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Alternativa às palhinhas de plástico é de massa e ‘fala’ português

“Quando me pergunta ‘porquê massa?’ a resposta que me vem à cabeça é: porque não?”. As alternativas às palhinhas de plástico vêm do inox, trigo, papel, vidro e bambu mas há uma aposta portuguesa que pode ganhar ‘pontos’.
  • Cristina Bernardo
18 Fevereiro 2019, 07h35

Numa altura em que o consumidor procura cada vez mais reduzir o consumo de plástico, vários produtos já chegaram ao mercado com o intuito de apresentar alternativas mais sustentáveis.

Uma delas é a Palhinha – palhinhas de massa, que se juntam às outras todas de inox, de trigo, papel, vidro e bambu e que já estão a dominar o segmento que outrora pertencia às palhinhas de plástico. ‘’A minha mulher até brincou com a quantidade de amostras que recebemos e sugeriu que, se não corresse bem, podíamos fazer macarrão mais tarde para os miúdos’’, revelou um dos fundadores da empresa Luís Barroca Monteiro, em conversa com o Jornal Económico.

No meio de tantas opções, os fundadores optaram por uma solução menos comum. Quando questionado sobre o porquê desta escolha, entre risos, Luís confessou: ‘’A resposta que me vem à cabeça é: porque não? É um produto natural, é comestível e tem uma óptima duração. O impacto ambiental não existe: se colocarmos a palhinha na terra ou na relva ela ao fim de meia dúzia de dias desfaz-se porque é massa’’, explicou encolhendo os ombros, dada a simplicidade do produto. ‘’É um produto descartável. De utilização única, ou não. Pode ser reutilizável, se quisermos. No fundo, dentro de todas as opções que testamos, foi o único produto que apresentou uma relação boa de preço-qualidade agradável para o nosso cliente, e depois com a vertente que nos preocupa, que é o ambiente’’, admitiu.

A aventura começou há cerca de cinco anos, e foi graças à mulher de Luís que a ideia tomou proporções maiores: “É muito engraçado. A minha mulher, que não tem nada a ver com esta área, mandou para o ar que se devia lançar um produto substituto das palhinhas de plástico- há cerca de cinco anos ainda nem se falava sobre a problemática deste tipo de palhinhas. Acontece que a minha mulher sabe que sou um pouco empreendedor, e quando uma ideia é gira para mim, eu pego nela”, afirmou.

Luís Barroca Monteiro juntou-se então a um amigo de longa data (conhecem-se desde a altura em que jogavam vólei) e, juntos, com um investimento de cerca de 10 mil euros, embarcaram nesta aventura.

Fornecedor em Itália

Procuraram fornecedores em Portugal, mas deparam-se com um beco sem saída. Por isso, tiveram de olhar para o país que é especialista na produção de macarrão. ‘’Encontrámos um fornecedor em Itália, mas até encontrar um que as fizesse passaram-se meses. Tentei consultar fábricas, e mais opções aqui em Portugal mas ninguém responde (há sempre esta dificuldade para quem está a arrancar com ideias: ninguém liga), mas acabei por arranjar um. Pedi amostras, testei-as em várias bebidas e refrigerantes, com amigos e estabelecimentos comerciais. E depois tivemos de as transformar num produto’’ explicou.

A questão que surgiu a seguir foi a sua durabilidade, visto ser uma palhinha produzida da mesma maneira que é produzido o macarrão. ‘’Com os testes que fizemos, as palhinhas duram à vontade uma hora. Não temos dúvidas. E para além disso, ninguém dura mais que 15 minutos a beber uma bebida’’. E isso comprova-se: Uma palhinha de plástico tem um tempo médio de vida nas mãos de um consumidor de quatro minutos, segundo os dados da União Europeia. ‘’E se demorar pode sempre cortar a parte que está mole e usar o resto da palhinha’’, explicou Luís com duas metades da palhinha na mão depois de a ter partido ao meio. ‘’Por isso é que é reutilizável’’, concluiu.

Para além de serem de massa, as palhinhas mostram imperfeições, o que não é necessariamente uma coisa má. ‘’Podemos brincar com isso’’, brincou Luís com uma na mão. ’’Esta é um pouco torta. Esta já não é. É normal’’.

Até agora, as palhinhas têm sido bem recebidas por hotéis, bares, restaurantes e outros estabelecimentos que possam comercializá-las, mas o trabalho pela frente ainda é palpável. O próximo passo vem no sentido de facilitar a embalagem (atualmente vêm num pack de 30, com um custo de 6 euros através do site). “Estamos neste momento com uma campanha de crowdfunding, com a PPL. Desde este percurso, temos tido muitos feedbacks de estabelecimentos que nos têm indicado que seria mais benéfico termos a palhinha individualizada em invólucro, à semelhança daquelas que vêm em plástico. Para nós, o plástico está fora de questão, portanto a alternativa é o papel”, explicou.

Para realizarem este passo, têm que comprar uma máquina que só está disponível na China, e que não só produz este tipo de embalagem, mas também imprime rótulo da palhinha, um fator que seria benéfico também para a marca do produto. “Se conseguirmos que esta campanha tenha sucesso, vai fazer uma grande diferença. Achamos que o mercado precisa deste tipo de solução. Estamos a falar de uma campanha de treze mil euros para conseguirmos fazer esse investimento. O nosso objectivo é concluir esta campanha em grande. Até ao dia 28 [de fevereiro] qualquer contribuição é muito boa.’’ Para quem contribuir com um valor superior a 15 euros, será compensado com três packs de palhinhas feitas de massa, revelaram os fundadores.

Apesar de serem questionados sobre se estas palhinhas contribuem para o desperdício alimentar, Luís argumenta que “temos é de ver as coisas do ponto de vista da balança: usar um produto que é nocivo para o ambiente versus usar um que não é. Todos os outros têm os seus paradigmas. Temos que ser realistas e encontrar soluções que sejam viáveis tantos do ponto de vista ambiental como do económico”, vincou.

Sobre os próximos passos no sentido da expansão comercial, ambos os fundadores não negaram a vontade de ir lá para fora, “na gíria comercial costuma-se dizer que o céu é o limite’’, admitiram entre risos, mas admitem que o crescimento está dependente das capacidades económicas. ”Respondendo concretamente, sim é um produto que sabemos que tem procura e aceitação em vários mercados. Dependendo da nossa capacidade de investimento, vamos para eles ou não”, concluiu.

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