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A pandemia de Covid-19 e a Globalização: uma breve reflexão

A globalização tem sido posta em causa no atual quadro de incerteza motivado pela pandemia Covid-19. De facto, uma parte significativa da população refere a globalização como causa da rápida propagação do vírus pelo mundo.
10 Dezembro 2020, 07h15

Portugal foi assolado na sua história por diferentes epidemias, destacando-se: i) Peste Negra, 1348 a 1349, novas ondas até final do século XVII; ii) Cólera Morbus, 1855 a 1857; iii) Febre Amarela, 1857; iv) Tuberculose, final do século XIX. v) Peste Bubónica, 1899 a 1900, no Porto; vi) Tifo Exantemático, 1917 a 1919, também no Porto; vii) Gripe Pneumónica, 1918 a 1919; viii) Varíola, junho a dezembro de 1918.

As estatísticas são parcas e contraditórias, mas apenas a Pneumónica, tal como hoje o covid-19, levou, na época, ao encerramento de escolas, proibição de feiras e romarias e decretou o “fim de contactos pessoais, como apertos de mão e beijos”. Não obstante isso, registaram-se no país entre 117.764 (Baltazar et al., 2018) a 135.257 (Sobral & Lima, 2018) mortes em apenas um ano.

A globalização tem sido posta em causa no atual quadro de incerteza motivado pela pandemia Covid-19. De facto, uma parte significativa da população refere a globalização como causa da rápida propagação do vírus pelo mundo.

No entanto, de acordo com Harari (2020), na história da humanidade há registos de outras epidemias que se difundiram pelo globo, algumas reincidentes em várias ondas e não vivíamos esta fase avançada de globalização. O autor acrescenta que para isso acontecer seria necessário recuar ao período da Idade da Pedra, uma vez que já na Idade Média, as epidemias se propagavam livremente. Os movimentos favoráveis à globalização, indicam, ainda, que no século XXI as epidemias têm menos incidência e impacto do que anteriormente.

Na verdade, as epidemias têm sido inevitavelmente protagonistas da história da humanidade, elevando os vírus, a par do homem, aos dois grandes grupos de competidores no planeta.

Foucault (1977) refere-se, por isso, às epidemias como uma espécie de individualidade histórica que requerem um método complexo de observação. Com efeito, enquanto, fenómeno coletivo, exigem um olhar múltiplo que capte o processo único, capaz de descrevê-las na sua singularidade e imprevisibilidade; e, para isso, é preciso ter sempre presente a história e requer muito tempo, o que, infelizmente, no nosso caso parece escassear.

Foucault, M. (1977). O Nascimento da Clínica. Editora Forense-Universitária. Rio de Janeiro.

Harari, Y. N. (2020). Faltam líderes à Humanidade na batalha contra o coronavírus. Visão nº 1411. Edição de 19 a 25 de março.

Nunes, B. Silva, S. Rodrigues, A. Roquette, R. Batista, I. Rebelo-de-Andrade, H. (2018). The 1918-19 Influenza Pandemic in Portugal: A Regional Analysis of Mortality Impact. American Journal of Epidemiology, 164, pp. 1-30.

Sobral, J., Lima, M. (2018). A epidemia da pneumónica em Portugal no seu tempo histórico. Ler História, 73, pp. 45-66.

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