A Alemanha, mergulhada numa crise económica que se transformou numa crise política, arrisca um impacto negativo no PIB que duplica a média europeia com o protecionismo renovado nos EUA sob a administração de Donald Trump, dada a importância da indústria no país e a sua elevada integração com a economia norte-americana. Esta estimativa foi publicada ainda antes do colapso da coligação que sustenta o governo alemão e que vai levar a eleições antecipadas, esperadas para fevereiro.
As propostas de Trump, que passam por impor tarifas aduaneiras a qualquer produto produzido fora do país – o que, claro, inclui a zona euro –, irão prejudicar ambas as economias, agravando a inflação nos EUA e reduzindo a procura por bens europeus. No entanto, os impactos serão assimétricos entre os países europeus, sendo a Alemanha um dos mais prejudicados: o setor automóvel será dos mais visados pelo protecionismo da nova Administração e os EUA são o principal destino das exportações alemãs.
Segundo a estimativa do Grantham Institute, da London School of Economics (LSE), a zona euro enfrenta uma redução do PIB de 0,11%, mas a Alemanha arrisca ver um impacto de 0,23% – ou seja, ligeiramente mais do que o dobro da média europeia. Já o Instituto de Economia da Universidade de Colónia aponta para perdas na ordem dos 127 mil milhões de euros caso a UE responda com contramedidas retaliatórias, valor que pode escalar para 180 mil milhões no final do mandato se a taxa chegar a 20%.
Ainda antes da publicação deste estudo, a Goldman Sachs também havia alertado para impactos negativos consideráveis na zona euro, com a Alemanha à cabeça: o bloco da moeda única arrisca perder 1% de PIB no próximo ano, enquanto a economia germânica perderia 1,1%. Em sentido contrário, a Espanha registaria uma perda menos intensa, com apenas 0,6%.
Este cenário traçado pelo banco de investimento norte-americano prevê tarifas sobre os produtos europeus abaixo dos 10% sugeridos por Trump durante a campanha e apenas em setores específicos, como o automóvel – precisamente um dos mais relevantes para a economia alemã, apesar dos problemas profundos que se têm verificado, como o encerramento de fábricas da Volkswagen no país pela primeira vez na história centenária da empresa.
Os despedimentos não se resumem, contudo, ao setor automóvel – nem sequer à indústria. Além da Volkswagen, a Schaeffler, fornecedora de componentes para a produção automóvel, fez saber que irá cortar a força de trabalho na Europa em 4.700 postos, dos quais 2.800 na Alemanha; já esta segunda-feira, o Deutsche Bank anunciou o despedimento de 111 gestores seniores, uma das medidas para revitalizar as unidades de retalho e gestão de fortunas.
O cenário económico na Alemanha há largos trimestres que não é famoso, com a maior economia do bloco euro a transformar-se também no maior problema da moeda única. Anos de desinvestimento e uma política assente em energia barata permitiram que o setor industrial germânico fosse ultrapassado, nomeadamente pelo chinês, deixando o país mergulhado numa recessão da qual não parece capaz de sair num futuro próximo.
Após uma subida de 2,9% em agosto, a produção industrial alemã voltou a cair em outubro, recuando 2,5%, ou seja, mais do dobro do projetado pelo mercado, que apontava para 1,1%. Os bens de capital foram os que mais motivaram esta evolução, caindo 4,0% depois de subir 6,9% no mês anterior, com o setor automóvel a registar uma volatilidade acrescida. A componente externa também piorou no mês em análise, dada a queda de 2,5% nas exportações e uma subida de 2,1% nas importações.
Scholz admite voto de confiança este ano
Na vertente política, e após o colapso da coligação ‘semáforo’ (SPD, Verdes e Democratas Livres), Olaf Scholz prepara-se para convocar um voto de confiança. Inicialmente estava proposta para 15 de janeiro, mas foi acordado que seja mais cedo, a 16 de dezembro.
“Não tenho problema nenhum em convocar um voto de confiança para antes do Natal, caso toda a gente concorde”, tinha afirmado o chanceler numa entrevista televisiva, no domingo.
Esta terça-feira, 12 de novembro, foi noticiado que os principais partidos tinham chegado a acordo para a data de votação da moção de censura e para o calendário para as eleições legislativas antecipadas na Alemanha, que deverá ser 23 de fevereiro.
O Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, aprovou o calendário e considera “realista” a data proposta para o escrutínio.
A moção de confiança no parlamento alemão (Bundestag) realiza-se depois da demissão do ministro das Finanças, Christian Lindner (do Partido Liberal, FDP), que precipitou o fim da coligação governamental no poder na Alemanha.
Após a saída dos liberais e até às eleições antecipadas, Scholz liderará um Governo minoritário formado pelo seu partido, o SPD, e pelos Verdes.
Na entrevista dominical, Scholz recusou responsabilidades pela queda da coligação, acusando Lindner de minar o acordo. Argumenta que o ex-ministro teve uma postura repetidamente pouco construtiva, atirando por terra semanas de negociações árduas para a aprovação do Orçamento do Estado para 2025.
Lindner e o seu partido realizaram reuniões internas com vista a apresentar uma proposta própria de orçamento (ou um conjunto de medidas para o documento) claramente contrária às prioridades de governação dos Verdes: menos impostos sobre as empresas, abolição do adicional de solidariedade, prolongamento dos horários de trabalho e da idade mínima de reforma, redução de subsídios ambientais e sociais são algumas das medidas emblemáticas do documento conhecido há duas semanas.
Perante este cenário, Scholz até poderia continuar com um governo minoritário coligado apenas com os Verdes, mas a governação seria quase impossível, ficando, na prática, como um Executivo sem poderes até às eleições no final do próximo ano.
Uma importante reunião sobre a proposta orçamental entre os parceiros de coligação, marcada para esta segunda-feira, foi cancelada, aumentando a probabilidade de o documento não ser aprovado.
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