“Portugal, globalmente, está longe de conseguir cumprir com as metas da reciclagem de resíduos urbanos, com exceção das embalagens que são o único fluxo que cumpre”, afirma Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponte Verde, ao Jornal Económico. Nesta categoria, acrescenta, “só o vidro ainda está aquém, pelo que requer uma atenção especial”.
Em 2025, Portugal precisa estar a reciclar 65% de todas as embalagens que são colocadas no mercado. No final de 2022, a taxa global era de 60%.
“É preciso acelerar o ritmo” para lá chegar, adianta a CEO, o que implica “acelerar o investimento para que o serviço que é prestado ao cidadão, do ponto de vista de qualidade e conveniência, ajude a que este deposite mais embalagens nos ecopontos”.
O panorama nos restantes fluxos de resíduos urbanos é bastante diferente. Para pior. “Ou falta reciclagem ou faltam mesmo sistemas de recolha seletiva para outros fluxos específicos que funcionem de forma eficaz”, revela Ana Trigo Morais. Em concreto, adianta, os biorresíduos, os equipamentos elétricos ou eletrónicos são alguns dos materiais que estão a contribuir para o incumprimento da meta de 55% de reciclagem da União Europeia até 2025 que o país está obrigado de alcançar.
E mais. Nesta área, refere, o país também tem novos objetivos: a meta de reciclagem para os resíduos urbanos para 2030 é de 60% e para 2035 é de 65%, enquanto a de deposição em aterro é de 10% da quantidade total de resíduos urbanos produzidos, também para 2035. Atualmente é de 54%.
“Há, portanto, um sentido de urgência em agir. Já. Por isso, a Sociedade Ponto Verde defende que o sistema de gestão de resíduos em Portugal deve ser mais eficiente, devidamente financiado, com um quadro regulatório simplificado e com estabilidade fiscal”, salienta Ana Trigo Morais.
Além disso, na sua perspetiva, o país também iria beneficiar com “a implementação de novos sistemas de recolha como o pay as you throw ou on demand”, com “maior transparência do sector”, bem como “com a existência de incentivos/penalizações e vantagens financeiras para quem separa mais”. Se considerados, todos estes fatores tornariam a reciclagem “mais eficiente e atrativa para todos”, nomeadamente para os cidadãos, que são quem primeiro garante que os materiais recicláveis são separados e depositados nos ecopontos ou noutros locais, em função do fluxo específico.
Estes e outros temas associados à reciclagem estão esta terça-feira, 7 de novembro, em debate no primeiro European Packaging Waste Meeting, que se realiza no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. António Nogueira Leite, chairman da Sociedade Ponto Verde, e Virginijus Sinkevičius, comissário Europeu do Ambiente, Oceanos e Pescas, abrem o fórum, enquanto Ana Trigo Morais e António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar, encerram-no. Ao longo do dia vários peritos nacionais e internacionais vão procurar responder a estas e outras questões: Estão as smart cities a crescer ao ritmo necessário? Está a Europa a responder à emergência climática? Os resíduos urbanos são o “novo” ouro negro?
A CEO da Sociedade Ponto Verde considera essencial que exista mais diálogo e cooperação entre todos aqueles que de alguma forma são parte interessada nestas matérias, integradas na agenda do Ambiente, da Sustentabilidade e da Economia Circular. “Colocamos Portugal no centro do debate, no contexto europeu, porque tudo isto merece uma reflexão global. Há que continuar a debater o papel das smart cities para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, em trazer boas práticas de outros países para Portugal relativas ao setor das embalagens e perceber quais são, ainda, os fatores críticos para a política pública nacional e europeia nestas matérias.”
Reciclagem até setembro de 2023
Segundo dados da Sociedade Ponto Verde divulgados em outubro, entre janeiro e setembro foram recolhidas seletivamente 347.774 toneladas de embalagens, o que representa um acréscimo residual de 0,4% face ao mesmo período do ano passado. Na prática, são nove meses de estagnação.
No mesmo período, os portugueses encaminharam para reciclagem 110.859 toneladas de papel/cartão e 60.945 toneladas de plástico, o que significa um aumento de 4% e 2%, respetivamente.
O vidro é o material que merece mais atenção, já que foram depositadas 163.136 toneladas destes resíduos nos vidrões, ou seja, menos 3.969 toneladas, do que no período homólogo de 2022.
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