O novo chanceler alemão, Olaf Scholz, e o seu governo de coligação entre social-democratas, liberais e ecologistas tomará posse esta manhã em Berlim, depois de menos de três meses de negociações com vista a um entendimento de centro-esquerda. Ao contrário do que se poderia pensar, três meses não é muito – Angela Merkel demorou seis a formar o seu último executivo – o que quer dizer que as negociações foram mais fáceis que aquilo que os analistas anteviam, e que as diversas sensibilidades se combinaram para não desperdiçar a possibilidade de formação de um governo que finalmente colocasse um ponto final em mais de 15 anos de governos democratas-cristãos.
A tomada de posse dá-se depois de no último fim-de-semana os três partidos da coligação (SPD, Verdes e FDP) terem sufragado internamente as suas decisões – degrau que decorreu também muito rapidamente e sem que a comunicação social alemã relatasse qualquer desentendimento em cada uma das três formações.
A nomeação mais sensível foi a do ministro da Saúde – numa altura em que a Alemanha luta para reduzir as taxas de infeção da Covid-19. Scholz escolheu Karl Lauterbach (SPD), um epidemiologista experiente que carece de experiência executiva mas tem sido uma das vozes mais proeminentes da Alemanha no combate à pandemia.
Ao anunciar as suas escolhas para as pastas do Interior e da Defesa, Scholz disse que a “a segurança da Alemanha estará nas mãos de mulheres fortes”. Nancy Faeser (SPD) foi, segundo a comunicação social alemã, uma escolha inesperada para um cargo que inclui a supervisão das forças da polícia federal e da agência nacional de ‘intelligence’. O combate ao extremismo de direita será o seu foco. Já a ex-ministra da Justiça Christine Lambrecht, também social-democrata, tornar-se-á a nova ministra da Defesa.
Os ecologistas e os liberais também já nomearam seus ministros. O vice-chanceler de Scholz será Robert Habeck, que lidera os Verdes juntamente com Annalena Baerbock e chefiará o Ministério de Economia e do Clima. Baerbock será a primeira mulher a ocupar o cargo de ministra dos Negócios Estrangeiros.
Os cinco membros do Gabinete oriundos do partido ecologista incluem Cem Ozdemir, que será o primeiro homem de origem turca a ocupar um cargo de ministro federal. Vegetariano de longa data, Ozdemir será ministro da Agricultura.
Entre os liberais, o seu líder, Christian Lindner, será ministro das Finanças e efetivamente a terceira figura do novo governo. O partido de Lindner tem uma forte abordagem de mercado livre e bloqueou com sucesso a colocação de um limite de velocidade nas rodovias alemãs no acordo de coligação – naquela que foi considerada uma primeira vitória do partido.
O novo governo tem ainda uma vantagem acrescida: o facto de tanto os democratas-cristãos da CDU como os do seu partido-irmão bávado, a CSU, estarem a passar por uma fase difícil. Desde que Angela Merkel disse que não continuaria à frente do partido nem estava disponível para voltar a concorrer à chancelaria, que a CDU não consegue encontrar um rumo. Nos últimos dois anos, os democratas-cristãos já conseguiram acabar com as promissoras carreiras de dois dos seus membros: Annegret Kramp-Karrenbauer – que num momento de distração política permitiu uma aliança regional com a extrema-direita da AfD – e Armin Laschet, que perdeu as eleições de setembro passado.
As expectativas sobre o novo governo alemão estão em alta tanto na Alemanha como no resto da Europa. Enquanto internamente a intenção do novo executivo é empreender a modernização do país – a par do combate à pandemia – e a descarbonização da economia, fora de portas há uma grande expectativa entre os analistas para perceberem se a ‘esquerdização’ do seu elenco alterará a substância da sua atuação ao nível da União Europeia.
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