A zona euro continua a enfrentar perspetivas claramente negativas, a julgar pela leitura mais recente do índice de gestores de compras (PMI), mas a dinâmica salarial até deu uma ajuda ao Banco Central Europeu (BCE), cada vez mais pressionado pela possibilidade de estagnação no bloco da moeda única: os custos com o trabalho desaceleraram no terceiro trimestre, dando mais um sinal aos decisores monetários que a inflação está em rumo para regressar ao objetivo de 2%.
A leitura mais recente do PMI composto para a zona euro, referente a dezembro, aponta para uma melhoria de 48,3 para 49,5 em dezembro, contrariando a expectativa de um mês sem mexidas em 48,3 pontos – uma subida insuficiente para sinalizar o regresso à expansão da atividade (acima de 50 pontos). Mais uma vez, a recessão do lado industrial agravou-se, com o indicador a cair ainda mais para 45,2 e o referente à produção a tocar mínimos de um ano, com 44,5.
Os serviços até conseguiram ficar acima de 50 pontos, com 51,4, após a leitura de 49,5 em novembro, dando algum fôlego ao bloco da moeda única, mas insuficiente para evitar que o indicador composto ficasse em terreno de contração da atividade.
Este é mais um sinal de que o abrandamento da economia europeia no final do ano ainda não atingiu o ponto mais baixo, reforçando a probabilidade de uma estagnação no quarto trimestre. No entanto, os analistas da Pantheon Macro relembram que o indicador “tem consistentemente subestimado o crescimento nos últimos trimestres”, pelo que a sua projeção passa por um avanço anémico de 0,1%.
Por outro lado, os subíndices referentes aos preços de venda aceleraram, refletindo, sobretudo, a tendência do lado dos serviços e uma aceleração nos custos intermédios – a mais marcada em quatro meses.
O crescimento tem sido cada vez mais a prioridade do BCE, apesar do seu mandato hierárquico colocar a estabilidade de preços como objetivo principal, pelo que a pressão para cortar juros é elevada. Ainda assim, e apesar deste aumento nos subindicadores correlacionados com a inflação, “o BCE não precisará de se preocupar com as subidas”.
Christine Lagarde, presidente do banco central, parece partilhar da visão. Esta segunda-feira, em Vilnius, a líder da autoridade monetária europeia garantiu que “os dias mais sombrios” da luta contra a inflação já passaram, projetando mais cortes de juros no próximo ano.
“Se os dados futuros confirmarem o nosso cenário base, a direção da trajetória é clara e esperamos cortar juros ainda mais em breve”, afirmou num discurso. Lagarde ressalvou que a inflação doméstica continua demasiado elevada, mas sublinhou a perda de ímpeto do lado dos serviços, a componente mais persistente e que vinha prejudicando as perspetivas do banco central.
Como tal, há margem para os indicadores continuarem a descer – e é precisamente essa a expectativa do BCE, admitiu Lagarde.
Em parte, esta confiança é explicada pelo facto de o custo unitário do trabalho ter desacelerado significativamente no terceiro trimestre, de 5,2% para 4,6%. Tal dividiu-se entre 4,4% do lado dos salários (menos 0,5 pontos percentuais do que no trimestre anterior) e 5,2% do lado não-salarial (menos 0,6 pontos percentuais do que no segundo trimestre).
Estes são valores “ainda demasiado altos para o conforto de um banco central com um objetivo de 2% na inflação”, escreve a Pantheon, “mas a trajetória é claramente para baixo”.
“Com o crescimento dos lucros e das margens a abrandar marcadamente, a inflação nominal e a subjacente podem continuar a cair nos próximos seis a 12 meses, mesmo que o custo unitário do trabalho permaneça elevado”, lê-se na nota do think-tank. Na mesma linha, os indicadores preliminares das negociações coletivas nas maiores economias do bloco apontam para uma continuação desta tendência de desaceleração, outro fator a ajudar o BCE.
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