Após o frenesim especulativo vivido durante a pandemia, o mercado da arte contemporânea começa a dar sinais de esgotamento. Quem o diz é a Hiscox, no seu Relatório de Arte Contemporânea 2025 (HAT 100).
A companhia de seguros internacional especializada em seguros de arte e grandes patrimónios, que analisa as tendências da arte contemporânea a partir das vendas em leilões, diz que em 2024 as vendas de obras criadas após o ano 2000 caíram 27%, acumulando uma quebra de 41% desde 2021.
“A queda é particularmente acentuada no segmento das obras de alto valor, ou seja, naquelas que ultrapassam um milhão de dólares – e que representavam 43% das vendas de arte pós-2000 – e que registaram uma descida de 41% em valor e de 31% no número de lotes vendidos”, diz a Hiscox.
No entanto, esta tendência não parece dever-se a uma falta de interesse pela arte contemporânea, mas sim ao contexto económico atual, marcado pela inflação e pela subida das taxas de juro, entre outros fatores, explica.
“O segmento acessível ganha protagonismo pesar da retração no segmento de alto valor, a arte mais acessível voltou a ganhar terreno”, defende a seguradora.
Pelo segundo ano consecutivo, o mercado de obras abaixo dos 50.000 dólares revela uma forte vitalidade: foram vendidos 4.684 lotes neste intervalo de preços, mais 20% do que em 2023 (ano que já tinha registado um crescimento de 25% face ao anterior).
Neste segmento, o valor total das vendas também aumentou 5%, atingindo os 59 milhões de dólares. Segundo o relatório, alguns dos artistas que mais se destacaram no mercado neste intervalo de preços foram Damien Hirst, Therry Noir, Yoshitomo Nara, Atajo Rokkaku e Julian Opie.
O Relatório de Arte Contemporânea 2025 da Hiscox (Hiscox HAT 100 2025) é o resultado de uma investigação realizada pela Hiscox e pela ArtTactic. A análise deste relatório baseia-se em obras de arte originais (gravuras não incluídas) criadas após o ano 2000, que foram oferecidas em leilões na Christie’s, Sotheby’s e Phillips em Nova Iorque, Londres, Hong Kong e Paris entre 2018 e 2024. A investigação inclui mais de 36.800 lotes de mais de 5.000 artistas.
Artistas jovens em queda: vendas diminuem 49%
Embora o mercado dos artistas com menos de 45 anos tenha sido um dos segmentos mais ativos nos últimos anos, o relatório revela que, em 2024, o valor das vendas caiu 49%, em comparação com o ano anterior. Além disso, o número de lotes vendidos também diminuiu 7%, segundo o relatório.
Ainda de acordo com o relatório, pouco mais de um terço (35%) dos artistas no mercado de leilões de arte contemporânea tinham menos de 45 anos, representando uma descida face aos dois anos anteriores. No entanto, a proporção de artistas jovens nos leilões continua a ser superior à verificada antes da pandemia. No que diz respeito ao top 100, também se registou uma diminuição na proporção de artistas jovens, que passou de 27% em 2023 para 18% em 2024.
A desaceleração não afeta apenas a arte contemporânea, diz a Hiscox. As vendas de obras de artistas do pós-guerra (1910-1929) caíram 20%; as de artistas contemporâneos nascidos entre 1930 e 1978, 26%; e os grandes nomes da arte moderna e impressionista registaram quedas semelhantes: os impressionistas, 29%, e os mestres antigos, 49%.
O estudo diz que a Geração Z, grupo de pessoas nascidas entre meados da década de 1990 e o início da década de 2010, mais especificamente, de 1997 a 2012, ganha destaque no mercado da arte contemporânea.
Os colecionadores mais jovens estão a entrar no mercado e mostram uma preferência pelas obras de artistas da sua geração. “Assim, segundo o Inquérito Art Basel e UBS sobre colecionismo mundial em 2024, citado no relatório da Hiscox, os grandes patrimónios da Geração Z investiram 55% do seu capital na compra de obras de artistas novos e emergentes.”, revela a seguradora.
Marta Rezende, Underwriter Art and Private Clients, defende que “o mercado da arte está a passar por uma grande evolução. Embora o relatório deste ano nos mostre uma descida no segmento da arte contemporânea, também reflete uma tendência de queda nos restantes segmentos, como o dos grandes mestres clássicos, que caiu 49%. Contudo, é importante destacar que esta queda representa apenas o fim de um crescimento insustentável impulsionado pela pandemia, que disparou as vendas, e que os atuais fatores macroeconómicos, como a inflação, as taxas de juro e a incerteza económica, travaram essa especulação, levando os colecionadores a optar por investimentos mais seguros”.
“Assim, hoje assistimos ao crescimento de grandes tendências, como a preferência por obras de menor valor ou pela contribuição da mulher no mundo da arte. Longe de desaparecer, a arte contemporânea está a encontrar novas vias de crescimento na acessibilidade, diversidade e renovação geracional”, declara.
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