A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa vai adotar a designação em inglês, à semelhança do que fez há anos a Faculdade de Economia, Nova School of Business and Economics, e o antigo Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação, hoje NOVA Information Management School, instituições da mesma universidade. O rebranding visa impulsionar o processo de internacionalização em marcha.
A que se deve a mudança do nome, para NOVA School of Science and Technology, nesta altura?
As universidades públicas, no espaço anglo-saxónico, posicionam-se no mercado como marcas. O contexto de mercado onde se inserem, impõe preocupações acentuadas ao nível da identidade e imagem, como pilares que contribuem para a superação de novos desafios que vão desde a conquista de novos públicos à descoberta de novas formas de financiamento. Por outro lado, o desígnio da internacionalização acentua a concorrência entre as universidades no espaço europeu em que a língua é um fator determinante.
O ‘rebranding’ é um imperativo do processo de internacionalização em curso na Faculdade?
A NOVA School of Science and Technology tem a ambição de se tornar Top of Mind na audiência em matéria de ciência e tecnologia, como espaço de referência que ultrapassa a fronteira tradicional do ensino superior, com uma forte ligação à comunidade envolvente, mas também às redes colaborativas espalhadas pelo mundo. As fronteiras nesta ligação já são ténues e a língua não pode ser uma barreira, desde logo no contacto imediato com a instituição. A Faculdade não mudou realmente de nome. Desde a revisão dos estatutos em 2018 que a FCT NOVA tem uma designação em português e em inglês: Faculdade de Ciências e Tecnologia/School of Science and Technology. No entanto, a dimensão da intervenção da FCT NOVA em diversas geografias, quer ao nível do ensino, quer da investigação, faz-nos utilizar, cada vez com maior preponderância, a designação em inglês. Neste sentido, preparámos estrategicamente a internacionalização nas suas várias dimensões, começando por criar uma sólida base em termos científicos. O grande envolvimento de docentes e investigadores em projetos científicos internacionais permitiu grande visibilidade internacional. Em Portugal, somos a escola com maior número de projetos internacionais, havendo vários docentes a ocupar importantes posições científicas no âmbito da Comissão Europeia. Esta situação promoveu o interesse dos estudantes internacionais em virem estudar na Faculdade.
Como está a correr a captação de estudantes internacionais?
Nos últimos dois anos apostámos fortemente na estratégia de internacionalização. Na sequência de missões a vários países, com o objetivo de captação de estudantes estrangeiros, surpreendentemente, apesar da situação pandémica, aumentámos o seu número para o dobro e, com a possibilidade de se poderem inscrever no segundo semestre, o que é favorável a estudantes oriundos do hemisfério sul.
Quantos são os alunos internacionais? De onde vêm ? Quais as metas a atingir futuramente?
Atualmente, o número de estudantes estrangeiros excede as duas centenas, mas pretende-se triplicar este número nos próximos dois a três anos. A faculdade desperta interesse em estudantes provenientes de todas as geografias, desde o extremo oriente ao ocidente, para todos os ciclos de estudo – licenciatura, mestrado e doutoramento.
Todas as vertentes da Faculdade acompanham esta dinâmica?
A internacionalização também abrange a captação de players multinacionais que pretendam instalar operações de investigação e desenvolvimento de novos produtos ou tecnologias, aproveitando o ecossistema do campus da FCT NOVA, que conta com cerca de 11 mil pessoas, entre professores, investigadores, estudantes e profissionais das startups e spin offs aí localizadas. O campus conta com uma área de 65 hectares, dos quais cerca de 15 ha foram destinados a este hub de inovação, projetado para um ambiente tecnológico inovador e moderno o qual já alberga o “Innovation Hub for Technology Transfer” (inNOVA4Tech), no âmbito da iniciativa europeia de construir uma rede de Digital Innovation Hubs (DIH), para apoio ao desenvolvimento da indústria europeia.
Em paralelo, a faculdade está a lançar uma escola de formação ao longo da vida – NOVA Science & Tecnology for Executive Education – dirigida a todos os profissionais, nas vertentes da tecnologia, da transição digital e da sua operação, tendo como foco o mercado nacional e internacional.
A operacionalização desta estratégia de internacionalização é acompanhada pela criação de infraestruturas de alojamento – residências para estudantes e equipamento hoteleiro para profissionais das empresas ou da escola de formação ao longo da vida – e de ensino executivo sendo complementado por um novo complexo de salas de conferências e de reuniões.
Sintetizando…
A conjugação do lançamento deste conjunto de iniciativas reforçou a necessidade de “mexer” na imagem da faculdade, o que passou por um processo de ‘rebranding’ e de marketing, que permita uma perceção mais real da sua posição no âmbito das grandes escolas de tecnologia internacionais. Na realidade, devido ao grande envolvimento e visibilidade em projetos europeus, somos mais facilmente reconhecidos no estrangeiro do que em Portugal.
Nas universidades portuguesas, o primeiro semestre já terminou e estamos agora em período de avaliações. Quando começa o segundo semestre na vossa Faculdade?
A NOVA School of Science and Technology desenvolveu já há dez anos uma reformulação da sua forma de ensino, tendo incluído em todos os seus cursos, matérias transversais determinantes para a formação dos futuros profissionais. Neste sentido, o ano escolar foi dividido em três períodos. O primeiro e o terceiro períodos correspondem aos semestres tradicionais. Entre estes períodos foi introduzido um período intercalar, no qual foram introduzidas Unidades Curriculares obrigatórias, comuns a todos os cursos da Faculdade.
Como funciona?
Neste período, que vai de meados de janeiro a princípios de março, os estudantes do 1º ano são introduzidos às competências comportamentais (liderança, trabalho em equipa…), os do 2º ano abordam os grandes desafios atuais da ciência e da tecnologia, por exemplo, o impacto das alterações climáticas, as fontes de energia do futuro, a evolução da Inteligência Artificial…), os do 3º ano realizam um mini estágio numa empresa e os do 4º ano dos mestrados integrados (1º ano de mestrado), fazem um curso de empreendedorismo.
As aulas voltam a ser à distância devido ao agravamento das infeções por Covid-19?
Dada a intensidade da pandemia foi decidido que as aulas no período intercalar seguirão o regime a distância e prevê-se que no 2º semestre (a começar em março), o regime possa ser idêntico ao utilizado no 1º semestre, isto é, as aulas laboratoriais são presenciais e as teóricas são parcialmente presenciais. Devo frisar que a NOVA School of Science and Technology é e deverá continuar a ser uma escola de ensino presencial. No entanto, o ensino à distância foi encarado por todos como uma oportunidade, com otimismo e ajudou a ultrapassar obstáculos que de outra forma não poderia ter sido possível.
Os próximos dias serão decisivos?
O atual contexto que vivemos e à semelhança do País impõe uma avaliação e monitorização da pandemia assídua. O regime de aulas – presencial, online ou híbrido – irá depender da evolução da situação, das declarações do estado de emergência e das diretrizes do Governo.
Qual foi o contributo da Faculdade em termos de criação produto/prestação de serviço com impacto na sociedade durante esta pandemia?
Em 2020, a faculdade voluntariou-se espontaneamente para apoiar a comunidade no combate à pandemia, dirigindo a sua competência científica nesse sentido. Projetaram-se e construíram-se ventiladores minimalistas para cuidados intensivos, produziram-se alguns milhares de máscaras viseiras com recurso à impressão 3D e produziu-se gel desinfetante que foi oferecido a hospitais e centros de saúde, no período inicial da pandemia, quando havia escassez destes produtos. Paralelamente, os próprios estudantes desenvolveram uma aplicação (HomeSafe) para identificar os sintomas da Covid-19 na população idosa residente em lares. Os nossos docentes, investigadores e alunos responderam instintivamente às demandas impostas pela pandemia, dando voz à responsabilidade social da Escola.
Para além destes exemplos, outros trabalhos de caráter mais fundamental foram desenvolvidos, como o projeto de investigação Nano2Prevent, que incorporou nanopartículas em têxteis, como lençóis de cama, para eliminar a presença do vírus ou o “GLYCOVID-19 Testing existing glycan-based drugs to neutralize SARS-CoV-12”, que tem por objetivo criar uma terapêutica capaz de neutralizar as infecções do vírus SARS-CoV-2. Mas estes são apenas dois projetos entre vários. Este é um trabalho que prossegue diariamente.
A relação entre empresas e universidades tem vindo a crescer e caracteriza-se por uma postura de interdependência cada vez maior. Qual a vossa relação com o tecido empresarial?
A principal missão da Universidade é formar pessoas. Para isso é preciso gerar conhecimento, é preciso investigar soluções que resolvam problemas, alguns são colocados pelas necessidades do mundo (empresas e organizações), outros são colocados pela vontade de descobrir os enigmas do universo, resolver o “desconhecido” e encontrar a verdade das coisas. Quer no que respeita à formação das pessoas, quer na investigação a realizar, é preciso perceber quais são as necessidades do mundo. No caso concreto da pergunta, o posicionamento da faculdade consiste em, a partir do conhecimento profundo do tecido empresarial, desenhar os projetos educativos e de investigação, de forma a responder às necessidades das empresas, quer como empregadoras, quer como desenvolvedoras de produtos e tecnologia.
Quantos centros de conhecimento integram a faculdade?
A NOVA School of Science and Technology dispõe de 16 centros de investigação, duas entidades de interface (NOVA.ID.FCT e UNINOVA), um parque tecnológico (Madanparque) e participa em nove CoLabs (laboratórios colaborativos), além do primeiro hub de inovação a ser implementado em Portugal, conforme já referi. A estratégia tem sido dirigida para a aplicação do conhecimento, gerado na faculdade e nos seus centros de I&D, no tecido empresarial. A maior parte das teses de doutoramento e de mestrado são realizadas em ambiente laboratorial e empresarial, sempre numa lógica de possível aplicação e de empregabilidade dos estudantes que as desenvolvem.
A ciência produzida, em parceria com o tecido industrial, permitirá que Portugal possa vir a posicionar-se melhor nos mercados internacionais.
Que forma têm essas parcerias?
Estas parcerias tomam várias formas, desde projetos durante a formação de alunos, mediante projetos exploratórios ou estágios, projetos de investigação e inovação tecnológica, laboratórios colaborativos, investigação contratada para resolução de problemas tecnológicos entre outros. Atualmente, sentimos que a indústria reconhece o valor da Universidade enquanto parceira, a trabalhar em conjunto no desenvolvimento de produtos e de tecnologia, numa perspetiva de criação de valor. Dada a dimensão e a grande diversidade das áreas científicas, 18, no total, a FCT NOVA está permanentemente a estabelecer parcerias, quer com outras escolas tecnológicas, quer com empresas e organizações, nacionais e estrangeiras.
Pode dar exemplos de colaboração com empresas e transferência de tecnologia?
A título de exemplos saliento dois tipos de parcerias recentes: 1. Parceria empresarial – a Corticeira Amorim anunciou a semana passada a adoção da tecnologia Naturity, que consegue eliminar o rasto de TCA detetável nas rolhas, isto é, o ‘sabor a rolha’ que por vezes o vinho tem, cujo trabalho de investigação e desenvolvimento foi realizado por investigadores do Centro de Física e Investigação Tecnológica da FCT NOVA; 2. Parceria sectorial – estamos a concretizar parcerias com os setores da indústria aeronáutica, da defesa, da segurança e da saúde no domínio da transição digital e do respetivo fornecimento de serviços de investigação e desenvolvimento, no âmbito da inteligência artificial, dos sistemas ciberfísicos, da internet das coisas e da interoperabilidade de sistemas.
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