Paulo Portas considera que a Europa demorou a aperceber-se a importância da segurança alimentar e energética, um facto exacerbado pela invasão russa da Ucrânia. O Velho Continente enfrenta agora um paradigma global mais desfavorável com a erosão do atual modelo “de alianças” e a substituição por outro “de potências”, mas questões como a melhoria da produtividade ajudarão a manter a importância do bloco.
No sétimo colóquio promovido pela Lusomorango, centrado à volta do tema ‘Nutrir o Futuro’ e com parceria do Jornal Económico, o antigo ministro classificou o atual momento na geopolítica global como “de transição”, o que cria maior incerteza para todos os agentes. Em Odemira, Paulo Portas sublinhou os desafios que se impõem atualmente ao bloco europeu, a começar por esta alteração de fundo na ordem mundial.
“A Europa precisou da guerra da Ucrânia para perceber que energia e alimentação são categorias geopolíticas”, começou por dizer, pelo que a sua postura a partir de então “não pode ser mais ‘business as usual’”.
O bloco europeu tem de se focar na recuperação da sua produtividade e competitividade, optando por investir em inovação, mas garantindo esta segurança alimentar e energética, argumentou. Neste capítulo, o antigo ministro pediu um foco nas soluções apresentadas no ano passado no relatório elaborado por Mario Draghi.
Um dos principais problemas prende-se com a demografia – e, apesar da importância da imigração não poder ser menosprezada, a chegada de migrantes não será, por si só, solução.
“Se vos disserem que a imigração resolve isto, não estão a dizer a verdade; se disserem que podemos resolver isto sem imigração, estão a mentir”, resumiu, antes de alertar para as dificuldades em sectores como a restauração, construção civil, entregas se não houvesse “imigração regulada”.
Por outro lado, o mundo encontra-se assim num momento “de substituição de um modelo de alianças por um de potências”, com três países a emergirem: EUA, China e Rússia, apesar de os russos não serem “top-10 em nada senão ogivas nucleares”.
“Trata-se de uma promoção absolutamente inesperada e imerecida da Rússia a superpotência”, prosseguiu, lembrando que, “ao contrário da China, a Rússia não diversificou a sua economia em nada”.
Olhando para Pequim, o antigo ministro considera que os ataques norte-americanos e israelitas ao Irão, o principal vendedor de energia à China, criaram nos representantes chineses a ideia de “que não se pode ser um ator internacional de primeira categoria e não ter política de segurança externa”. Dados os riscos naquela zona do planeta e o envolvimento crescente da China no Médio Oriente, Portas projeta que a liderança chinesa “vai começar a construir bases militares fora do seu território”.
Oficialmente, a China tem apenas uma base militar fora do seu território, no Djibouti, mas há fortes indícios de que pelo menos outras duas, uma no Camboja e outra no Tajiquistão, sejam controladas e operadas pelo regime chinês. A título de comparação, os EUA têm bases em 35 países e a Rússia em 9.
Ainda assim, Pequim foi capaz de travar a escalada tarifária começada por Trump com uma “discreta retaliação”: os controlos de exportação em terras raras cujo stock mundial conhecido é quase exclusivamente detido pelos chineses.
“Foi o suficiente para os EUA suspenderem as tarifas, porque pura e simplesmente a economia norte-americana deixava de funcionar”, atirou.
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