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And the winner is…

Mundialmente, o turismo é uma indústria de biliões de euros, não regulamentada pelo acordo de Paris (2015). No entanto, o sector, no seu termo mais lato, é; segundo afirmações de cientistas australianos na revista científica Nature Climate Change; responsável pelo lançamento anual de 4 milhões de toneladas de gás carbônico para a atmosfera, ou seja, 8% da emissão total.
20 Agosto 2018, 07h15

Se usadas com critério, podem ser quase tão eternas quanto diamantes.

O seu brilho é condicionado pela pele que as use.

Esta deve ser sã, livre de perfumes, maquilhagem ou cremes.

Não é por acaso que elas simbolizam a pureza.

Assim são as pérolas, assim ainda são algumas áreas terrestres.

A pérola das Filipinas, a ilha de Palawan, por exemplo. Detém uma das sete maravilhas do mundo, nomeadamente, o rio subterrâneo com uma extensão de oito quilómetros em Puerto Princeza. As suas imagens imaculadas constituem manchetes inspiradoras para o mercado turístico, em busca de destinos cada vez mais belos, longínquos e exóticos, invocando o sonho e o paraíso.

Mundialmente, o turismo é uma indústria de biliões de euros, não regulamentada pelo acordo de Paris (2015). No entanto, o sector, no seu termo mais lato, é; segundo afirmações de cientistas australianos na revista científica Nature Climate Change;  responsável pelo lançamento anual de 4 milhões de toneladas de gás carbónico para a atmosfera, ou seja, 8% da emissão total. Enquanto alguns destinos ainda se rejubilam com a  crescente popularidade adquirida no mercado turístico internacional, outros já choram sobre as faturas elevadas resultantes da tentativa de inverter o mal que infligiram à pátria mãe, a desbarato, por preços a mercê da generosidade de grandes operadores turísticos.

A Tailândia, onde 20% do produto interno bruto provém deste sector, accionou o alarme de emergência em Março do ano corrente. Passou a ameaçar com multas até 2600 euros, turistas com intuitos poluidores. Alimentar peixes, pescar em zonas proibidas, construir nas praias e ancorar nos recifes de coral são atos que deixaram de ser tolerados. Que se passou para fazer prevalecer o bom senso? Quanto sofrimento está por detrás desta atitude, baseada numa grande lição que nos chega gratuitamente?

Outra ilha filipina, Boracay, ganhara na última década grandes destaques e inúmeras distinções por operadores turísticos. Fora eleita melhor ilha do mundo no ano de 2012, pela revista internacional de viagens, Travel + Leisure.  A ilha; de apenas 10,32 ㎢;  encontrava-se em 2014, no topo da lista das “melhores ilhas do mundo” na publicação internacional “Condé Nast Traveler”. Em 2016, liderava a lista dos 10 melhores destinos na mesma revista. Recebeu dois milhões de turistas (porventura, o objetivo para a Madeira até 2020) em 2017.

Será Boracay, ilha fortuita e gloriosa? Talvez, se não fossem as graves falhas no sistema de drenagem insular, que permitissem o afluxo das águas residuais dos estabelecimentos hoteleiros para o mar, sem tratamento. Só sabemos porque originou uma calamidade natural inegável. Encobrir a enorme quantidade de algas a dar à costa tornou-se inexequível. A ilha mais popular do arquipélago viu-se obrigada a “encerrar para limpezas”, em Abril do ano corrente, por um período de seis meses. De momento, 36.000 funcionários do sector turístico, com cerca de 64.000 familiares a seu cargo, vêem os seus postos de trabalho pendentes.

O afago da vaidade dos destinos com a atribuição de títulos internacionais, não garante a continuação do poder de sedução aos visitantes no futuro. Se um destino realmente for uma pérola, merece ser tratada como tal por quem nela vive, sob o risco de perder o brilho, ser descartada e substituída por outro cartaz mais belo e apelativo.

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