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Lira turca perto de mínimos históricos depois de afastamento do governador do Banco Central por Erdogan

Depois de apenas cinco meses à frente da autoridade monetária e financeira turca, Naci Agbal havia conseguido recuperar 19% do valor da lira face ao dólar e atraído mais de 10 mil milhões de dólares vindos do exterior em investimento na divisa. Agora, o banco central retomará a política económica de Erdogan, para quem altas taxas de juro criam inflação.
22 Março 2021, 18h00

A decisão abrupta e inesperada de Recep Tayyip Erdogan de substituir o governador do Banco Central da Turquia durante o fim de semana levou a lira turca a perder cerca de 15% esta segunda-feira, com os investidores a anteciparem um travão na subida das taxas de juro, que vinham a ser aumentadas como forma de travar a inflação galopante no país.

Um país propício a volatilidade e crises cambiais, a Turquia experienciou esta segunda-feira as consequências do afastamento súbito de Naci Agbal como responsável pela autoridade monetária do país. A decisão surgiu dois dias depois do aumento das taxas de juro em dois pontos percentuais, de forma a controlar uma inflação que se aproxima dos 15%.

Agbal é assim afastado após apenas cinco meses à frente da política monetária e supervisão financeira do país, que viu fortes correções na performance da sua moeda face ao dólar desde que o economista agora afastado havia assumido o cargo. Durante o seu mandato, a divisa turca valorizou 18%.

Há agora genuínas preocupações que estes ganhos sejam destruídos com a mudança, como parece já ter começado a acontecer. O dólar chegou a valer mais de 8 liras no início da sessão de segunda-feira nos mercados asiáticos, com o par a atingir mesmo os 8,48, perto dos mínimos históricos de valor da moeda turca, situados nos 8,58. Às 16h20, o par estava cotado a 7,83.

Erdogan coloca assim em risco a recuperação da divisa do país, nomeando para novo governador um economista pouco conhecido com filiação ao seu partido, Sahap Kavcioglu, que segue a mesma visão económica alternativa do presidente de que elevadas taxas de juro fomentam mais inflação.

Na teoria económica clássica, uma subida das taxas de juro encarece os empréstimos e incentiva a poupança, abrandando a economia e as subidas de inflação.

Os avisos dos analistas surgem agora de todos os quadrantes, com preocupações relacionadas com a subida mais que esperada da inflação e abrandamento da atividade económica, para o qual contribui igualmente a evolução da pandemia no território turco.

“A Turquia poder-se-á ver envolvida numa nova crise cambial em breve”, antecipa uma nota da Société Générale.

Outro fator preocupante prende-se com os meros 11 mil milhões de dólares (9,28 mil milhões de euros) de reservas em divisa estrangeira de que o país dispõe, que serão crescentemente necessários à medida que a lira desvaloriza e torna os produtos do resto do mundo comparativamente mais caros. Por outro lado, a decisão deve afastar os 10 mil milhões de dólares (8,38 mil milhões de euros) investidos em títulos da divisa no mandato de Agbal, contribuindo para a desvalorização da moeda.

É também esperada uma política monetária não convencional, com os mercados a anteciparem já controlos de capital para impedir uma fuga de parte destes investimentos.

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