Uma grande coligação entre a CDU (e a CSU) com o SPD – é para aí que se encaminha a solução – e a expectativa de que ela seja fechada em pouco tempo parece ser do agrado da generalidade dos agentes económicos alemães. Que castigaram os liberais do FDP, considerados, em última análise, os responsáveis pela ‘vergonha’ de o país ter sido lançado em eleições antecipadas.
Os analistas tendem a dizer isso mesmo. Ben Ritchie, responsável de ações de mercados desenvolvidos da abrdn, afirma que “os investidores acolherão com satisfação o resultado das eleições alemãs, que produziram um resultado relativamente favorável ao mercado. Friedrich Merz vai liderar o próximo governo de centro-direita. Com o SPD e a CDU/CSU combinados a terem mais de 50% dos lugares no parlamento, deverá ser capaz de formar uma coligação governamental bipartidária, facilitando as negociações bilaterais e provavelmente um governo mais favorável ao mercado, sem os Verdes. É importante realçar que isto também elimina alguns cenários negativos de baixa probabilidade e alto impacto, tais como resultados muito mais fortes para a AfD ou a incapacidade dos principais partidos em formar um governo maioritário”.
Vale a pena notar, no entanto, que “o resultado torna improvável a reforma do travão da dívida, com os partidos tradicionais incapazes de reunir os dois terços necessários dos lugares, embora seja uma possibilidade dependente da cooperação da esquerda. No entanto, muito depende das negociações em torno da coligação e, em última análise, se Merz será capaz de inovar em políticas para impulsionar reformas pró-negócios e estabelecer financiamento para apoiar futuras despesas de defesa, apoio à Ucrânia e política energética.
Para Alex Everett, gestor de investimento, “os mercados de rendimento fixo vão focar-se em duas questões: a Alemanha pode gastar e Merz é um líder europeu. Os rumores pré-eleitorais sugerem que Merz está à altura do desafio de liderança”. Merz prometeu agir rapidamente para resolver a falta de crescimento da Alemanha – o anúncio de investimento na indústria alemã será uma grande prioridade. No entanto, “isto pode ser financiado por uma redução dos benefícios para os imigrantes, servindo para apaziguar os conservadores da CDU/CSU e em reconhecimento do forte desempenho da AfD”.
Esperam-se mais gastos para a defesa, especialmente após os comentários surpreendentemente diretos de Merz em apoio da segurança europeia na ausência dos EUA. No entanto, “a composição parlamentar limitará o impacto: espera-se que a minoria de bloqueio AfD-Linke inviabilize as propostas de alteração do travão da dívida. Em vez disso, o aumento das despesas com a defesa através de instrumentos fora do orçamento parece viável, podendo haver mais apoio orçamental para os investimentos conjuntos da UE”.
Finalmente, Lizzy Galbraith, especialista em economia política, diz que “Merz herdará um modelo económico cercado e uma variedade de desafios geopolíticos. A sua plataforma política irá provavelmente concentrar-se em cortes de impostos e desregulação, custos de energia e segurança de abastecimento, e postura de defesa europeia. Usou o seu discurso de vitória para prometer “fortalecer a Europa o mais rapidamente possível para que… possamos alcançar a independência dos EUA”. “No entanto, a reforma constitucional do travão da dívida será complicada por uma potencial minoria de bloqueio de um terço no Bundestag, com a Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Die Linke a garantirem, em conjunto, 215 lugares” em 630. Enquanto o AfD se opõe a qualquer reforma do travão da dívida, o Die Linke está aberto a reformas para aumentar as despesas de investimento, mas opõe-se a maiores despesas de defesa”.
Friedrich Merz e a CDU atingiram 28,52% dos votos e, aos 69 anos, já está à procura de um parceiro de coligação, que terá de ser o SPD – não conta com a extrema-direita – que não foi além dos 16,41%, naquele que foi um dos piores resultados da sua história. A extrema-direita da AfD (Alternativa pela Alemanha) ascendeu à segunda posição, com o melhor resultado de sempre em eleições gerais (20,8%). Os Verdes ficaram desta vez pelos 11,6% e o Die Linke conseguiu 8,8%, quase o dobro do que havia conseguido em 2021. O FDP ficou de fora do Parlamento, depois de não ir além dos 4,3%.
Tal como os analistas, as reações internacionais foram quase todas positivas. O presidente norte-americano, Donald Trump, disse que é “uma vitória grande” antecipada e mostrou-se satisfeito com a vitória da CDU – com os comentários a serem ditos, muito provavelmente, antes de o futuro chanceler ter sido inesperadamente duro com a política dos EUA para a Europa. “Parece que o partido conservador na Alemanha teve uma grande e muito antecipada vitória”, escreveu o presidente dos Estados Unidos nas redes sociais. Trump comparou o resultado alemão aos das presidenciais norte-americanas, em particular em assuntos como a imigração e a energia – um erro do qual se deveria ter poupado. “Vão seguir-se muitas mais vitórias!!”, escreveu Trump.
O presidente francês, Emmanuel Macron, felicitou o líder do partido alemão União Democrata-Cristã, Friedrich Merz, pela sua vitória nas eleições legislativas e sublinhou estar “mais determinado do que nunca a fazer grandes coisas” com o novo executivo germânico – quando houver um.
Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, e Luís Montenegro, primeiro-ministro português, foram dois dos políticos que endereçaram os parabéns a Friedrich Merz e manifestaram apoio à sua vontade de ‘reaquecer’ o motor da economia europeia. “Parabéns, @_FriedrichMerz, pela vitória! Estou entusiasmado com a perspetiva de trabalharmos juntos no aprofundamento das relações bilaterais entre Portugal e a Alemanha e também perante os desafios comuns na União Europeia, na NATO e nas Nações Unidas”, escreveu Montenegro.
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