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Depois do bónus em março, S&P deverá manter ‘rating’ e subir perspetiva

Standard & Poor’s deverá pronunciar-se esta sexta-feira sobre a notação da dívida soberana portuguesa. Incerteza sobre a economia global e proximidade eleições legislativas em outubro podem adiar nova subida do ‘rating’.
12 Setembro 2019, 07h43

Nove meses, quatro avaliações, uma subida de rating e três upgrades no outlook. É com esta bagagem que Portugal chega esta sexta-feira a uma nova avaliação à dívida soberana portuguesa. A Standard & Poor’s (S&P) avalia o rating de Portugal, mas com o abrandamento do crescimento da economia global e eleições legislativas à porta, os analistas mostram-se cautelosos sobre a possibilidade de uma subida face ao atual segundo nível de investimento.

“Não vejo motivos para que hajam grandes alterações da S&P”, considera Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, que não descarta ainda assim a possibilidade de uma melhoria na perspetiva de estável para positiva.

O desempenho económico de Portugal tem agradado às agências de rating, mas num cenário de incerteza global poderá não ser suficiente para sustentar uma nova melhoria na notação atribuída pela agência norte-americana.

“A economia portuguesa tem estado bem. No entanto, estamos num cenário onde há vários indicadores mundiais que apontam para um ligeiro abrandamento em algumas economias, nomeadamente na Alemanha, que é a maior economia europeia e que poderá até entrar em recessão”, salienta Filipe Silva, diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa.

“Se forem mais prudentes, diria que poderão subir a perspetiva para positiva, para poderem possivelmente rever [o rating] numa próxima avaliação”, acrescenta.

A menos de um mês das eleições legislativas, este factor político poderá também pesar na decisão da S&P, segundo Filipe Garcia. O presidente da IMF salienta que “a agência deverá ser mais cautelosa porque temos eleições à porta e o ângulo político é muito importante nas avaliações das agências de rating”.

Já o diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa considera que o factor político não deverá influenciar a avaliação da S&P. “Neste momento não temos nenhuma facção que queira ir contra as directivas europeias, tal como aconteceu em outros países. Penso que [as eleições de 6 de outubro] não serão um factor desestabilizador”, disse.

“Se tivéssemos um partido extremista que estivesse a ganhar muito peso, aí sim acho que poderíamos ter algum risco dessa parte, mas neste momento não vejo isso a acontecer”, acrescentou.

Trajetória de diminuição da dívida face ao PIB é factor positivo

Na última avaliação em março, a S&P subiu a notação da dívida portuguesa para o segundo grau de investimento (BBB), e a perspetiva passou de ‘positiva’ para ‘estável’. A agência justificou a decisão considerando que Portugal deverá continuar a registar excedentes orçamentais nos próximos três anos e manter uma trajetória de redução do rácio da dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB).

É a partir desta justificação que Filipe Silva sublinha que os atuais níveis de rácio da dívida face ao PIB se assumem atualmente como um dos aspectos mais importantes da avaliação da S&P: “O nosso grau de endividamento só voltará a ser um problema se for excessivo e se as taxas [de juro] subirem”, aponta.

O diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa destaca o impacto que as medidas de política monetária implementadas pelo Banco Central Europeu têm tido neste desempenho de Portugal. “Esta fase toda de Quantitative Easing (QE) que temos tido de bancos centrais, tem permitido a países como Portugal emitir dívida a taxas que seriam praticamente impensáveis se tivéssemos num cenário normal de mercado”, realça. Aponta ainda como exemplo a renovação sistemática de mínimos históricos de juros na emissão de dívida soberana a 10 anos, que tem permitido baixar o custo médio do endividamento.

“Precisamos de ter isto durante bastante tempo para que o peso do serviço de dívida baixe significativamente e ao mesmo tempo se consiga reduzir esse rácio, que neste momento ainda é elevado, apesar de ter vindo a crescer”, sublinha.

A reunião do Conselho de Governadores do BCE, esta quinta-feira, “será relevante nessa perspetiva”. “Se o BCE desiludir as yields de Portugal podem aumentar ligeiramente”, acrescentou.

A última agência a pronunciar-se sobre Portugal foi a Moody’s, em agosto. A agência norte-americana manteve a notação em ‘Baa3’, mas subiu a perspetiva de ‘estável’ para ‘positiva’, citando a queda contínua e mais celére do que esperado do peso da dívida pública e a possibilidade de mais melhorias na saúde do setor bancário do país.

A próxima agência a reavaliar Portugal será a DBRS a 4 de outubro, dois dias antes das eleições legislativas. A agência canadiana tem atualmente a avaliação alinhada com a Fitch, classificando a dívida soberana em BBB, com perspetiva ‘positiva’.

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