Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 17 de junho, com a edição impressa do Semanário NOVO.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP
A decisão do BCE de aumentar em 25 pontos-base as taxas de juro directoras não causou surpresa, tendo em conta a determinação em atingir o objectivo central de uma inflação em torno de 2% no médio prazo. Apesar do BCE ter revisto em baixo o crescimento económico na zona euro em 2023 (para 0,9%) e 2024 (1,5%), a dinâmica do mercado de trabalho, mais robusta do que o esperado, e a revisão em alta da inflação subjacente ditaram o oitavo aumento consecutivo dos juros.
Os efeitos deste novo aumento são controversos. Por um lado, ajudam a combater a inflação, nomeadamente a inflação subjacente, por outro intensificam as dificuldades nas condições de financiamento por parte das empresas e das famílias. Segundo o BdP, em Abril de 2023 as empresas não financeiras portuguesas pagaram uma taxa de juro acima da média da zona euro nos novos empréstimos e viram os seus depósitos serem remunerados abaixo dos das empresas não financeiras. Conclusão: as empresas nacionais são relativamente mais penalizadas quer na remuneração dos seus depósitos quer no acesso a novos créditos, onde encontram taxas de juro mais desvantajosas.
Este novo aumento penaliza as empresas e agrava as suas dificuldades no financiamento, adiando investimentos na inovação, no capital humano, na transição energética, entre outros. Sendo estes investimentos fundamentais para a melhoria da produtividade e competitividade das nossas empresas e, nesse sentido, do nosso país, cabe ao Governo apoiá-las, nomeadamente através da rápida implementação do Portugal 2030 e do PRR. Atuar sobre a redução da carga fiscal seria também uma boa medida, por forma a aliviar as empresas e as famílias.
Filipe Garcia, presidente da IMF – Informação e Mercados Financeiros
Os bancos centrais têm fundamentado a subida dos juros com a necessidade de combater a inflação. É uma posição discutível, tendo em conta que os factores que induziram a subida generalizada dos preços não resultaram, na sua maioria, de economias ciclicamente sobreaquecidas.
Sem prejuízo de, de facto, a política monetária e fiscal se encontrarem expansionistas no pós-pandemia, os factores que provocaram o surto inflacionista desde o final de 2021 podem ser assim sintetizados: constrangimentos logísticos e subida dos preços dos transportes; subida dos preços da energia; percepção de escassez de produtos e de commodities; subida de preço de alimentos frescos e, finalmente, expansão de margens corporativas, com empresas e sectores a aproveitarem o contexto de inflação.
Estes factores mostraram ser pontuais e estão a dissipar-se, mas não graças ao BCE. É tentador para os bancos centrais justificar uma evolução favorável da inflação com as suas decisões, mas não são méritos que devam reclamar.
Há valor em normalizar a política monetária, retirando-lhe as suas dimensões mais extraordinárias, mas bastaria recolocar os juros perto de 2% para resgatar essa ferramenta e actuar sobretudo pelo lado da liquidez, o que até está a ser feito. O BCE irá continuar na sua cruzada e a subir taxas, o que se percebe mal quando a inflação homóloga está em níveis pré-guerra e a cair, a economia do bloco (e da Alemanha) está em recessão técnica e todas as métricas do crédito mostram uma desaceleração.
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