A maioria das reações ao primeiro discurso do novo primeiro-ministro britânico variam, na sua maioria, no pequeno intervalo entre a evidenciação das semelhanças com a postura do presidente norte-americano, Donald Trump – que passou a tarde preocupado com a audição a Robert Mueller e por isso não foi lesto a reagir (no Twitter) – e o tom marcadamente autoritário.
Dependendo do ponto de vista, o tom autoritário foi bem ou mal visto. Genericamente, os jornais ingleses parecem ter gostado: salientam que o discurso pretendeu incutir um novo elan junto dos britânicos e que, possivelmente, isso terá sucedido.
Do outro lado está, por exemplo, o jornal francês Le Monde, que, em editorial, chega a usar a palavra ‘ameaça’ para caraterizar o tom usado por Johnson. O jornal alertava para que o novo primeiro-ministro não está a trabalhar na base de qualquer intenção de debater o acordo de saída da União Europeia, mas que, ao contrário, quer impor a sua própria visão problema. “Estaremos cá para resistir”, diz o editorial – que contudo deixa uma porta aberta: “sendo a volatilidade uma das caraterísticas mais óbvias de Johnson”, talvez as coisas acabem por correr melhor que o previsto. Até porque, recorda, a legitimidade política do novo primeiro-ministro é a sua maior dificuldade.
Esta questão da representatividade é também nomeada pelo jornal italiano La Republica, que encara a realização de eleições antecipadas como a única forma de Boris Johnson ser uma voz ‘audível’ na Europa.
Mas há quem, internamente, ensaie críticas: Johnson praticamente prometeu tudo o que havia para prometer (da educação à formação, dos transportes à segurança, passado pela segurança social e pela alavancagem fiscal), sem se preocupar em mostrar como é que vai financiar tudo o que prometeu.
Criticas mereceram também a facilidade com que o novo primeiro-ministro britânico ‘pintou de cor-de-rosa’ a envolvente pós-Brexit – sendo certo que ninguém em nenhum lado teve ainda a veleidade de corroborar tal opinião. Salvo talvez Donald Trump, que também já disse que o Brexit é uma oportunidade para o Reino Unido.
A evidência de que Johnson de algum modo ‘copiou’ o estilo do presidente norte-americano surge em vários jornais – como o El Pais, por exemplo. E não é apenas pela cor do cabelo e pelas subtilezas do seu emaranhado: a ideia de que o Reino Unido tem, com o Brexit, uma oportunidade de ser novamente uma grande nação não podia deixar de recordar a frase de campanha de Trump, que queria fazer a América grande outra vez.
Mas há outros pontos de contacto: ao contrário do que sucedeu com outros primeiros-ministros, Johnson usou sempre uma linguagem simples, com pouca adjetivação e sem o recurso a figuras de estilo que pudessem tornar o discurso gongórico. E, coisa que tem pouca escola no Reino Unido, usando pequenas frases como se fossem palavras de ordem – os famosos ‘sound bytes’ – a que talvez os britânicos adiram com dificuldade.
Mas, para além das palavras, são a partir de hoje os atos que vão contar. A primeira função de Boris Johnson será a de arrumar a casa – ou, dito de outra forma: ‘empandeirar’ a ‘tropa’ de Theresa May, sua antecessora, para fora da órbita do governo. E nem sequer parece interessar que quem é ‘despedido’ seja ou não a favor de um Brexit duro, é irrelevante: a secretária da Defesa, Penny Mordaunt – uma forte ‘brexiteer’ – foi demitida. Juntamente com os ministros Liam Fox e Greg Clark.
Quem está em movimento de ascensão parece ser Sajid Javid, que chegou a querer ser primeiro-ministro: será o novo chanceler de Johnson, o que o transforma no mais importante membro do governo a seguir ao chefe do executivo. Eurocético de longa data (desde os anos 1990 que as suas posições são conhecidas), chegou a ter problemas dentro do próprio Partido Conservador devido à radicalidade das suas opiniões. É também conhecido por ser um destacado apoiante dos interesses de Israel. E por ser um admirador de Margaret Thatcher.
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