O CEO da Caixa Geral de Depósitos (CGD), questionado sobre a sua intenção de comprar carteira de crédito a empresas, manifestada quando o banco estava a analisar a compra do Novobanco, não afastou o cenário de aquisições nessa lógica de crescer no crédito a empresas. Mas sublinhou que o caminho está a ser feito pela via orgânica.
“Não dissemos que não temos interesse em comprar nada. Estamos apostados em crescer organicamente na questão das empresas e em geral. Outras oportunidades? Logo veremos”, disse o banqueiro na apresentação de resultados.
A Caixa mantém o “interesse em desenvolver a sua área de crédito”, mas “neste momento está concentrada a fazê-lo organicamente” disse admitindo que “vamos fazer um esforço redobrado pois, se não crescemos inorganicamente, temos de crescer organicamente”, afirmou.
No comunicado o banco revela que a carteira de crédito da Caixa a empresas (incluindo crédito titulado) e institucionais registou um crescimento de cerca de 4,8% no primeiro semestre do ano, superando o crescimento de 2,7% verificado no mercado. Em termos homólogos, o crescimento foi de 7,3% face a junho de 2024, superior ao mercado no mesmo período. A quota de mercado da Caixa neste segmento atingiu 17,6% (maio).
O stock de crédito às PME na Caixa cresceu 2,4% no acumulado do ano, contra o crescimento residual de 0,2% verificado no mercado. Em termos homólogos, o crescimento foi de 1,5%, em contraciclo com o mercado que se manteve estagnado. A quota de mercado atingiu os 16,3% (maio).
No crédito especializado e no financiamento ao comércio internacional (trade finance), a Caixa apresenta quotas de
mercado superiores a 20% na maioria dos produtos, mantendo a liderança no crédito titulado e no leasing mobiliário, e
reforçando a sua posição no leasing imobiliário, confirming e trade finance.
“No apoio à tesouraria, foi continuada a dinamização da solução crédito TPA, que ajusta o financiamento à evolução
do negócio com base na transacionalidade dos terminais de pagamento”, revelou o banco.
A propósito da venda do Novobanco ao grupo BPCE elogiou a oferta dos franceses. “Quando vem um banco que faz um investimento desta envergadura (6,4 mil milhões de euros) é um sinal de confiança, esse banco pode investir em qualquer sítio do mundo, em qualquer setor“, disse destacando que é positivo para economia portuguesa.
Sobre as vendas internacionais Paulo Macedo referiu que “relativamente ao Banco Comercial do Atlântico o que podemos dizer é que o banco central de Cabo Verde disse que iria dar a sua resposta em breve”. Recorde-se que está em causa a venda de 59,81% do capital social do BCA, por parte da Caixa Geral de Depósitos, à Coris Holdings do Burkina Faso.
Já sobre o Brasil “voltámos a ter entidades interessadas, e por isso gostaríamos de retomar o processo”, acrescentou
Sobre o novo Governador Álvaro Santos Pereira, o CEO da CGD começou por ironizar dizendo que não cabe aos bancos avaliarem o Governador do Banco de Portugal, mas sim o contrário, o BdP é que avalia os bancos. Mas acabou por elogiar Álvaro Santos Pereira. “Estamos a falar do economista-chefe da OCDE, com uma carreira académica e técnica sólida pelo que em termos de currículo não levanta dúvidas”, referiu Paulo Macedo esta quarta-feira.
Elogiou ainda o trabalho de Mário Centeno como Governador do Banco de Portugal. “A Caixa tem apreço pelo anterior Governador e pela forma como se relacionou com os bancos e pela forma como representou Portugal no BCE”, disse Paulo Macedo.
Sobre o impacto do acordo nas tarifas entre os Estados Unidos e a União Europeia, disse que “as tarifas têm vários efeitos negativos, porque reduzem o PIB mundial, e são um obstáculo ao crescimento económico, mas existem porque os EUA precisam de receita para o reduzir o seu défice. Para a CGD em concreto as tarifas afetam os nossos clientes exportadores que têm como destino os Estados Unidos, basicamente produtos energéticos, vinhos e papel. Agora a generalidade das empresas portuguesas já começou a diversificar o destino das exportações desde o ano passado, ainda que com maior afinco desde janeiro deste ano, nomeadamente Canadá e UE que tem um enorme mercado interno, que tem potencial de se alargar a outros produtos”.
Paulo Macedo defende uma maior ligação ao Mercosul.
Sobre o euro digital disse que “estamos mais perto, talvez em 2027 ou 2028, mas é preciso saber qual a compensação que será dada aos bancos, é que estamos a falar de transferências de receitas dos bancos para o Banco Central Europeu (BCE), portanto também aqui falamos em mobilidade de recursos”.
“A CGD fará o seu trabalho de casa no euro digital, mas é preciso ainda saber qual é”, disse lembrando que é preciso investimento no desenvolvimento informático”, disse.
Por fim, o CEO da CGD disse que o banco “vai estudar as stablecoins com mais cuidado”, mas não irá comercializar criptoativos como o mercado está hoje e enquanto o regime se mantiver “indiferenciado”.
A CGD obteve um resultado líquido de 893 milhões de euros no primeiro semestre, semelhante ao período homólogo de 2024 (mais quatro milhões de euros).
O banqueiro disse ainda que não tem o valor estimado dos próximos dividendos ao Estado, relativos ao lucro de 2025.
(atualizada)
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