nas fragrâncias e nas notas olfativas”, revela a perfumista da Moellhausen.

Mariaceleste Lombardo refere que as novas fragrâncias da Água da Madeira podem passar por algo “verde e aromático”, tendo em conta a “natureza húmida, mas muito rica” que encontrou na Madeira.

“Gostaria de jogar com algo vegetal, natural, com notas verdes, e depois com algo floral, algo mais exótico, como, por exemplo, as orquídeas, que também são populares na Madeira. E adicionar algo tropical, com notas frutais, e incluir a parte floral. Também gostaria de incluir o oceano e a lava vulcânica. Quero adicionar notas minerais, algo refrescante e energético, a faceta do outdoor. E também o sentimento acolhedor que senti quando cheguei à Madeira. As pessoas sabem receber. Posso traduzir isso em algo balsâmico, como, por exemplo, a baunilha”, descreve Mariaceleste Lombardo.

Mas o processo criativo não é assim tão simples como se possa imaginar, algo que se torna ainda mais complexo de descrever quando se pretende traduzir sentimentos em fragrâncias, como descreve a perfumista.

“Traduzir algo que não tem cheiro é algo difícil de explicar. É a nossa interpretação e a nossa personalidade, a nossa cultura e origens. […] Se eu voltar uma segunda vez à Madeira, talvez tenha uma nova inspiração. Cada momento pode ser diferente, porque somos diferentes todos os dias. E cheiramos de uma maneira diferente a cada dia. Tem a ver com os nossos sentimentos”, refere Mariaceleste Lombardo.

Mas Mariaceleste Lombardo afirma que, para a Água da Madeira, quer usar ingredientes que não sejam convencionais e que tragam algo inovador.

“Gostaria de ter algo que não seja tão fácil de amar e que também não seja de muito nicho. Algo pelo meio. Acho que é a melhor maneira de começar”, considera a perfumista.

“Penso que nas novas fragrâncias que estamos a desenvolver vamos colocar as nossas ideias, a nossa personalidade [Moellhausen] e a personalidade dela [criadora da Água da Madeira, Myriam Wattiez]. Vamos tentar colecionar emoções olfativas que traduzam, de alguma forma, a Madeira. Vamos colocar nas fragrâncias algo que marque a nossa passagem pela ilha. Será uma experiência real do que fizemos na ilha”, diz Mariaceleste Lombardo.

E, no entender de Mariaceleste Lombardo, a Madeira possui coisas em comum com a Sicília, origem da perfumista, o que tornará o projeto especial.

“A Madeira tem muitas coisas em comum com a Sicília, como, por exemplo, a hospitalidade das pessoas”, salienta Mariaceleste Lombardo. A perfumista diz ainda que o desenvolvimento das fragrâncias para a Água da Madeira trará também à tona as suas origens sicilianas, tendo em conta as semelhanças que encontra entre a região italiana e a Madeira.

“Será um projeto especial para mim”, diz a perfumista da Moellhausen.

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