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Alexandre Fonseca: “Cibersegurança não é só investimento. Também é cultural”

Evento do JE debateu esta quarta-feira os desafios das empresas no contexto da Inteligência Artificial e da cibersegurança. “Empresário têm consciência mas não um grau de preparação”, lamenta presidente do Conselho Estratégico de Economia Digital da CIP.
17 Setembro 2025, 13h40

A cibersegurança está muito longe de ser apenas uma questão referente ao investimento uma vez que, no que concerne às empresas, há um aspeto cultural que deve ser assegurado e que é tão ou mais importante. A ideia foi deixada por Alexandre Fonseca, presidente do Conselho Estratégico de Economia Digital da CIP, no evento do JE dedicado à Inteligência Artificial e Cibersegurança, que decorreu hoje em Lisboa.

O encontro Special Report – IA e Cibersegurança, no Hotel Intercontinental Lisboa, reúne em Lisboa, esta quarta-feira, especialistas de várias áreas para debater os impactos da inteligência artificial e os desafios emergentes da segurança digital. O debate cruza perspetivas tecnológicas, regulatórias e de gestão, com o objetivo de perceber se as empresas estão verdadeiramente conscientes dos riscos e preparadas para responder a esta nova realidade.

Mas estarão as empresas conscientes dos riscos digitais que podem enfrentar? Sim e não, conclui o antigo responsável da Altice Portugal: “Há uma consciência para estas temáticas mas não há um grau de preparação em Portugal, num tecido constituído sobretudo por PME. Estudos recentes mostram que em Portugal existe essa consciência, no top management e nas camadas intermédias de gestão. Há uma pressão exterior relativamente a esta temática, com impactos evidentes mas também uma consciência dos colaboradores que estão cada vez mais preocupados com a sua identidade e pegada digital”.

“Nas PME há essa preocupação mas não deixamos de ser latinos porque uma coisa é a consciência e outra é a preparação. Está relacionado com investimento mas também com uma questão cultural que obriga as empresas a agir só perante a casa roubada, digamos em sentido figurado. É preciso estratégia e uma cultura de segurança. O fator humano é relevante mas a empresa deve ter essa cultura de segurança e que essa cultura seja fomentada pela liderança”, destacou.

Alexandre Fonseca realça que a CIP “não fica tranquila” com aquilo que possa acontecer e confessa: “Há muito trabalho a fazer”. Se a tecnologia é “muito importante”, a verdade é que “existe uma vertente comportamental que é extremamente importante e deve ser levada até à gestão, que muitas vezes acha que não precisa dessa formação”.

E como podem as PME preparar-se quando o investimento pode ser avultado? “A segurança digital é uma tema estratégico e por isso tem que ser um desígnio da organização e não apenas uma preocupação da equipa de IT. Qualquer investimento que seja feito tem que estar assente numa estratégia definida a partir do topo, com métricas e satisfação dessas métricas”.
“Não temos que resolver os problemas todos sozinhos”: essa foi uma das mensagens-chave que o dirigente da CIP deixou neste evento do JE. “As PME têm que trabalhar em conjunto nos vários sectores, a capacidade de trabalhar em rede e de gerar cyber intelligence e partilhar recursos. O outsourcing é fundamental nisto porque há entidades que só se ocupam destes temas. A maior parte das PME em Portugal não têm capacidade para ter um Chief Information Security Officer.
Também é importante olhar para a gestão de risco para que as PMEs possam impactar este tema da cibersegurança. É importante também que se promova a proximidade às pessoas e às empresas”.
Por fim, o empresário deixou um recado para o Estado neste desafio de digitalização e em jeito desafio à reforma que se anuncia: “Na economia digital, as empresas têm de ter um papel fundamental. O Estado tem que ser mais digital: é verdade que temos bons exemplos mas temos muitas entidades em que há muito trabalho para fazer. Quantas vezes o Estado nos pede informação que já tem? Em Portugal, os sistemas não falam uns com os outros e isso não pode ser”, concluiu.
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