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Abraçar o Futuro com Esperança

Com efeito, não estamos tão mal como parece, mas, obviamente, sempre podemos e devemos melhorar.
11 Novembro 2019, 07h15

No texto do passado mês abordámos o tema do conhecimento realçando a sua importância histórica na construção do mundo que hoje temos. Para o efeito, apresentámos algumas questões e lançámos hipóteses de resposta, cujos resultados revelamos abaixo. Achamos por bem fazê-lo, dado o contexto de crescentes reivindicações por um mundo melhor, como se tudo estivesse mal, responsabilizando as gerações passadas e presentes pelo, eventual, colapso do planeta, cujo rosto mais visível desta contestação é o da jovem ativista Sueca Greta Thunberg.

Em abono da realidade e do respeito pelas gerações passadas, é importante que se refira que o mundo está substancialmente melhor atualmente do que no passado. Exemplificando, a percentagem de raparigas que concluem a escola primária nos países de pior rendimento a nível mundial, é hoje de 60%. Nos últimos 20 anos, a proporção da população mundial a viver em pobreza extrema reduziu para metade. A esperança média de vida no mundo é atualmente de 70 anos. O número de mortes anuais derivadas de catástrofes naturais, reduziu, nos últimos 100 anos, para menos de metade. A percentagem de crianças com 1 ano de idade que foram vacinadas contra algum tipo de doença atingiu os 80% em todo o mundo[1].

Naturalmente, para chegarmos a este ponto de desenvolvimento cometeram-se alguns erros e sacrificaram-se recursos, que tudo indica estão na origem de novos problemas e desafios, designadamente: a questão das alterações climáticas e da sustentabilidade do planeta, que nos remetem subsidiariamente para outras questões, como o aumento da população e a escassez de recursos, entre outros.

No entanto, mais do que condenar e procurar encontrar os culpados, parece-nos melhor opção procurar as causas (não os vilões), olhar para o sistema (não produzir heróis) e discutir seriamente as soluções para os problemas atuais, tal como os nossos antepassados fizeram anteriormente com os problemas deles. De referir que alguns desses problemas, devido à sua dimensão e complexidade, demoraram séculos a solucionar. Por exemplo, em 1893 o direito de voto das mulheres existia apenas num país, Nova Zelândia, e só a partir de 1950 registou um crescimento vertiginoso, sendo que na Suíça apenas foi legislado em 1971. Em Portugal, foi concedido, mas com limitações, pela primeira vez em 1931, pelo decreto 19694, de 05 de Maio[2]. Na atualidade (2017), é uma realidade em 193 países. É, pois, esta mesma liberdade que permite atualmente à jovem ativista manifestar-se internacionalmente de forma aberta.

As soluções tecnológicas das 3 Revoluções Industriais – 1ª: substituição da produção artesanal pela produção fabril (máquina a vapor e tear mecânico); 2ª: eletrificação e produção de bens em massa (energia elétrica e linha de montagem móvel); 3ª: sistema de produção flexível e tecnologias de informação (computação, CAD e CAM[3]) – por que passou a humanidade, principalmente a 2ª e 3ª, além de facilitarem as tarefas, induziram elevados acréscimos de produtividade do trabalho, que abriram as portas ao estado social.

Porém, presentemente, a 4º revolução industrial (fusão da realidade física e virtual, sistemas de máquinas inteligentes conectadas, possibilitando um modelo de produção personalizado e em massa) substitui, através da automação e robótica, as pessoas no mercado de trabalho e coloca-nos perante a questão dramática de saber o que fazer com tantas pessoas desocupadas, no curto prazo?

A sociedade contemporânea, a par do que defendem certos teóricos, encontra-se no auge de uma metamorfose líquida percetível (ou seja, quando tudo se esvai com facilidade, sem vínculo ou continuidade), apresentando-se como um novo tipo de modernidade e globalização extrema. Neste âmbito, destacam-se o sociólogo polaco Zygmunt Bauman (1925-2017), na sua obra Europa Líquida, e o filósofo ocidental sul-coreano Byung-Chul Han, em A Sociedade da Transparência.

A sociedade atual, tanto ocidental quanto oriental, é caracterizada por Han como “sociedade da transparência”, ao passo que para Bauman é uma “sociedade líquida”. Para Han, na sociedade da transparência há a exposição excessiva das pessoas e controle do ambiente, que por sua vez gera uma negatividade implícita que pode podar ideais utópicos devido ao controle do que se é exposto. A fase líquida da modernidade corresponde à efemeridade e vulnerabilidade, não permitindo a consolidação cultural. Isto é, a solidificação, o que torna complicada a inovação e consolidação de novas ideias e construção de caminhos para problemas sérios.

É neste quadro que devemos refletir o futuro, analisando-nos a nós próprios, por forma a procurar as melhores soluções para abraçar esse mesmo futuro, que agora nos desafia, com uma esperança renovada. Com efeito, não estamos tão mal como parece, mas, obviamente, sempre podemos e devemos melhorar[4].

[1] Rosling, H., FACTFULNESS, Hodder & Stoughton, 2019
[2] https://dre.pt/application/dir/pdfgratis/1931/05/10400.pdf
[3] CAD: Desenho assistido por computador e CAM: Manufactura assistida por computador.
[4] Idem 1.

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