O Governo de Cabo Verde adotou um conjunto de medidas de caráter económico e social, que visaram apoiar as micro, pequenas e grandes empresas, bem como os sectores mais vulneráveis e os trabalhadores que mais sentiram os impactos da pandemia.
A concessão de moratórias bancárias e o regime simplificado de suspensão do contrato de trabalho, mais conhecido por lay-off, foram as duas principais medidas apontadas. Certo é que, embora 71,6% das empresas inquiridas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de Cabo Verde tenham afirmado não ter tido nenhum investimento em curso durante o segundo trimestre de 2020, 25% garantiram o inverso – valor que vai em linha com os níveis de investimento estrangeiro que, durante o mesmo período, continuaram a subir.
Segundo a agência estatal Cabo Verde TradeInvest, o país fechou 2020 com um recorde de investimentos externos de 1.244 milhões de euros, num total de 27 projetos que estimam a criação de 12.435 postos de trabalho, nomeadamente, o investimento privado de 61,9 milhões de euros que prevê a instalação de dois hotéis de cinco estrelas das cadeias internacionais Sheraton e Le Méridien, em São Vicente, entre 2022 e 2025.
“Os fatores de atratividade ao desenvolvimento da economia cabo-verdiana e ao investimento estrangeiro continuam a existir”, diz Luís Castro Henriques, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) ao Jornal Económico (JE).
Todavia, no que toca ao investimento português, a AICEP tem vindo a detetar uma desaceleração.
“Nos últimos anos tem-se verificado uma tendência de diminuição ao nível do investimento direto de Portugal no exterior (IDPE) em Cabo Verde, com alguma perda de quota de mercado, em detrimento de outros países”, reporta o mesmo responsável, acrescentando, porém, que Cabo Verde ocupa o 24.º lugar enquanto cliente de Portugal e a 102.ª posição como fornecedor, “consolidando a sua posição como o segundo mercado mais importante para as exportações portuguesas no contexto económico dos PALOP, logo a seguir a Angola”.
Com a chegada da pandemia, a entidade viu-se na necessidade de reforçar os apoios ao sector empresarial de forma a que o investimento nas dez ilhas ultrapassasse o abrandamento expectável. Em outubro de 2020, em parceria com a Cabo Verde TradeInvest, a AICEP celebrou um memorando de entendimento que permitiu fortalecer o apoio às empresas portuguesas que pretendem investir neste país lusófono, de forma a tornar mais acessível a informação sobre o ambiente de negócios e os incentivos fiscais e financeiros existentes para os empresários.
Por outro lado, apostou-se na coordenação de esforços com a finalidade de estabelecer uma rede de contactos empresariais que tenham como objetivo facilitar a circulação de informações sobre oportunidades de negócio, disponibilizando a Cabo Verde TradeInvest um serviço que engloba desde o processo de instalação da empresa, passando pela resolução de problemas burocráticos junto de outras instituições públicas, ou pela ajuda na montagem de processos de reinvestimentos e exportação.
Ainda durante a pandemia, as empresas portuguesas do sector logístico a operar no mercado cabo-verdiano conseguiram, em articulação com a AICEP, ultrapassar alguns custos de contexto, e garantir o abastecimento regular de mercadorias essenciais sem ruturas, como por exemplo bens alimentares, medicamentos, combustíveis e materiais de construção, o que permitiu a continuidade da atividade económica, apesar das ineficiências e dificuldades existentes ao nível das cadeias de abastecimento globais.
Incremento na cooperação
Já no âmbito da presidência cabo-verdiana da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que decorre até julho, Castro Henriques explicou ao JE que a AICEP “pretende promover ações que visem incrementar a cooperação económica e comercial, através da cooperação institucional interagências nos mercados dos PALOP”.
“Atendendo à permanente dinâmica de chegada de novos players internacionais ao mercado de Cabo Verde, o estreito relacionamento entre a AICEP e os agentes económicos portugueses contribui para que Portugal continue a manter o seu estatuto de principal parceiro económico e de desenvolvimento de Cabo Verde”, reforça Castro Henriques.
Embora a pandemia, o risco de surgimento de novas vagas, e consequentemente, um novo confinamento, não permita que o sentimento de investimento recupere, a agência reitera a confiança no potencial em apostar no futuro de Cabo Verde, argumentando que “existe uma história e cultura comum, em que os produtos portugueses gozam de bastante notoriedade, bem como os produtos cabo-verdianos são muito bem aceites junto dos portugueses”.
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