A China é hoje a maior economia do sudoeste asiático, e muitos apontam este, como sendo o século chinês, o surgimento de uma nova potência económica líder mundial. Apesar da chamada guerra comercialcom os Estados Unidos, a percepção dos investidores e analistas relativamente ao futuro próximo tem-se mantido relativamente positiva para a China. No entanto, existem algumas questões relativamente à sustentabilidade de ritmos de crescimento impetuosos como vimos na ultima década.

É provável, que apesar das dinâmicas desta economia se manterem atrativas, que se registe nos próximos anos um abrandamento das taxas de crescimento.

 Em primeiro lugar, importa referir que existem factores favoráveis que se sobrepuseram ao impacte de uma anunciada guerra comercial com os Estados Unidos. Desde logo, porque não se verificou nenhum hard landing do gigante asiático, que era um dos receios de muitos analistas e economistas.

Em segundo lugar, existe a percepção de que as reformas que foram levadas a cabo pelo carismático presidente Xi Jinping , estão a dar os seus frutos.

Por fim, acresce a estes factores, e dada a importância do Estado no desenvolvimento económico neste país, que os poderes do presidente chinês saíram muito reforçados do ultimo congresso do Partido Comunista Chinês – o que pode ajudar a materializar a ambição do presidente, em conferir aos mercados um papel decisivo no que diz respeito à alocação de recursos.

Esta é contudo, também uma das duvidas que prevalecem para os analistas que acompanham de perto a economia chinesa. Os poderes alargados do presidente Xi Jinping podem servir para abrir mais a economia chinesa aos privados. Mas esta suposta orientação parece colidir com a evidência prática dos últimos anos, e que apontam para uma maior estatização das empresas, e de controle sobre os sectores económicos.

De acordo com análises de casas de research independentes, como a Capital Economics o foco das reformas anunciadas tem-se dirigido mais à necessidade de manter controlo do Estado nos sectores produtivos, do que manter o rumo com destino a um sistema mais liberalizado. E isto tem-se vindo a refletir em empresas mais pesadas, com menor capacidade de entregar rentabilidade aos investidores.

Ou seja, num enquadramento mais difícil para a China, desde logo com aguerra comercial – que apesar de à partida ter efeitos contidos, terá o seu risco e impacte económico – e a verificar-se esta agenda económica mais estatizante, o crescimento médio da ultima década pode registar um abrandamento acentuado nos próximos dez anos, para ritmos mais em linha com a média dos países emergentes (em torno dos 3%). Níveis estes que poderiam condicionar a ambição deste país de destronar os Estados Unidos como maior economia mundial nos próximos anos.

Sem dúvida que continuaremos a presenciar a confirmação da China como a grande potência económica da Ásia na próxima década, e a uma maior maturidade da estrutura de crescimento económico e da solidez estrutural da mesma. Porém poderá ser necessária uma transição social – seja sobre que forma for – para que a agenda estatizante possa ser novamente colocada em segundo plano, e se voltem a registar novos anos de “Dragão”.