Como estão universidades e politécnicos a responder à suspensão das aulas presenciais?
O primeiro momento foi marcado pelo voluntarismo dos professores que procuraram as plataformas disponíveis e adaptaram os conteúdos num movimento de tentativa-erro. Os alunos aderiram massivamente, com taxas de frequência maiores, dado estarem confinados, sendo esta uma atividade que lhes permitia o contacto com os colegas e uma maior interação social. Houve alguma excitação inicial com os novos meios, que permitiu ultrapassar problemas de equipamentos e acesso. Existem problemas de falta de equipamentos e muitas dificuldades de acesso à net, o que significa a necessidade de abordagens que não passem apenas por sessões síncronas.
Qual o maior problema neste momento?
Estamos a entrar numa nova fase. Existem problemas com as componentes práticas e estágios que terão de ser analisados. O grande desafio é a avaliação, que terá de ser resolvida dentro da autonomia científica e pedagógica de cada professor, em conjugação com os órgãos próprios, que são os conselhos pedagógicos e científicos.
Passagem administrativa é uma hipótese?
Não. A passagem administrativa não é uma hipótese. Todos os colegas recusam essa solução. As instituições têm estado a estudar mecanismos de adaptação da avaliação e parece haver uma grande pressão da parte dos dirigentes para que nessa adaptação os docentes tenham menos rigor. Além disso, há situações em que é simplesmente impossível fazer avaliação online.
Que soluções propõe?
A atual situação exige realismo e pragmatismo. Temos que assumir que o online tem debilidades e que não é possível realizar determinadas operações, neste momento. Teremos que adiá-las para quando seja possível. Sugerimos aulas presenciais em junho, julho (e não adiamento para período posterior a estes meses), com continuidade, se necessário, em setembro. No que respeita às avaliações, a nossa mensagem é que é necessário alargar o período de avaliação e adiar nas matérias em que for necessário. Não adiar como um todo.
Atrasar todo o calendário?
Sim. Isso pode significar também um atraso no início do próximo ano letivo que já de si está comprometido com a questão dos exames nacionais. Acreditamos que não se deve perder os exames nacionais. Não podemos estar a agir à pressa para aquilo que o ministro pretendia, que era facilitar o regime de acesso.
Como está o mundo a fazer no caso dos exames?
O governo chinês. por exemplo, alterou as provas de acesso ao ensino superior, o que afeta milhões de estudantes. O governo inglês pura e simplesmente suspendeu as provas, criando o pânico e o alarme. A nossa visão de ter épocas de avaliação muito alargadas está mais de acordo com o bom exemplo chinês.
O que não pode acontecer no ensino superior em Portugal, mesmo com o país em estado de emergência?
O sistema não pode entrar em disrupções. O que está institucionalizado importa, é um certificado de qualidade, e o nosso sistema de educação é um bem posicional. No momento em que se fragilizar a credibilidade, entra-se em rutura. Se isso já é verdade para outros setores, como a Economia, aqui é fundamental. Não podemos perder a garantia da qualidade do sistema, nomeadamente não podemos minar a credibilidade da avaliação.
Entrevista publicada no Jornal Económico de 09-04-2020. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor
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