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Aicep quer exportações a valer 50% do PIB até 2025

O presidente Luís Castro Henriques apresentou ontem o novo plano estratégico da Aicep para os próximos três anos, assente no reforço e diversificação dos investimentos estrangeiros e dos mercados de exportação e numa aposta nas ferramentas digitais.
  • Joaquim Morgado/ICPT
15 Novembro 2017, 07h35

Luís Filipe Castro Henriques está há menos de oito meses à frente da Aicep, a agência de promoção das exportações e da internacionalização das empresas portuguesas, mas tem objetivos ambiciosos, para o seu mandato, entre o quais prosseguir o caminho para que as exportações nacionais nacionais valham 50% do PIB – Produto Interno Bruto do País entre 2020 e 2025 (ver entrevista ao lado). No final de 2016, consoante as fórmulas estatísticas, as exportações nacionais equivaleram a qualquer coisa como 41% ou 42% do nosso PIB.

Este é um dos objetivos primordiais do novo líder da Aicep, que pode ainda ser alcançado com Luís Castro Henriques à frente da agência, uma vez que o seu mandato só termina daqui a cerca de três anos (ver entrevista ao lado). Mas não é o único desafio que a Aicep tem pela frente, de acordo com o plano estratégico para os próximos três anos, ontem apresentado publicamente por Luís Castro Henriques, num almoço-debate organizado, em Lisboa, pelo International Club of Portugal (ICPT).

Luís Castro Henriques considera que ao longo das últimas três décadas, a natureza e o dinamismo do tecido empresarial exportador nacional se alterou de forma profunda, gerando “um novo paradigma de investimento e exportação em Portugal, que, por sua vez, geram novos desafios”. Passou-se de uma predominância de empresas focadas no mercado interno ou com elevada dependência dos países europeus, assente no fabrico de produtos de baixo custo e baixo valor acrescentado, com mão-de-obra intensiva e pouco tecnológicos, para uma base exportadora nacional mais alargada e com maior diversificação de mercados, com um aumento na qualidade dos produtos e melhoria da reputação dos setores industriais tradicionais, com um maior peso dos produtos de alto valor acrescentado e com componente tecnológica, não esquecendo que está a ocorrer a emergência de um movimento de startups com forte orientação internacional. “As startups, quando nascem, já têm uma forte orientação global. Parece-nos ser algo sustentável e de longo prazo”, defendeu Luís Castro Henriques na apresentação que ontem efetuou no ICPT.

No que respeita ao investimento estrangeiro em Portugal (IDE), o presidente da Aicep diz que se passou de uma situação de predominância de investimentos intensivos em mão-de-obra, de baixo custo, com natureza pouco tecnológica e de baixo valor acrescentado. Até há poucos anos, o IDE de valor acrescentado em Portugal centrava-se quase exclusivamente no setor automóvel. Hoje em dia, segundo Luís Castro Henriques, a situação é quase diametralmente oposta, com um crescente peso de setores tecnologicamente avançados e com alto VAB – Valor Acrescentado Bruto e com o surgimento de novos clusters de indústrias de ponta. Outro fenómeno recente é a emergência de investimento estrangeiro em Portugal em centros de serviços partilhados, seja nas áreas de engenharia, de I&D (investigação & desenvolvimento) ou de software, por exemplo. “Temos conseguido cada vez mais angariar este tipo de investidores porque as grandes empresas internacionais têm a noção de que os nossos jovens são altamente qualificados”, explicou o presidente da Aicep.

Luís Castro Henriques revelou que a média anual de IDE captado pela Aicep nos últimos dois anos foi de 1.465 milhões de euros, seja em novo investimento produtivo, seja em reinvestimento de empresas que já cá estavam instaladas. Para este ano, o presidente da Aicep prevê a captação de cerca de 1.500 milhões de euros de IDE.

“Emergiu em Portugal um novo racional para investir em Portugal, mais focado no talento, competitividade e inovação”, sublinhou ontem Luís Castro Henriques. O presidente da Aicep relembrou que o nosso País está no ‘top 30’ de todo o Mundo dos melhores países para fazer negócios, segundo o Banco Mundial, e no ‘top 15’ do Mundo com melhor nível de inglês, uma ranking que inclui países que têm o inglês como língua nativa.

Além dos fatores da competitividade de Portugal na atratividade para fazer negócios e na qualidade e flexibilidade dos recursos humanos (propensão para a engenharia, capacidades linguísticas, etc), Luís Castro Henriques destacou ainda como pontos positivos a qualidade da rede de infraestruturas e dos centros de investigação, assim como a existência de redes de fornecedores de elevada qualidade, como por exemplo, no setor automóvel.

Mas existem pontos menos favoráveis e esse são os grandes desafios para a Aicep nos próximos anos. O número de empresas com perfil exportador em Portugal aumentou 38% entre 2010 e 2015, para um total de cerca de 23 mil sociedades. O peso destas empresas na economia nacional é bastante elevado, tendo representando 35% do volume de negócio e 23% do emprego gerados pelas sociedades não financeiras (SNF) no período em análise. Mas, apesar do crescimento registado, as empresas com perfil exportador apenas representam 6,2% das SNF portuguesas. “Apesar do importante contributo para a economia nacional, a base de empresas exportadoras ainda tem bastante margem para crescer”, advogou o presidente da Aicep, acrescentando que é também fundamental “reduzir a dependência das grandes exportadoras, com 100 empresas a representarem 43% das exportações de bens em Portugal”. Mais: 49% das exportadoras, exportam apenas para um mercado, na sua maioria, para ‘mercados da saudade’.

Luís Castro Henriques entende que é necessário continuar a apostar na diversificação de mercados para reduzir o risco e assegurar um fluxo de exportação estável. No plano estratégico para os próximos três anos, pretende responder-se a estes desafios, com um ação assente em três pilares de atuação: enfocar e reforçar a rede para melhor servir os mercados prioritários; melhorar o nível de serviço e alargar a base de empresas apoiadas pela Aicep via revisão do modelo de serviço e reforço dos canais digitais; e fortalecer e alargar a oferta de produtos e serviços da Aicep. Estes três pilares estarão assentes num outro, transversal, que passa por reforçar as capacidades internas da própria Aicep.

“Queremos reforçar as nossas ferramentas e canais digitais, porque têm um custo marginal de expansão e nos permitem chegar mais perto a mais interessados, e queremos reforçar o apoio às 10 mil PME que não têm relação comercial com a Aicep”, assumiu Luís Castro Henriques.

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