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Centros de Saúde contrataram 50 psicólogos desde o início da pandemia. Ordem considera insuficiente

Embora o Bastonário da Ordem dos Psicólogos reconheça melhorias dos apoios aos utentes mais vulneráveis, ainda existe uma falta de profissionais de saúde mental nos centros de saúde. Desde o início da pandemia, estima-se, que tenham sido apenas contratados 50 psicólogos.
21 Janeiro 2021, 18h18

O Bastonário da Ordem dos Psicólogos considera que ainda existe um “nível de resposta preocupante” no que toca ao acompanhamento continuado psicológico nos centros de saúde. De acordo com Francisco Miranda Rodrigues, embora se tenha feito uma melhoria na resposta aos utentes com mais vulnerabilidades do foro psicológico desde o inicio da pandemia, os números de psicólogos nos centros de saúde continuam a ser insuficientes.

“Antes da pandemia existiam cerca de 250 psicólogos a trabalhar para o Serviço Nacional de Saúde nos cuidados de saúde primários,” começou por referir, acrescentado que, desde então, a Ordem dos Psicólogos não conseguiu apurar o número real de profissionais de saúde desta área que tenham sido contratados temporariamente como reforço do SNS. No entanto, o Bastonário adianta que, embora não seja um número oficial, estima que tenham sido apenas recrutados 50 psicólogos. Tal como referiu numa entrevista ao Jornal Económico, existem 2,5 profissionais de saúde desta área, no serviço público, por cada 100 mil habitantes.

“É necessário um reforço destes profissionais nos centros de saúde”, reforçou durante a audição conjunta com a Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos na Comissão eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da Covid-19 e do processo de recuperação económica e social, no Parlamento.

“O aspeto principal que identifico para resolver é o facto de que sem o mínimo de psicólogos, não vamos conseguir fazer um trabalho que mais à frente será mais crítico”, relembra. “Cada dia que passa, todos os estudos que têm saído vão mostrando que o impacto psicológico desta pandemia é um impacto que chega à maioria da população”, continuou.

Embora apele para um reforço destes profissionais para que sejam prestados cuidados aos utentes com mais vulnerabilidades, “não falo só de perturbações mentais, mas também estas têm vindo a aumentar na população portuguesa”, o doutor Francisco Miranda Rodrigues realça que a linha para acompanhamento psicológico, construída em 15 dias pela Ordem em colaboração com os serviços partilhados do Ministério da Saúde, já atendeu mais de 60 mil chamadas desde 1 de abril.

Embora seja um número considerável, o responsável considera que o acompanhamento serve para prestar um “serviço imiediato” e ressalva que um acompanhamento posterior é fulcral para garantir o bem estar do utente.

Outro aspeto positivo na avaliação do setor em Portugal, numa altura em que este tipo de serviços uma vez que o desemprego e a perda de rendimentos está a aumentar, é o reforço de profissionais de psicologia nas escolas. “Só para resposta da pandemia, foram contratados mais de 400 profissionais”, adiantou na sua audição, esta tarde.

Jovens adultos e mulheres são os mais afetados por perturbações mentais

De acordo com os resultados do estudo “Saúde Mental em Tempos de Pandemia (SM-COVID19)”, conduzido pelo Instituto de Saúde Ricardo Jorge, cerca de 25% dos portuguesa apresenta sintomas moderados a graves de ansiedade, depressão e stress pós-traumático.

De acordo com resultados deste trabalho, na população em geral, são sobretudo os jovens adultos e as mulheres que apresentam sintomas de ansiedade e de depressão moderada a grave. Já de entre os profissionais de saúde e também como esperado, são sobretudo aqueles que estão a tratar doentes com Covid-19 que apresentam ansiedade moderada a grave (42%), sendo que é ainda neste grupo de indivíduos que os níveis de burnout (exaustão física e emocional) são mais elevados (43%).

No que diz respeito à expectativa face ao futuro após a pandemia, a maior parte dos indivíduos revela preocupação em não saber quando haverá um tratamento ou uma vacina eficaz (89%) e com a possibilidade de o país entrar numa crise económica muito grave (96%). Os participantes referiram ainda preocupação com o facto de não conseguirem recuperar o rendimento que tinham antes da pandemia (75%) e com o facto da sua forma de viver não voltar a ser a mesma que era antes (79%).

Apesar disso, mais de 40% do total de respondentes ao estudo SM-COVID19 sente-se otimista em relação ao futuro.

Face à situação atual, o Bastonário da Ordem dos Psicólogos apela: “A recuperação do país depende das pessoas. Não podemos descoroar esta dimensão que tem sido tão descorada ao longo de tantos anos no que diz respeito à saúde em Portugal”, reforçou.

 

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