Friedrich Merz, o novo chanceler alemão, pernoitou esta noite na Blair House, a residência oficial dos hóspedes do governo dos Estados Unidos, e encontrará esta quinta-feira o ocupante da Casa Branca, para um encontro que se adivinha tenso com Donald Trump. No sofá ao lado estará com certeza sentado o vice-presidente, JD Vance, que, da última vez que esteve na Alemanha (que se saiba), foi para incentivar e dar força ao partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que é agora o líder da oposição ao próprio Merz. O chanceler decidiu, desde que foi eleito, ser uma das vozes menos simpáticas da União Europeia (e da Europa) em relação a Donald Trump – a quem chegou a aconselhar a manter-se longe do quadro político germânico – não apenas nas questões das tarifas, mas principalmente no que diz respeito à forma como o presidente norte-americano gere a NATO.
A poucos dias do encontro geral anual da NATO nos Países Baixos – país que, entretanto, ficou com um governo a cumprir serviços mínimos – o tema da aliança, que chegou a ser comum, mas que agora suscita dúvidas (que Merz já referiu), não deve deixar de estar em cima da mesa. A reunião da manhã, o almoço e, finalmente, uma conferência de imprensa ajudarão a saber se as armas para a Ucrânia e as tarifas de Trump fizeram ou não parte das conversas. Para todos os efeitos, e segundo a imprensa germânica, a equipa de Merz espera que tudo corra bem, mas também se preparou para os piores cenários.
Um desses cenários pode vir exatamente da questão ucraniana. Trump nunca se mostrou muito empenhado em olhar para o lado da Ucrânia – exceto no que diz respeito ao seu subsolo – mas Merz foi um dos protagonistas de uma abordagem mais desapiedada sobre a guerra, ao recordar que as armas fornecidas pela Europa podem ser usadas contra alvos inimigos dentro das fronteiras russas. Não foi, com certeza, uma recomendação da Casa Branca.
Merz e Trump falaram ao telefone várias vezes nas últimas semanas – uma vez a sós e três vezes num grupo maior com vários outros chefes de Estado europeus para discutir o fim da guerra da Rússia na Ucrânia – mas é a primeira vez que se encontram. O facto de Merz estar à frente da maior economia europeia pode ‘refrear’ os ímpetos pouco civilizados de Trump (e de JD Vance), mas convém recordar que o presidente norte-americano nunca mostrou grande preocupação em ser simpático para com a antiga chanceler Angela Merkel (que também era alemã). Até porque o chanceler se envolveu em esforços diplomáticos para garantir um cessar-fogo na Ucrânia e manter intacto o apoio ocidental ao país: recebeu em Berlim o presidente Volodymyr Zelenskyy – como que dizendo que acredita muito pouco nos encontros que russos e ucranianos vão mantendo, espaçadamente, em Istambul.
De qualquer modo, e voltando à imprensa germânica, a Alemanha tem um grande interesse em desanuviar as tensões comerciais entre a União e os Estados Unidos. E Merz, ou o seu partido, diz-se capaz disso. Entre outras razões, porque a indústria automóvel alemã continua a ter nos Estados Unidos um mercado muito apetecível. O problema é que, querendo Trump destruir a União Europeia – e tudo indica que quer mesmo – o melhor é começar pelos que são mais poderosos. Ora bem: neste momento não há na União ninguém mais poderoso que Friedrich Merz.
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