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“As nossas antenas falam umas com as outras”. Como a Vodafone, Outsystems e EDP usam a inteligência artificial

As perguntas que (quase) todos os fornecedores e clientes colocam podem ser respondidas em ‘chatbots’, mas os portugueses continuam a preferir ligar para os ‘call centers’ das empresas, o que acaba por lhes pesar nas contas. Três multinacionais apresentaram esta quinta-feira algumas das tecnologias que estão a usar, na conferência “Digital Power 2019”.
  • Cristina Bernardo
10 Outubro 2019, 18h08

A Comissão Europeia considera que, para que o uso da Inteligência Artificial (IA) seja fiável, deve respeitar a – ainda que pouca – legislação e regulamentação aplicáveis. Além disso, a tecnologia tem de respeitar sete requisitos: a iniciativa e controlo por humanos; a robustez e segurança; a privacidade e governação dos dados; a transparência; a diversidade; o bem-estar da sociedade e do ambiente e a responsabilização.

Na conferência “Digital Power 2019”, organizada pelo Impacting Group e a qual o Jornal Económico é media partner, a Vodafone, a Outsystems e a EDP – Energias de Portugal juntaram-se, esta quinta-feira, no palco para mostrar como é que estes sistemas de interseção entre o Homem e a máquina entraram nas multinacionais.

“Todas as indústrias estão, neste momento, a passar por uma disrupção, porque há um player mais sexy e atraente – independentemente de ter ou não legado e rentabilidade – que surge e muda tudo. Estes agentes estão habituados a inovar rapidamente, a lançar novas versões diariamente, como o Google Search, e nós não temos noção disso”, disse Nuno Borges, diretor de Analítica e Investigação de Cliente da Outsystems.

O responsável por gerir a relação entre os analistas e os clientes na Outsystems explicou como a IA mudou a forma de desenvolver aplicações. “A área de software ainda é das mais manuais. É este paradigma que queremos mudar. É isso que a Outsystems faz com o low-code: aplica a automação na entrega de software”, referiu, admitindo que na ‘costumer journey’ a IA é bastante utilizado, mas faltam ainda ferramentas desta natureza no desenvolvimento de software.

Segundo a consultora tecnológica Gartner, até 2022, pelo menos, 40% dos novos projetos de desenvolvimento de aplicações terão programadores de IA nas equipas. Nuno Borges sabe que estas transformações dificultam a criação de experiências do cliente “sem fricção”, mas sabe que são essenciais para o negócio. “Vai-nos permitir guiar os programadores e acelerar aqueles que são mais profissionais, saber o que se deveria fazer, que variável está a ser testada (…). Com linguagem de programação visual e através de uma rede neural percebe-se o que se passará a seguir”, diz.

“Isto não é tecnologia do Star Wars”

No painel “A Inteligência Artificial ao serviço do negócio e do cliente”, Jorge Simões, diretor da Digital Factory da EDP, adiantou que a elétrica lança, em média, 25 projetos digitais lançados por trimestre. O líder desta fábrica de inovação tecnológica dentro do grupo explicou que os objetivo desta equipa são encurtar o “time to market” e acelerar projetos digitais. “Não somos um nativo digital, somos uma legacy company, mas rodeamo-nos dos melhores parceiros”, disse.

É o caso da parceria com a IBM, para desenvolver uma tecnologia que mostra o crescimento de vegetação junto às linhas de alta tensão. A utilização deste mecanismo ajuda a energética a proteger as infraestruturas, mas ainda há avanços a fazer: que o aparelho diga exatamente qual a espécie da planta. Assim, a EDP saberá qual o ritmo de crescimento e o período em que deverá ser cortada ou aparada.

“Eu sou mais de pedir desculpa do que de pedir licença. Lembro-me de há uns anos termos começado a utilizar um programa da Amazon e o Azure sem a autorização do departamento de TI, pago do meu cartão, em vez do sistema que estava no computador normal. Usámos aos poucos e de repente tínhamos otimizado o trabalho de dias para horas e chegado ao conselho de administração com um caso de sucesso”, contou ainda Jorge Simões.

Mafalda Alves Dias, diretora de Grandes Contas da Vodafone, deu o exemplo da utilização da IA na rede de cobertura móvel da operadora de telecomunicações. “As nossas antenas falam umas com as outras. É algo um bocadinho assustador, mas mede a capacidade que está a ser usada e a que está disponível, o que gera melhoria do espectro entre essas antenas e a sua cobertura”, esclareceu. Há ainda a assistente virtual Diva, que ajuda a equipa comercial a vender soluções mais complexas.

De acordo com um estudo da ‘telecom’, a confiança, a sustentabilidade e a integração Homem-máquina são três dos aspetos que mais preocupam os empresários. “Chegámos a um ponto em que já não temos tempo para mais. Precisamos de ajuda e essa ajuda são e podem ser as máquinas. Tem de haver um novo modelo de trabalho, e isso vai-nos trazer mais produtividade, um maior equilíbrio e balanço vida pessoa-trabalho e espaço para as pessoas criarem”, defendeu, no painel moderado por Pedro Barbosa, diretor-geral da Wise Pirates e professor da Porto Business School.

Na opinião de Mafalda Alves Dias, para as empresas avançarem é essencial sensorizare e, depois, vai ser possível gerarem dados, transformá-los em informação e, consequentemente, em estratégia de gestão. “Acredito que o futuro é incrível, mas este caminho está a acontecer já hoje”, realçou. Como disse Nuno Borges: “Isto não é tecnologia do Star Wars”.

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