A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 512 testemunhos validados relativos a 4.815 vítimas entre 1950 e 2022, anunciou hoje o coordenador Pedro Strecht.
Na sua intervenção, o coordenador da Comissão Independente recordou alguns relatos de vítimas de abuso sexual na Igreja.
“Quantas vezes depois chorei em igrejas vazias, sim porque passei a senti-las sempre vazias. Acredito apenas no meu deus e esse sim é bom”, citou Pedro Strecht.
O coordenador disse ainda que os crimes registados pela Comissão ocorreram em seminários, colégios internos, instituições de acolhimento, confessionários, casas do padre.
Por sua vez, o psiquiatra Daniel Sampaio referiu as “características gerais do abuso sexual”.
“O abuso sexual ocorre em regra em menores de 13 anos, é efetuada por adultos próximos da criança, familiares e conhecido que têm proximidade com a criança, aparece também em instituições religiosas, escolares, desportivas e situações de acolhimento”, descreveu Daniel Sampaio.
Segundo o psiquiatra “a característica fundamental do abuso é o poder que o abusador tem em relação á criança”.
Relativamente ao abuso praticado nas instituições religiosas, Daniel Sampaio apontou que “aparece uma vulnerabilidade da criança que é ampliada por uma crença espiritual”.
“Portanto, a relação espiritual que aparece na instituição religiosa entre o abusador e a criança, torna a criança mais vulnerável, uma frase que ouvimos muitas vezes entre as vítimas é a de: o senhor padre é a voz de deus”, destacou.
Daniel Sampaio também adiantou que no que toca aos abusos “18% de meninas são abusadas ate aos 18 anos e 8% do sexo masculino”.
No que diz respeito ao que pode ser feito, “a maior percentagem das pessoas acha que não há reparação do sucedido, mas aguarda um pedido de desculpa por parte dos abusadores ou da parte da igreja enquanto instituição”.
O antigo ministro da Justiça, Laborinho Lúcio, indicou que a comissão reencaminhou 25 casos para o Ministério Público. Laborinho Lúcio admite que “parece muito poucos” tendo em conta o universo apresentado no relatório, mas indica que grande parte dos abusos já tinham prescrito.
Os casos de abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa, num ano em que a Igreja se vê agora envolvida também em controvérsia, com a organização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.
Hoje será conhecida a primeira reação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), presidida pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, e para 03 de março foi já convocada uma assembleia plenária extraordinária da CEP para analisar o relatório.
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