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Alemanha: TikTok e X recomendaram conteúdos pró-AfD a utilizadores apartidários antes das eleições

Estudo da organização Global Witness apurou que os sistemas de recomendação no TikTok e no X são politicamente tendenciosos.
tik tok
24 Fevereiro 2025, 14h24

“O que acontece se reiniciar o seu telemóvel, criar novas contas nas redes sociais e seguir os quatro principais partidos políticos alemães antes das eleições nacionais de domingo?”

A pergunta foi lançada pela organização não-governamental Global Witness no LinkedIn, em vésperas da divulgação de um estudo  sobre a forma como os algoritmos alimentam a polarização política – e das eleições para o Bundestag, vencidas pelos conservadores da CDU e que confirmou uma votação recorde no partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD, Alternative für Deutschland).

Sobre o estudo da Global Witness, desenvolvido numa altura em que aumenta o escrutínio sobre o conteúdo recomendado pelos algoritmos, as conclusões foram claras: na Alemanha, os algoritmos das redes sociais disseminaram grandes quantidades de conteúdos do partido de extrema-direita AfD, partilhando-os tanto com seguidores como com utilizadores da rede social que não seguem o partido naquela plataforma.

As publicações a favor do partido de extrema-direita “dominaram o conteúdo partidário que nos foi mostrado por contas que não seguíamos no TikTok e no X”, explicam os investigadores, que começaram por criar nove novas contas em três redes sociais – três no TikTok, três no X e três no Instagram. A escolha recaiu sobre o TikTok e o X devido às questões levantadas sobre os seus sistemas de recomendação de conteúdos noutras noutras eleições europeias, e o Instagram por ser a plataforma de redes sociais mais popular na Alemanha.

No TikTok, 78% do conteúdo político partidário recomendado era de apoio à AfD. No X de Elon Musk, era de 64%. No Instagram, a situação era diferente: “96% do conteúdo que nos foi mostrado no Instagram vinha de uma das oito contas que tínhamos seguido”.

Fonte: Global Witness

E como chegou a ONG internacional a estes resultados?

“Procurámos semear as contas com um interesse igual nos quatro principais partidos alemães – os Democratas-Cristãos (CDU), a Alternativa para a Alemanha (AfD), os Social-Democratas (SPD) e os Verdes – clicando em seguir uma das contas oficiais dos partidos e a conta do seu líder, e observando o conteúdo. Em seguida, fomos ao feed “For You” de cada plataforma, com curadoria algorítmica, para ver que tipo de conteúdo nos estava a fornecer”, lê-se no estudo.

O relatório denuncia, também, que a plataforma X amplificou várias mensagens com conteúdo de ódio. “Uma publicação continha uma imagem de um rio de sangue a correr pelas ruas e sugeria que todos os migrantes de certos países deviam ser tratados como suspeitos e ser vigiados. Uma vez que a mesma publicação “parece violar as políticas” daquela rede social, cujas regras proíbem a divulgação de estereótipos baseados em nacionalidade, religião ou etnia, a ONG reportou a mesma ao X. “Responderam-nos que o relatório estava a ser revisto”.

Mas não será a AfD apenas mais popular nas redes sociais? O número de publicações da CDU refutam-no. “Poder-se-ia argumentar que parte da razão pela qual vimos quantidades desproporcionadas de conteúdos do AfD no TikTok e no X é porque o AfD é mais popular nas redes sociais ou porque publica mais do que os outros partidos. Mas, de facto, no TikTok, a AfD e o seu líder não são os que publicam mais conteúdos. A CDU e o seu líder publicaram 69% mais conteúdos do que a AfD e o seu líder em 2025, e os Verdes e o seu líder publicaram mais 24%”, analisa a Global Witness.

Quanto ao antigo Twitter, as partilhas da AfD e de Alice Weidel, candidata a chanceler pelo partido, que foi entrevistada por Musk em direito no X, ultrapassam as dos outros partidos em número, seguidas das dos Verdes e do seu líder. Isto para publicações deste ano. “Nos nossos testes, o conteúdo de apoio aos Verdes foi o menos visível, enquanto o conteúdo de apoio à AfD foi o mais visível. A frequência de publicação não nos diz muito sobre a priorização algorítmica”, explicam.

No início do ano, a Comissão Europeia anunciou que iria analisar a conversa tida em direto no X, entre Elon Musk e Alice Weidel, de forma a monitorizar se os algoritmos da X promoveram a entrevista de forma a dar à AfD uma vantagem injusta nas eleições.

“Tem controlo sobre as contas que escolhe seguir. Embora existam formas de indicar a uma plataforma o que mais quer ver, em última análise, as mensagens que as plataformas enviam para si estão estão fora do seu controlo. E, no nosso teste, o conteúdo político escolhido pelos sistemas de recomendação no TikTok e no X era politicamente tendencioso”, explica a Global Witness.

Ainda segundo a Global Witness, em violação da suas próprias regras, o TikTok amplificou um anúncio pró-AfD, que acabou por ser removido após o alerta feito pela ONG. “Em todas as nove contas de teste, só nos foi mostrado um anúncio: era um post de parceria pago de apoio ao AfD no TikTok, que foi visto mais de 600.000 vezes. O TikTok proíbe todos os anúncios políticos e baseados em questões incluindo em promoções pagas, bem como anúncios diretos.

A Global Witness confrontou tanto o TikTok como o X com a análise feita, mas só o segundo não respondeu. “O TikTok afirmou que a metodologia não reflete a experiência de outras contas que interagem com uma variedade de tópicos. A empresa afirmou que o feed “Para si” se destina a ser exclusivo de cada utilizador e sugeriu outros factores que influenciam o conteúdo que um utilizador vê, conforme descrito na sua página Web. “A TikTok tem demonstrado um forte compromisso com a integridade eleitoral na Alemanha, fornecendo um recurso para informações fiáveis na aplicação e removendo conteúdos nocivos, entre outras medidas destinadas a reforçar a plataforma. O TikTok também disse que, embora não tenha recebido remuneração pelo anúncio político específico que partilhado, este tinha sido removido por violar a política de conteúdos de marca do TikTok”, destaca o relatório.

Este mês, o investigador Ognjan Denkovski, da Democracy Reporting International (DRI), admitiu que apoiantes da AfD coordenam esforços de manipulação do algoritmo das redes sociais.

“Encontrámos provas suficientes em várias plataformas de que os apoiantes da AfD se envolvem em algum nível de utilização coordenada dos algoritmos das redes sociais para promover as suas ideias”, revelou. Recentemente, a DRI venceu, em conjunto com a Sociedade para os Direitos Civis (Gesellschaft für Freiheitsrechte), uma ação em tribunal que obriga o antigo Twitter a permitir o acesso a dados sobre conteúdo político publicado antes das eleições legislativas deste domingo.

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