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As incertezas da globalização e o desenvolvimento de uma sociedade de risco

Presentemente, por falta de sustentabilidade do sistema, a globalização económica parece estar a pôr em causa a estabilidade e o crescimento socioeconómico, perspetivando-se como um fenómeno de incertezas e riscos generalizados.
4 Abril 2018, 07h15

O crescimento económico foi, praticamente, uma constante desde o início da globalização, iniciada nos séculos XV e XVI, até há relativamente poucos anos, à exceção das depressões motivadas, direta ou indiretamente, pelas duas grandes guerras mundiais. Assim, durante vários séculos as sociedades integraram-se e transferiam sistematicamente mais riqueza às gerações seguintes, do que o valor que herdavam dos seus antepassados.

No entanto, em 2008 a crise económica, eclodida no setor financeiro dos Estados Unidos, contagiou rapidamente o mundo, traduzindo-se em falências, em catadupa de bancos, empresas e, até mesmo, de cidadãos, assinalando simbolicamente o fim dessa era.

Presentemente, por falta de sustentabilidade do sistema, a globalização económica parece estar a pôr em causa a estabilidade e o crescimento socioeconómico, perspetivando-se como um fenómeno de incertezas e riscos generalizados. Com efeito, a economia global sofre a influência de vários fatores, entre os quais se destacam: i) as alterações significativas no conceito de soberania; ii) a crise dos refugiados e os movimentos migratórios; iii) as ameaças terroristas; iv) a escassez de recursos naturais; v) as alterações climáticas; vi) os riscos ambientais; vii) a robotização do trabalho, em substituição das pessoas.

É decorrente destas mudanças e ameaças que emerge a designada sociedade de risco. O conceito de sociedade de risco foi teorizado pela primeira vez pelo sociólogo alemão Ulrich Beck, em 1986, na sequência do acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Na opinião Ulrich Beck, acidentes deste tipo surgem como causa e efeito das ações do próprio homem. Por outras palavras, a ação entrópica é geradora de constantes imprevisibilidades quanto às consequências das medidas adotadas, sendo, com frequência, agravadas pelo enfraquecimento significativo da racionalidade baseada no conhecimento do passado.

Assim, em vez de se observar a realidade dos factos e desenvolverem-se estratégias adequadas aos desafios das sociedades globais contemporâneas, vão ganhando voz ideologias xenófobas, as quais culpam os imigrantes pelo crescimento dos índices de desemprego, fomentando o terrorismo, a violência e pensamentos extremistas. Em resposta, alguns países estão a adotar medidas protecionistas. Os Estados Unidos de Donald Trump e a saída do Reino Unido da União Europeia, através do processo conhecido por Brexit, são disso exemplos paradigmáticos.

Saliente-se que a combinação deste binômio, crise económica e extremismos políticos, conduziram, não há muito tempo, ao nazismo e ao fascismo. Posteriormente, como consequência destes movimentos extremistas, deu-se uma guerra mundial, sendo, só por si, motivo mais do que suficiente para uma reflexão profunda e para uma análise retrospetiva da História, que representa um passado sempre atual nos dias de hoje.

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