A evolução histórica de Portugal, das estruturas tribais à monarquia, da ditadura à atual democracia, não eliminou a persistência dos sistemas de poder baseados na concentração de riqueza e da influência. Múltiplos talentos foram impedidos de progredir em virtude de desigualdades económicas e da atuação de redes de influência.
Apesar dos avanços ambientais promovidos por algumas autarquias, a sustentabilidade social permanece negligenciada. Em universidades, agrupamentos de escolas e serviços públicos persistem práticas que reforçam dependências hierárquicas, desde contratações influenciadas por relações internas a avaliações de desempenho condicionadas por redes de proteção. Reclamações raramente avançam e a falta de resposta dos responsáveis alimenta uma cultura de impunidade e lentidão deliberada, frequentemente disfarçada por atitudes de condescendência que acabam por prejudicar a qualidade dos serviços e o desenvolvimento profissional. No setor da saúde, a falta de recursos expõe falhas significativas no atendimento, e os inquéritos posteriores raramente produzem consequências devido a mecanismos de proteção. Na justiça, a perceção de impunidade agrava-se com arguidos rapidamente colocados em liberdade condicional e processos que terminam sem resultados efetivos. Setores estratégicos como a marinha mercante sofrem de abandono prolongado, com falta de investimento que leva profissionais qualificados a emigrar. O mesmo ocorre noutras áreas devido à escassez de oportunidades, salários insuficientes e estruturas profissionais públicas pouco acessíveis.
Estas dinâmicas alimentam a perceção de que, apesar da democracia, muitos direitos operam de forma limitada. Quem denuncia injustiças sente-se frequentemente isolado dos espaços de decisão. Num país que necessita de renovação profunda, é legítimo questionar a ausência de portugueses altamente qualificados, regressados do estrangeiro, entre os candidatos à liderança nacional. Diversos observadores identificam as redes de influência que, há décadas, bloqueiam a entrada de novas vozes e obstam à valorização do mérito, revelando resistência a qualificações superiores e a perfis que ultrapassem os padrões representados pelos grupos tradicionais. Se a administração de recursos e de poder continuar vinculada a interesses particulares sem assegurar a criação de oportunidades e o respeito aos profissionais qualificados, independentemente da sua classe, género, raça, idade, naturalidade ou condição social, o país continuará a suportar um custo significativo – tanto material como imaterial – com repercussões sociais, económicas e humanas.
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