A diretora dos mercados emergentes da consultora Oxford Economics considerou, este sábado, que Angola dificilmente voltará aos mercados este ano, esperando por 2025, enquanto Moçambique está a preparar emissões de títulos de dívida ‘verde’ ou ‘azul’.
“Acreditamos que o risco de incumprimento ainda é baixo, mas o regresso aos mercados parece mais provável em 2025, depois de a falta de moeda externa ser ultrapassada, e Angola convence os mercados que vai cumprir os pagamentos de dívida externa em moeda estrangeira no próximo ano”, escreve Evghenia Sleptsova numa análise aos países africanos que poderão voltar aos mercados este ano.
“Angola, apesar da sua conta corrente positiva e das reservas maiores que os seus pares, enfrenta escassez de liquidez, em parte devido aos renovados pagamentos de dívida à China; a falta de divisas externas que levou à desvalorização de 35% do kwanza em junho foi seguida de um açambarcamento por parte do Tesouro para honrar os pagamentos externos”, acrescenta a analista.
Na análise enviada aos clientes do departamento africano desta consultora britânica, e a que a Lusa teve acesso, Evghenia Sleptsova divide os países entre aqueles que precisam e podem, e os que precisam mas não podem emitir dívida externa nos mercados financeiros.
“Avaliamos quais dos 15 países emergentes com elevados juros podem regressar aos mercados este ano utilizando um rigoroso enquadramento que classifica cada um deles em função da sua capacidade de emitir dívida em dólares e a urgência com que precisam de financiamento” explica a analista, apontando que aqueles com elevadas necessidades mas pouca capacidade de emissão incluem Angola, Gabão, El Salvador, Moçambique, Suriname e o Egito”, e sublinhando que “só Angola, devido à falta de vontade de assinar um programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e aos constrangimento de liquidez em moeda externa, pode ter de ir ao mercado este ano mesmo enfrentando elevados custos de endividamento”.
Os países da África subsaariana começaram este ano novamente a emitir dívida pública no mercado financeiro, depois de mais de dois anos arredados deste tipo de financiamento comercial devido aos elevados juros que os investidores cobravam para comprar a sua dívida.
Desde janeiro, a Costa do Marfim, o Benim e o Quénia já emitiram dívida, sempre com juros abaixo de 10%, e a Jordânia, Nigéria e Camarões também deverão seguir o mesmo caminho, em breve.
Entre os países com elevadas necessidades de financiamento, mas pouca capacidade para o fazer, a Oxford Economics aponta também o Egito e Moçambique, ambos com o risco mais elevado de incumprimento, e considerando que o país lusófono não deverá emitir ‘Eurobonds’ este ano.
“Moçambique não deverá procurar aceder aos mercados financeiros convencionais para emitir ‘Eurobonds’, mas o país está a preparar emissões de títulos de dívida verdes e azuis para cumprir as necessidades de financiamento”, conclui Evghenia Sleptsova.
A dívida verde ou azul refere-se a emissões de dívida que cumprem os critérios de melhoria ambiental, social e de governação (ESG, na sigla em inglês), e têm sido cada vez mais frequentes no contexto do combate às alterações climáticas, o que faz com que tenham uma taxa de juro mais baixa que a comercial e abarquem uma nova classe de investidores que procura não só o lucro, mas também um financiamento socialmente responsável.
Na semana passada, o Governo moçambicano vincou que prevê recorrer a financiamentos públicos e privados para suportar os investimentos de 80 mil milhões de dólares (73 mil milhões de euros) da Estratégia de Transição Energética (ETS) até 2050, incluindo emissão de dívida soberana, confirmando o anúncio feito no final do ano passado, na COP28.
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