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Ainda com profundas divergências, líderes europeus tentam chegar a acordo sobre o plano de recuperação da economia

As negociações do Conselho Europeu sobre o plano de recuperação para a Europa arrancam esta sexta-feira, em Bruxelas. Depois de intensos contactos bilaterais e de algumas cedências, não é ainda certo que um acordo fique fechado já neste encontro.
Copyright: European Union
17 Julho 2020, 07h44

A pressão é elevada, mas dificilmente os líderes europeus conseguirão fechar o acordo sobre o Fundo de Recuperação até sábado, quando os 27 chefes de Estado e de Governo se reunirem em Bruxelas com os representantes das instituições europeias. Na primeira reunião presencial desde o início da pandemia, a expectativa é que a proposta reformulada pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, sobre o plano de recuperação europeu permita aproximar posições, que se mantém divergentes, e encurtar o caminho até ao ponto de equilíbrio que se espera seja alcançado até ao final do verão.

A urgência, que tem sido repetida pelos responsáveis pelas instituições europeias, ficou visível na carta-convite enviada por Charles Michel: “Desde a nossa última cimeira, em junho, trabalhámos intensamente com todos vós e tomámos nota das vossas preocupações. Partindo dessa base, apresentei uma proposta destinada a superar as principais dificuldades e que lança pontes entre as diferentes posições”.

“A obtenção de um acordo exigirá, da parte de todos, trabalho árduo e vontade política. Chegou o momento de agir. É essencial obter um acordo”, vincou.

A ronda de negociações de dois dias arranca esta sexta-feira pelas 9horas (de Lisboa) e ficará marcada pela já tradicional troca de pontos de vista com o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, antes da primeira sessão de trabalho.

O presidente do Conselho Europeu apresentou na passada sexta-feira uma nova proposta de orçamento de longo prazo da União Europeia e do pacote de recuperação, com o objetivo de aproximar posições, diminuindo para os 1,074 biliões de euros, as verbas previstas para o Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027, abaixa-luzes dos 1,1 biliões propostos pela Comissão.

“Espera-se uma polarização entre os países do Sul, a França e a Alemanha, que defendem uma modalidade de subsídios a fundo perdido e os países do Norte, os chamados ‘frugal four’ – um grupo composto pela Suécia, Dinamarca, Holanda e Áustria”, realça o analista da ActivTrades Ricardo Evangelista, que ainda assim considera que “as expectativas são altas”.

“Mas, uma vez mais, encontramos uma diferença entre o otimismo dos países do Sul, que estão próximos do formato proposto pela França e pela Alemanha, e os países do Norte, que talvez por uma questão de estratégia negocial têm mostrado ceticismo relativamente à possibilidade de surgir um acordo durante o fim de semana”, diz, ainda que considere que para alcançar um acordo será necessária “uma solução de compromisso que aproxime as posturas, neste momento opostas, dos dois grupos”.

Para o analista, “a determinação da Alemanha, país que até há pouco tempo recusava o tipo de solidariedade fiscal que agora defende, será determinante para que, pela primeira vez na história, a União Europeia emita dívida conjunta a ser distribuída de acordo com as necessidades dos estados-membros”.

Esta quinta-feira, também a presidente do Banco Central Europeu (BCE) exortou os líderes europeus a chegarem a um acordo rapidamente. Christine Lagarde não antecipa que as negociações sejam fáceis, uma vez que “todos têm a sua agenda”, mas espera que as divergências entre os Estados-Membros sejam superadas. “Todos têm a sua agenda e não me surpreende que em todos os projetos europeus importantes as preocupações de cada Estado Membro sejam tidas em consideração”, disse. “Acreditamos que o Fundo de Recuperação seja criado e que terá de subvenções de volume maior do que os empréstimos”, vincou.

O analista Ricardo Evangelista sublinha que a ausência de um acordo sobre o plano de recuperação europeu levará a um agravamento “da desigualdade já existente entre o Norte e o Sul, o que poderá, no médio/longo-prazo, pôr em causa o futuro do projeto europeu”.

“Para Portugal, será fundamental contar com este apoio. A economia nacional deverá ser uma das mais afetadas, devido ao impacto da crise sobre o turismo. As injeções de capital a fundo perdido, a serem investidas em setores-chave, poderão significar a diferença entre ter uma contração profunda seguida de uma recuperação mais ou menos rápida, ou algo mais sério com potencial para se arrastar durante vários anos”, sublinha.

Na segunda-feira, o primeiro-ministro, António Costa, esteve reunido com o holandês Mark Rutte, tendo-se mostrado “mais confiante” num acordo. No entanto, esta confiança foi contrariada no dia seguinte pelo primeiro-ministro da Holanda, ao dizer no  Parlamento estar “bastante pessimista” sobre as hipóteses de ser alcançado um acordo.

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