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Guerra comercial: analistas do BiG acreditam num acordo até outubro

A concretizar-se, o acordo poderia evitar o aumento de tarifas este mês e em dezembro, algo que iria aliviar as empresas norte-americanas e os consumidores. Em todo o caso, a guerra comercial já causou danos e a primeira vítima a cair foi a produção industrial, que não dá sinais de retoma. A manter-se esta tendência, o consumo será a próximo ‘alvo’ da guerra comercial e poderá levar ao arrefecimento da atividade económica ligada aos serviços.
Presidente chinês, Xi Jinping, e governante norte-americano, Donald Trump, conversam durante evento em Pequim, em 2017
1 Outubro 2019, 07h46

Os analistas do BiG – Banco de Investimento Global não acreditam na subida das tensões entre os Estados Unidos e a China e estimam que as duas maiores potências económicas mundiais alcancem um acordo de médio-prazo em outubro. Mas deixam o alerta: “este acordo será frágil e maiores tensões poderão surgir em 2020, caso uma das partes falhe nas promessas feitas”.

“Este acordo deverá contemplar compras superiores de produtos agrícolas por parte da China, menos restrições à  Huawei por parte dos EUA e um compromisso da China para a protecção de propriedade intelectual de empresas americanas”, lê-se na nota de research publicada esta segunda-feira.

A concretizar-se, o acordo poderia evitar o aumento de tarifas este mês e em dezembro, algo que iria aliviar as empresas norte-americanas e os consumidores.

O BiG relembrou que 17 associações de empresas norte-americanas enviaram uma carta à administração Trump explicando que “41% de todas as roupas vendidas nos EUA eram importadas, assim como 72% de todos os sapatos e 84% de todos os bens de viagem e lazer”.

Deste modo, as empresas afetadas teriam de aumentar os preços de venda final dos produtos, prejudicando o poder de compra dos consumidores, de forma a reduzir o impacto das tarifas, explicam os analistas do BiG.

Contudo, os EUA não seriam o único beneficiário do acordo comercial: a China poderá evitar a deslocação de empresas norte-americanas para outras geografias.

“A Apple por exemplo irá deslocar entre 15% a 30% da sua produção na China para outras regiões e a Nike tem vindo a aumentar a sua produção no Vietname”, lê-se na nota de research.

Os analistas do BiG, em todo o caso, descrevem dois cenários – um pessimista e um otimista. No primeiro, os EUA impõem as tarifas anunciadas e a China contra-ataca.Neste clima de tensões, o consumo interno nos EUA e o índice de confiança cai devido à subida dos preços. Na agricultura, o governo de Donald Trump será chamado a suportar a indústria agrícola através dos subsídios. E, na China, assistir-se-ia à deslocação de empresas do território chinês para outras regiões onde iriam retomar o processo produtivo.

No segundo cenário – otismista – os EUA não impõem as tarifas anunciadas e a China aumenta as importações de produtos agrícolas norte-americanos. Nesta situação mais amena, o aumento dos preços dos produtos nos consumidores norte-americanos não seria tão acentuado e a indústria agrícola iria beneficiar do aumento da procura, reduzindo os stocks. Ainda assim, as empresas norte-americanas “poderiam continuar a diversificar as regiões das quais importam, com receio de novas tarifas no futuro”, referiu o BiG.

Produção industrial foi a primeira vítima da guerra comercial

A nível global, a primeira atividade económica a ser penalizada pela guerra comercial foi a produção industrial, mas poderá não ser a única a cair.

Num gráfico que acompanha a nota de research é a queda da produção industrial a nível global é patente. Se em junho de 2017 tinha registado um crescimento homólogo de 4%, em junho de 2019 caiu valores negativos.

“Ao contrário da maior parte dos anteriores momentos de abrandamento económico (ou mesmo de recessão), desta vez a produção industrial terá sido a primeira a sofrer o forte impacto causado pela guerra comercial sino-americana. O efeito adverso deste fenómeno geopolítico no sentimento económico foi amplificado pela substancial quebra industrial (sua consequência directa), que finalmente arrastou negativamente a confiança do consumidor”, referiu o BiG.

Se a tendência de queda se mantiver, o consumo não estará a salvo e, nesse caso, deverá conduzir a uma “desaceleração da actividade económica de serviços e comprimindo o diferencial face à manufactura”.

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