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“Angola e Moçambique são mercados muito interessantes”

Paulo de Moura Marques, sócio-fundador da AAMM, acredita que o sucesso do turismo se deve ao facto de existir uma estratégia nacional para o setor.
9 Junho 2017, 14h30

Fundada há cinco anos, por profissionais vindos de outras firmas, a Abecasis, Moura Marques, Alves Pereira (AAMM) conta hoje com uma equipa de 20 advogados em várias áreas de prática. Em entrevista ao Jornal Económico, o sócio-fundador Paulo de Moura Marques explica a estratégia de crescimento da sociedade e a forma como pretende fazer frentes aos desafios futuros.

 

Que balanço fazem destes cinco anos de AAMM?

Acho que em cinco anos de escritório temos uma história peculiar. As pessoas que o integram como sócios têm uma carreira consolidada e vieram de outro escritório. Para continuar a crescer, pretendemos pessoas que sejam especializadas nas suas áreas, que façam progredir colegas mais novos e que adicionem ao escritório valências técnicas. Não estamos a integrar [novos] sócios que façam a mesma coisa que já fazemos. Se alguma vez evoluirmos para um ‘full service’ será por uma junção de especialistas e não por acharmos que é bom ter esta ou aquela área.

A firma ganhou um prémio internacional sobre igualdade de género. Apoiam as quotas?

Quando formámos a equipa não pensámos se seriam mais senhoras ou mais cavalheiros, pensámos em advogados(as), gente com qualidade. Não é um critério em que pensemos. Acho que não me consigo pronunciar sobre as quotas porque são algo que se utiliza para promover a igualdade. Ouço muitas senhoras dizerem que são contra as quotas, porque são outra forma de desigualdade.

Como é que vê o escritório daqui a cinco anos?

Todas as empresas procuram ir a novos segmentos, arrastando o princípio de qualidade para outros onde não estavam. Os escritórios de advogados não serão diferentes. Não estamos virados para o volume e, para termos isso, temos de ter esses especialistas. Cada pessoa que cria um escritório, principalmente em Portugal, julga-o à sua imagem. Temos de permitir que os colegas mais novos consigam atingir o patamar dos restantes. Hoje pretende-se dar a ideia de que a marca é um atrativo. Este princípio tem muito menos alcance do que muitas vezes se pretende. É mais verdadeiro para escritórios nos Estados Unidos ou no Reino Unido. As sociedades em Portugal vivem muito mais os seus talentos individuais, que têm equipas muito eficazes à volta. Por isso é que quando se vê que, quando equipas muito conceituadas de uma determinada área saem de lá, aquela área acaba por ruir.

E quais as áreas de prática onde vê mais potencial?

Além das típicas em que o escritório já se movimenta, é sempre possível mais e melhor, em laboral, fiscal, propriedade intelectual, os novos direitos de tecnologia, bancário e mercado de capitais.

A venda de carteiras de crédito malparado é uma das áreas com potencial de atividade?

Admito que sim. Acho que há investidores interessados. Em Portugal somos muito poucos os advogados especializados para fazer bem a gestão de dívida. Acho que é um mercado futuro e geralmente é trabalhado por advogados de Direito Público porque conhecem os meandros destas regras específicas. Se tudo correr bem, haverá cada vez menos dívida.

Estão a apostar no Brasil. Que outros países têm em vistal?

Acho Angola e Moçambique dois mercados muito interessantes. São apostas com futuro para as sociedades portuguesas. Temos grandes dificuldades em podermos colaborar com colegas locais estabelecidos. Há uma ideia errada, pré-concebida, de que, fechando a possibilidade de advogados portugueses trabalharem nesses mercados, se reserva um mercado local.

É um tema que a Ordem poderia acompanhar?

A Ordem por certo estará atenta a este problema. Pertence a uma classe de problemas típicos de certos tipos de perfis de advogados e sociedades. É importante para Portugal, enquanto país distribuidor e ‘hub’ para influência no mundo. Além dos investidores portugueses que estão a apostar lá, temos ainda uma plataforma de multinacionais que usam os seus advogados com capacidade de mobilização local.

Que balanço faz da ex-bastonária da Ordem dos Advogados? E que opinião tem do novo?

Demos tempo ao tempo. Não é por às vezes não nos revermos em certos projetos que quer dizer que não se tenha feito o mehor. Em eleições como as da Ordem, uma coisa é a postura que um candidato apresenta e outra é o dia a dia. A realidade molda-nos, faz-nos ter um discurso mais regrado e uma ação mais contundente. Quem é bastonário neste país deve ter por certo uma carga de trabalho interno e externo e gerir sensibilidades.

Como olha para a polémica do alojamento local?

Vejo com gosto. Está ligada com a maneira como lidamos com o turismo. Há 20 anos ninguém discutia isto. Dizia-se que os centros das cidades estavam a envelhecer, que os nossos bairros históricos estavam despovoados, que todo o comércio estava abandonado. Hoje debate-se como se regula essa utilização, de que forma vamos compatibilizar meios e usos em certas zonas da cidade. Saberemos encontrar um ponto de equilíbrio, mesmo que demore algum tempo.

A nossa economia está dependente do turismo?

Muito. Quando falamos em turismo falamos em integrar toda a sociedade. Será a maior indústria do mundo. É uma aposta ganha. Quem pensaria que chegaríamos a 2017 a rivalizar com Nova Iorque, Londres ou Paris? Isto deve-se à segurança e à comodidade. Temos sucessivos governos que olharam para esta questão da mesma forma. O turismo tem sido talvez dos [poucos] planos que tem seguido um desígnio nacional.

Poderia ser replicado noutro setor?

Claramente. Temos de criar consensos nacionais. Há setores em que temos de parar, por diferenças de lado e dizer “isto é importante para nós”. A saúde é um deles. Passámos os piores anos da crise, temos de voltar-nos para o exterior. Nunca nos vimos como exportador. Temos o maior número de pessoas especializadas e estamos a exportar conhecimento. Alguma coisa estamos a fazer bem.

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