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Apesar de Israel, petróleo está em queda e a culpa é da China

A Agência Internacional de Energia e o mercado não preveem um choque de preços como na guerra israelo-árabe de 1973. mas o que explica a contenção de preços é a pouca procura do melhor cliente de sempre: a China.
Zbynek Burival on Unsplash
25 Outubro 2023, 09h53

Depois de um pequeno surto de aumento dos preços do petróleo na segunda-feira seguinte aos atentados do Hamas em Israel (no sábado, 7 de outubro), o preço do petróleo ajustou em baixa e ontem mesmo, terça-feira, voltou a cair cerca de 2% nos mercados internacionais. Não se confirmam – pelo menos para já – as previsões de que a guerra entre Israel e o Hamas iria gerar um pico dos preços do petróleo.

Vale a pena recordar que, logo no dia 8 de outubro – os mercados não cumprem fins-de-semana, ou pelo menos os analistas do mercado estão sempre disponíveis para olharem para as suas bolas de cristal – a ‘palavra de ordem’ era que não haveria um choque petrolífero (ainda há quem recorde 1973) se a guerra não fosse demorada. Uma previsão ‘fácil’: o poder de fogo de Israel e a sua proverbial vontade de se defender dos povos que ela própria invadiu levaria a que a guerra fosse curta.

Ainda ninguém sabe se será curta ou não – mas a verdade é que, por muito que o poder de fogo do Hamas possa surpreender, ninguém acredita que se esteja perante um cenário em que os palestinianos possam vencer. E uma vitória de Israel será necessariamente baixa.

Mesmo assim, e segundo os analistas, esses que não dormem, a queda dos preços do petróleo nos últimos dias resulta de uma menor procura. Não por causa de guerra Israel-Palestina, não por causa da guerra Ucrânia-Rússia – mas, muito mais prosaicamente, porque a economia chinesa perdeu algum gás. E quando perde gás, precisa menos de petróleo.

A má notícia é que a economia chinesa parece estar a avivar. Ao contrário do que diziam os analistas há um par de semanas – que revelam uma vontade indomável de perceber todos os dias para onde vai a China, conferindo-lhe assim um lugar cimeiro de liderança global – o último trimestre foi de aumento inesperado de crescimento do PIB. Como este aumento é alimentado a petróleo, o mais provável é que os preços do petróleo voltem a subir em pouco tempo.

Claro que o mundo tem uma ‘almofada’ de suporte, que possivelmente agradece (mesmo que não publicamente): enquanto a China estiver ‘entretida’ a comprar petróleo russo a preços de saldo, a procura no mercado oficial não sofrerá uma alta e os preços podem continuar controlados.

Seja como for, e voltando a Gaza: já se passaram mais de duas semanas desde que a guerra entre Israel e o Hamas eclodiu, e o preço do petróleo permanece abaixo das máximas anuais do final de setembro. O petróleo Brent chegou a 95 dólares o barril depois de ter sido noticiado que a Arábia Saudita, o principal produto bruto do mundo, e a Rússia decidiram prolongar os seus cortes de produção até ao final do ano, recorda uma especialista de mercados do jornal “Cinco Días”. O conflito em Gaza fez o preço do petróleo Brent subir 4,2% para 88 dólares o barril. Um aumento significativo, mas que se moderou no início desta semana.

Segundo a analista, o atraso de Israel no seu anunciado plano para uma invasão terrestre de Gaza pode estar a conter, por enquanto, a possibilidade de uma escalada da guerra na área com consequências imprevisíveis. “O petróleo Brent perdeu 1,86% na terça-feira, para 88,16 dólares”.

Os especialistas concordam que o novo foco de tensão bélica que se abre no Oriente Médio será um fator que manterá o preço do petróleo bruto a um nível indiscutivelmente alto, mas não veem sinais de que o conflito atual desencadeará um aumento ‘relâmpago’, capaz de causar uma crise energética como a vivida há 50 anos com a Guerra do Yom Kipur.

Nessa altura, a gasolina foi racionada em Portugal e as longas filas para abastecimento, que nunca ninguém tinha visto antes, passaram, por instantes, a ser uma realidade. Mas houve uma parte positiva: os portugueses aperceberam-se que a distância que os separava da Europa ‘desenvolvida’ (mais de três mil km e dois regimes totalitários) parecia ser um grande ‘atraso de visa’.

De qualquer modo, diz ainda o “Cinco Días”, os investidores permanecem atentos, embora o principal cenário sob gestão é que o conflito não se estenda a todo o Médio Oriente e, sobretudo, que não envolva o Irão (outro vendedor especial para a China), uma potência petrolífera com potencial capacidade para bloquear o Estreito de Ormuz, uma verdadeira rodovia para petroleiros. Isso sim, seria um aborrecimento para os mercados.

A Agência Internacional de Energia mostrou-se moderada no seu relatório de outubro, marcando distâncias entre a situação atual e a de 1973. “Cerca de 50 anos após o primeiro choque do petróleo, o mundo tem soluções duradouras para enfrentar a insegurança energética, que também pode ajudar a enfrentar a crise climática”, disse a agência.

Na visão da AIE, e num ambiente de novas tensões geopolíticas, os países têm “uma gama muito mais ampla de tecnologias limpas altamente competitivas e uma riqueza de experiência política sobre como acelerar a sua implantação”. De qualquer forma, as alternativas aos combustíveis fósseis não são fáceis nem imediatas.

A AIE acredita, por outro lado, que a procura por combustíveis fósseis atingirá o pico antes de 2030, enquanto a OPEP adia essa fasquia para 2045. O Goldman Sachs insiste, pior seu lado, mantém a sua previsão para o Brent em 100 dólares em junho próximo, oscilando numa faixa entre 80 e 105 dólares.

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