Depois da crise energética provocada pela invasão russa da Ucrânia, uma nova crise paira sobre as famílias e as empresas do Velho Continente. Os preços grossistas da eletricidade no mercado ibérico dispararam mais de 90% em apenas dois dias. A pressão sobre os preços está relacionada com o conflito Irão-Israel e seu impacto nos preços do petróleo e do gás natural.
Para esta quarta-feira, os preços médios diários para Portugal superam os 106 euros/MWh no mercado ibérico Mibel, semelhante ao que se verifica em Espanha, representando uma subida de mais de 90% em apenas dois dias. Portugal conta com 149 GWh de energia negociada, enquanto Espanha contabiliza 493 GWh.
O preço máximo para Portugal atinge os 194 euros, especialmente nas horas de ponta ao final do dia, entre as 21h e as 23h. O preço mínimo, por outro lado, é de 40 euros nas horas em que o sol mais brilha, entre as 12h e as 17h, quando a energia solar injeta mais eletricidade na rede.
Portugal negociou 150 GWh, enquanto Espanha negociou 487 GWh, com o volume económico da energia a superar os 13 milhões de euros para Portugal e os 41 milhões para o país vizinho.
“Temos esta história de Israel e do Irão. Os preços do petróleo subiram e os do gás também. Os preços do petróleo e do gás estão mais ou menos sintonizados: quando o petróleo sobe, o gás também sobe. E o gás tem estado a fechar o mercado ibérico, é natural que os preços disparem”, explicou António Sá da Costa, especialista em energia.
Um dos receios dos mercados é que a tensão entre Israel e o Irão possa provocar um conflito mais alargado no Médio Oriente levando ao encerramento do estreito de Ormuz – por onde passa 20% dos fluxos globais de petróleo – ou ao envolvimento de outros países que sejam grandes produtores de petróleo. Wall Street já avisou que os preços do petróleo podem disparar até 75% para 130 dólares por barril nos cenários mais extremos.
Os preços no mercado grossista não têm um impacto instantâneo na fatura das famílias, pois são contratados com preços fixos durante um ano. No entanto, se os preços se mantiverem altos, os novos tarifários começarão a refletir este aumento de custos. O cenário é diferente nas tarifas indexadas, que reagem imediatamente.
Os preços para Portugal dispararam mais de 71% entre segunda e terça-feira no mercado ibérico Mibel. Na segunda-feira, o preço médio para Portugal atingiu os 55,71 euros/MWh, enquanto os preços em Espanha estavam nos 52,36 euros/MWh. Para a Ibéria, foi negociado um total de 656 GWh, com 146 GWh para Portugal e 510 GWh para Espanha, e o volume económico atingiu 8,2 milhões para Portugal e 24 milhões para Espanha.
Na terça-feira, o preço médio para Portugal foi de 95 euros/MWh, com Espanha a registar 94 euros. Portugal negociou 150 GWh, enquanto Espanha negociou 487 GWh, com o volume económico da energia a superar os 13 milhões para Portugal e 41 milhões para o país vizinho.
Em junho, a produção de energia eólica lidera em Portugal, com 448 GWh (+2%), seguida da energia solar, com 369 GWh (+35%), e da hídrica, com 347 GWh (-16%). A produção a partir de gás natural disparou mais de 300% para 346 GWh, seguida pela produção por bombagem, com 253 GWh (+34%).
As importações afundaram mais de 21% em comparação com o período homólogo, enquanto as exportações subiram 15%, segundo dados da REN.
Como estavam os preços há um ano? A 18 de junho de 2024, o preço médio para Portugal estava nos 57 euros/MWh, com 146 GWh negociados. Já a 17 de junho de 2024, os preços médios para Portugal superavam os 32 euros/MWh, com 140 GWh negociados.
Os preços do gás subiam quase 5% na tarde de terça-feira no índice referência para o mercado europeu, o TTF, nos contratos para entrega em julho, para quase 40 euros/MWh. Nos contratos para entrega em agosto, o cenário era semelhante: quase 5% para quase 40 euros/MWh.
Os preços do Brent também subiam na terça-feira: mais de 4% para mais de 76 dólares.
Questionado se o calor também impacta os preços, o especialista afirmou que sim, mas considerou que é um efeito mais limitado face aos preços do gás natural. “O preço do gás subiu e o gás natural está a fechar o mercado. Com o calor, ligamos mais o ar condicionado, aumentamos o consumo e isso eleva o preço, mas a subida é relativamente pouco face ao aumento do gás natural”.
António Sá da Costa fez uma comparação com os postos de combustível: “Isto é como no preço da gasolina: na bomba, sobe mais depressa quando o petróleo sobe, mas desce mais devagar quando o petróleo desce. Quando sobe, tenho de repor com petróleo mais caro, e quem se prejudica é o vendedor. Quando desce, ganho dinheiro. Na eletricidade com o gás, o efeito é o mesmo. Já as renováveis estão indiferentes ao preço do petróleo”.
Recorde-se que Portugal continua a limitar as importações de Espanha até ao dia 20 de junho. Entre as 10h00 e as 11h00 e as 20h00 e as 21h00, as importações estão limitadas a 2.500 MW. Nos períodos entre as 11h00 e as 20h00, estão limitadas a 3.000 MW. Não existem limitações nos restantes períodos do dia. A REN continua assim a manter em vigor as restrições que tiveram início após o apagão por razões de segurança.
Sobre os bloqueios às importações, Sá da Costa afirmou: “Se não vem eletricidade de Espanha mais barata e tem de vir de cá, mais cara, o preço sobe. Querem independência, mas eu prefiro preços mais baratos”.
Na segunda-feira, o consumo de eletricidade em Portugal atingiu os 143 GWh, com a produção renovável a atingir os 70 GWh (com destaque para a solar, com 27 GWh), enquanto a produção a gás atingiu os 23 GWh, seguida da produção por bombagem com 22 GWh.
“Não podemos ter sol na eira e chuva no nabal, como alguns pensam. Temos preços baratos se estivermos ligados aos espanhóis; se formos mais independentes, os preços são mais caros. E os consumidores querem preços baratos”, afirmou Sá da Costa, referindo-se aos comentadores que defendem uma maior independência energética de Portugal face a Espanha.
No final da semana passada, os preços médios estiveram mais baixos. Na sexta-feira, os preços médios atingiram os 72 euros/MWh em Portugal, num dia com 143 GWh de consumo. Um dia antes, os preços foram de 65 euros/MWh, com o consumo a atingir os 145 GWh.
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