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O que move um combatente do ISIS? O coração, diz estudo científico

O que leva um combatente do ISIS a matar e a morrer? Os sacrifícios têm uma explicação que muitos de nós – num mundo material – dificilmente entendemos. Uma equipa de investigadores descobriu quais são as motivações de um terrorista.
Umit Bektas/Reuters
6 Setembro 2017, 11h58

Uma equipa da Artis International – um grupo de pesquisa científica multidisciplinar, que existe para melhorar a compreensão da violência e dos conflitos – passou os últimos dois anos a entrevistar combatentes capturados do ISIS, para tentarem perceber o que motiva alguém a atacar e a morrer por uma causa.

Depois de uma observação intensa, os investigadores concluíram que há três fatores cruciais que motivam os combatentes do ISIS e aqueles que os combatem: um profundo compromisso com os valores sagrados (que são valores que as pessoas recusam a trocar por compensação material ou monetária); a prontidão para, inclusive, terem de abandonar a família em nome desses valores; e a força  espiritual que o lutador representa dentro de um grupo ou comunidade.

Scott Atran, antropólogo cognitivo que liderou a equipa de investigação da Artis International no terreno, explica que “aquilo que realmente importa a um combatente do ISIS é o que lhes vai no coração”, e eles estão realmente comprometidos com isso, tal como os próprios admitiram nas conversas que tiveram com a equipa de investigadores. As mesmas características foram encontradas em combatentes curdos, e outros grupos que lutam contra o Estado Islâmico.

Atran tentou pôr em palavras um estudo e uma experiência viva, que lhe permitiu apurar que “no nosso mundo material, subestimamos ou minimizamos a dimensão espiritual da ação humana” e que essa condição acaba por ser um obstáculo quando é preciso estar abertos a pessoas que são motivadas por valores  espirituais sagrados profundos. Não conseguir entender essa motivação, é para o docente na Universidade de Michigan e de Oxford, o maior perigo que enfrentamos.

Depois de todas as entrevistas realizadas desde 2015, na linha de combate, ou a ex-combatentes, os investigadores descobriram que a vontade de lutar e de fazer sacrifícios, está diretamente relacionada com a força espiritual. Aquele que se sacrifica, que deixa a família a sofrer, que tortura mulheres e crianças que mata civis, mas que está também disposto a morrer num ataque suicida, não é aquele que tem mais força física do que o inimigo, mas é espiritualmente mais forte.

Isto significa – em jeito de conclusão – que os valores sagrados e a forma do espírito são factores críticos para os combatentes do ISIS e para as pessoas que lutam contra eles, com mais sucesso, explica o antropólogo que conduziu o estudo publicado esta segunda-feira na publicação Nature Human Behaviour.

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