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Constantinopla, a eterna sedutora

Há cidades que são míticas para os viajantes – os de facto e os que o são apenas de sofá – e sem dúvida que Istambul é uma delas.
1 Dezembro 2017, 11h20

Do império bizantino à atualidade, passando pelo portentoso império otomano (que, recorde-se, chegou às portas de Viena), a cidade tem conhecido esplendor e glória, mas também decadência e indignidade. Caldo de culturas, ponto de encontro – e, por vezes, de choque – entre o Ocidente e o Oriente, Bizâncio/Constantinopla/Istambul tem um raro poder de atração, que não se limita à arquitetura (das mesquitas aos palácios), à luz (que muitos comparam com a de Lisboa), ao bulício constante (dos bazares ao passeio noturno na avenida Istiklal, no bairro de Beyoglu), a um certo exotismo (como os pescadores na ponte de Gálata) e à sempre presente água e aos barcos que a atravessam num movimento frenético o mar de Mármara, o Corno de Ouro, o Bósforo.

Todos estes aspetos contribuem para o fascínio que a cidade exerce sobre quem a visita, a que se junta algo de inexplicável, que tem precisamente a ver com as camadas de História aliadas à vida quotidiana. Quem não resistiu ao apelo foi Edmondo de Amicis (1846–1908). Em “Constantinopla”, o mais recente livro da coleção de literatura de viagens da Tinta da China, é a sua faceta de jornalista que ressalta. De Amicis precisou de dez dias de barco para chegar à cidade. Eram os tempos em que as viagens demoravam meses e a bagagem consistia maioritariamente em grandes malas de porão, algo impensável para os dias de hoje, em que a velocidade é dos aspetos mais valorizados.

Mas, para o viajante que chega do ocidente, o impacto da cultura oriental obriga imediatamente a reduzir o passo, a suavizar o olhar, a apurar o olfato. E é isso que permite ao autor descrever assim o palácio de Dolmabahçe e é por estas e por outras que “Constantinopla” é um clássico da literatura de viagens: “Não parece que tenha sido um calmo arquiteto arménio o primeiro a idealizá-lo, mas sim um sultão apaixonado que o viu em sonhos, enquanto dormia nos braços da mais ambiciosa das suas amantes. Em frente estende-se uma fila de pilastras monumentais de mármore branco, unidas por gradeamentos dourados que representam um delicado entrelaçado de ramos e flores, e que vistos de longe parecem cortinas de renda que o vento arrastará para longe.”

A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante

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