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Imparidades de 109,4 milhões põem Montepio a ter prejuízos de 51,3 milhões

O Banco Montepio registou prejuízos de 51,3 milhões que comparam com lucros de 3,6 milhões no semestre homólogo. As imparidades Covid puxaram o banco para terreno negativo. Mas as receitas também estão em queda e o rácio de capital CET1 caiu para 11,5%. O stock de NPE melhorou, mas o custo do risco subiu.
1 Agosto 2020, 10h51

O Banco Montepio registou 109,4 milhões de imparidade de crédito que resultam do aumento do risco de crédito motivado pela pandemia Covid-19 e pelo reforço dos níveis de imparidade. Este foi o motivo que esteve na origem do resultado negativo de 51,3 milhões no primeiro semestre, o que compara com 3,6 milhões de lucro em junho de 2019.

”Os resultados líquidos do primeiro semestre de 2020 foram determinados pelo maior nível de imparidades e provisões constituídas na sequência da revisão em baixa do cenário macroeconómico devido ao impacto da Covid-19 nos agentes económicos, quer nos particulares, quer nas empresas”, diz o banco em comunicado.

O Montepio detalha que a imparidade do crédito registada no primeiro semestre de 2020 “atingiu 109,4 milhões, revelando um incremento de 67,4 milhões face ao valor apurado em igual período de 2019, como resultado do aumento do risco de crédito determinado pela pandemia Covid-19, por um lado, e do reforço dos níveis de imparidade para algumas exposições creditícias que se encontravam em incumprimento, por outro”.

“O agregado das outras imparidades e provisões, relacionadas com outros ativos financeiros, com outros ativos e com provisões, totalizaram 12,8 milhões no primeiro semestre de 2020 e comparam com os 5,1 milhões registados em igual período de 2019, como resultado do aumento do risco de crédito, incluindo instrumentos de dívida, e em imóveis recebidos em dação”, diz a instituição.

O banco liderado por Pedro Leitão registou uma quebra do produto bancário de 7,3% para 168,9 milhões, que se deve à redução da margem financeira de 4,5%, das quebra das receitas com comissões líquidas (-2,7%), e que não foi compensado com o resultados de operações financeiras de 7,2 milhões que reportam no semestre.

Os custos, por sua vez, subiram 1,6% para 127,5 milhões de euros, devido ao aumento num ano de 4,2% dos custos gerais administrativos e aumento de 1,2% com gastos com pessoal.

“Em relação ao produto bancário core, considerando o conjunto dos proveitos registados na margem financeira e em comissões e excluindo o impacto da dívida subordinada emitida, registou-se uma diminuição de 2,2% ao passar de 182,3 milhões no primeiro semestre de 2019 para 178,3 milhões no primeiro semestre de 2020, apesar da redução dos níveis de atividade económica observados no decurso do segundo trimestre de 2020”, diz o banco.

A margem financeira ascendeu a 114,7 milhões no primeiro semestre de 2020, face aos 120,1 milhões contabilizados no período homólogo do ano anterior, “traduzindo os efeitos desfavoráveis de fatores exógenos associados à pandemia Covid-19 e que determinaram menores níveis de atividade nos clientes particulares e nas empresas, e também das taxas de juro de mercado permanecerem em níveis muito baixos”.

Apesar disso, o desempenho da margem financeira no primeiro semestre de 2020 “beneficiou da gestão sistemática do pricing dos depósitos de clientes de retalho e institucionais, onde se observou, em ambos os casos, uma redução do custo destes recursos face ao valor relevado no período homólogo de 2019”.

As comissões líquidas contabilizadas no primeiro semestre de 2020, ao incorporarem o efeito da redução da atividade económica no segundo trimestre deste ano, caíram de 57,7 milhões no primeiro semestre de 2019 para 56,1 milhões em junho deste ano.

Os resultados em operações financeiras totalizaram 7,2 milhões, evoluindo favoravelmente face ao valor negativo de 0,4 milhões contabilizado no período homólogo de 2019, e traduzem os ganhos na alienação de obrigações de dívida pública e privada realizados no decurso do primeiro trimestre de 2020, entre outros.

Os outros resultados de exploração evoluíram de -1,4 milhões no primeiro semestre de 2019 para -10,8 milhões contabilizados no primeiro semestre de 2020, devido, essencialmente, ao “efeito da realização de ganhos de 9,7 milhões relevados no primeiro semestre de 2019 com a alienação de ativos contabilizados ao custo amortizado relevados”.

Os custos operacionais ascenderam a 127,5 milhões no primeiro semestre de 2020 quando no período homólogo de 2019 haviam sido de 125,4 milhões de euros, evidenciando os impactos da atualização salarial e dos investimentos efetuados em renovação e modernização tecnológica no âmbito da transformação digital que o Banco Montepio tem em curso, não obstante as sinergias capturadas na renegociação de alguns contratos, em particular nos custos com consultoria e com conservação e reparação de imóveis.

O banco detalha que o total de impostos correntes e diferidos relevado nos primeiros semestres de 2020 e de 2019, foi apurado tendo por base as realidades que contribuíram para a formação dos resultados e o respetivo enquadramento fiscal, nomeadamente no que respeita à constituição e reversão de diferenças temporárias e à identificação de diferenças permanentes, com destaque para a contribuição do setor bancário dado que não é aceite fiscalmente como um custo.

“O contributo das operações em descontinuação no primeiro semestre de 2020, depois de deduzidos dos interesses que não controlam, situou-se em 5 milhões, registando uma evolução favorável face aos 4,7 milhões contabilizados em igual período de 2020, traduzindo o bom desempenho observado pelo Finibanco Angola no período”, diz o Banco em comunicado.

No balanço também não há dados de evoluções positivas face a junho de 2019. O crédito a clientes (bruto) caiu 1,3% e os depósitos desceram 2%.

O crédito a clientes de 12,4 mil milhões de euros, aumentou, no entanto, 1,4% face ao valor de final de 2019, “invertendo a tendência observada em trimestres anteriores ao beneficiar da subida do crédito no segmento das empresas”, diz o comunicado.

“Os depósitos de clientes totalizaram 12,4 mil milhões de euros, beneficiando da evolução dos depósitos à ordem que aumentaram 10,3% face ao período homólogo de 2019 devido essencialmente ao desempenho do segmento particulares”, lê-se na nota.

A queda “evidencia a diminuição registada por alguns clientes institucionais, por um lado, e o aumento observado nos segmentos de particulares e das PME, por outro”, diz o banco.

Em 30 de junho de 2020 o ativo total caiu 4,3% para 17.882 milhões “traduzindo as diminuições da carteira de crédito e das disponibilidades junto de bancos centrais, por um lado, e a subida das aplicações em títulos, por outro”.

O banco tem como nota positiva o facto de no primeiro semestre de 2020 o crédito concedido às empresas ter registado uma subida de 329 milhões, “concretizando a ambição de incrementar o volume de negócios junto das PME e das empresas do “middle market” através das estruturas dedicadas do Grupo: a rede comercial do Banco Montepio e o BEM”.

O Montepio assegura que “a evolução favorável do crédito a clientes registada no primeiro semestre de 2020 foi concretizada em observância de uma política prudente na assunção de risco de crédito que, apar de um conjunto de medidas que foram implementadas nas áreas de acompanhamento e de recuperação de crédito, contribuíram para uma melhoria dos indicadores da qualidade da carteira de crédito”.

Assim, ao nível da qualidade da carteira de crédito, avaliada pela proporção dos non performing exposures (NPE) sobre o total do crédito, registou-se uma evolução favorável do rácio NPE ao passar de 12,2% em 31 de dezembro de 2019 para 11,9% no final do primeiro semestre de 2020 (e também favorável face a junho de 2019 quando o rácio era de 14,7%.

“No primeiro semestre, como resultado da atualização dos cenários macroeconómicos devido à pandemia determinada pela Covid-19, foi efetuado um reforço expressivo das imparidades relacionadas com a carteira de crédito que contribuiu para o reforço da cobertura das NPE por imparidades”, anuncia o banco.

Assim, a cobertura das NPE por imparidades evoluiu de 52,1% no final de 2019 para 58,4% em 30 de junho de 2020. Mas incluindo, para além das imparidades, também os colaterais e as garantias financeiras associados, a cobertura dos NPE eleva-se para 89,8% no final do primeiro semestre de 2020.

Mas o custo do risco de crédito piorou, de 0,7% para 1%.

Os capitais próprios caíram 6,4% para 1.359 milhões de euros, refletindo os resultados negativos do semestre. “A variação registada ao nível dos capitais próprios evidencia também o impacto de fatores exógenos, traduzidos, nomeadamente, na evolução da reserva cambial e da reserva de justo valor, neste caso também devido à realização de valias na alienação de títulos, que, conjuntamente, aportaram uma diminuição de 39,9 milhões no primeiro semestre de 2020”, explica o banco.

“Com materialidade mais reduzida foi também registado um desvio atuarial positivo no Fundo de Pensões de 5,3 milhões e procedeu-se à reclassificação da emissão “Finibanco Valor Invest 2010” para o passivo pelo montante de 6,3 milhºoes na sequência da deliberação da Assembleia Geral realizada em junho último”, lê-se na nota.

O rácio de capital é o ponto fraco dos resultados do semestre. O capital de melhor qualidade CET1 caiu de 13,7% para 11,5%, e está já a beneficiar da flexibilização das almofadas de capital decretado pelas entidades reguladoras. O rácio de capital total, no fim do primeiro semestre de 2020, situou-se em 13,5% “beneficiando do efeito positivo da emissão de divida subordinada no montante de 50 milhões de euros e da entrada em vigor do Regulamento (UE) 2020/873 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 24 de junho 2020, que mais que compensaram a redução de resultados observada neste trimestre”, explica o comunicado.

Já os ativos ponderados pelo risco (RWA) registaram uma diminuição de 125 milhões no final do primeiro semestre de 2020, face ao valor apurado em 31 de março de 2020, “como resultado da gestão do balanço que tem vindo a ser concretizada e também devido à entrada em vigor do Regulamento referido, nomeadamente ao nível do fator de ajustamento relativo as exposições em risco sobre as pequenas e as médias empresas”.

“Os rácios de capital em 30 de junho de 2020 incorporam também os efeitos adversos exógenos aportados pela pandemia do Covid 19 ao determinar impactos desfavoráveis ao nível da desvalorização do kwanza e do Real, e ainda o efeito negativo determinado pela evolução dos ativos por impostos diferidos”, explica o banco.

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