A Shell está de regresso a Portugal e não é apenas para vender gasolina. Doze anos depois de ter vendido as operações no país, a maior retalhista mundial de combustíveis irá voltar com o novo conceito de estações de serviço que está a aplicar à escala mundial, em que os foco são as compras de conveniência e não apenas os condutores que atestam o depósito. Cafés, supermercados e comida take away têm sido as apostas do grupo para diversificar receitas e amortecer a baixa do petróleo.
O investimento da Shell em Portugal foi anunciado pela Entidade Nacional do Mercado de Combustíveis (ENMC), que adiantou também que a francesa Total vai regressar ao país no próximo ano. O Jornal Económico contactou as duas petrolíferas para obter mais pormenores sobre os planos em Portugal e apenas a Shell quis pronunciar-se.
O grupo petrolífero anglo-holandês adianta que irá abrir as primeiras lojas em 2017 com o objetivo de atingir “uma presença considerável” no mercado português – dominado pela Galp, Repsol e BP e com uma implantação significativa de combustíveis low cost nos supermercados.
Retalho em crescendo
A Shell quer levar aos clientes em Portugal “combustíveis e lubrificantes de alta qualidade”, mas haverá outras apostas. O grupo prevê vender em Portugal “uma gama de produtos de conveniência concebidos para satisfazer as necessidades de condutores apressados e de outros clientes”.
A Shell vai trazer para o país o novo conceito de estações de serviço que está a introduzir à escala global. No Reino Unido, onde o grupo tem mais de mil estações de serviço, a Shell fez parcerias com os supermercados Waitrose e os cafés Costa e estes serviços estão nas bombas de gasolina. Se as grandes superfícies roubaram clientes às petrolíferas ao abrir bombas de gasolina de baixo custo perto dos supermercados, a Shell retribui o gesto e permite que os clientes possam fazer compras nas bombas de gasolina.
Impulso do petróleo
A nova aposta foi possível graças às tendências de mercado que o grupo constatou no Reino Unido, onde os consumidores começaram a deixar os supermercados de grande dimensão e a optar por lojas de conveniência, mais próximas da residência ou do trabalho. O grupo aproveitou a oportunidade. Com 43 mil estações de serviço em 70 países diferentes, a Shell tem mais pontos de venda do que a Starbucks e a Macdonald’s, por exemplo.
“O comércio de conveniência é um grande foco em todo o mundo. Nessa frente e no segmento de comida take away, estamos a aumentar a parada no Reino Unido e a nível global”, explicou, ao “International Business Times”, o administrador da Shell para o retalho, Istvan Kapitany. O gestor assinala que um grande número de pessoas passou a ir a bombas da Shell sem encher o depósito. Em vez disso, bebem café, fazem compras e lavam o carro.
Claro que a queda nos preços do petróleo ajudou a impulsionar o novo segmento da atividade da Shell. Para amortecer a queda de receita gerada pela descida da cotação do crude, a aposta nos negócios do retalho tem sido essencial.
“Um aspeto positivo do negócio de retalho é que não está ligado ao movimento do preço do petróleo, não é um negócio cíclico. Ao fazer um bom trabalho como retalhistas, ganhamos dinheiro. Alto ou baixo, é uma parte importante do negócio, ajuda-nos a proteger do ciclo do preço do petróleo”, assinalou Kapitany.
A aposta tem sido global. O grupo estudou oportunidades à escala mundial e a abertura de lojas insere-se precisamente neste novo foco. O grupo indica ao Jornal Económico que a abertura de novas lojas em Portugal faz parte de uma “estratégia mais alargada”, com o objetivo de “responder às aspirações de crescimento” da companhia. n
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