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“As nossas florestas são barris de pólvora”, destaca especialista em Proteção Civil

“O que estamos a ver nestes dias é a junção entre barris de pólvora e os rastilhos”, destacou ao JE Artur Costa, professor universitário e diretor do departamento de Proteção Civil do Centro Universitário do Porto da Universidade Lusófona.
17 Setembro 2024, 12h57

As florestas portuguesas são autênticos barris de pólvora e há uma série de questões que têm de ser analisadas antes de se discutir o financiamento dos meios de prevenção de incêndios. A reflexão foi transmitida ao JE por Artur Costa, académico, professor universitário e diretor do departamento de Proteção Civil do Centro Universitário do Porto da Universidade Lusófona.

Mais de uma centena de concelhos sobretudo das regiões Norte e Centro mantêm-se hoje em perigo máximo de incêndio devido ao tempo quente, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Quatro pessoas morreram desde domingo e 40 outras ficaram feridas na sequência dos incêndios que atingem as regiões norte e centro do país.

“O que temos vindo a assistir são situações trágicas, dramáticas e que estão quase para além daquilo que é a compreensão do cidadão comum mas de algum modo podia ter sido antecipado se se conhecesse o território e da sociedade”, começou por referir este especialista.

Para Artur Costa, a questão do financiamento “será sempre importante” mas vai para além do que temos assistido desde domingo: “Aquilo que está a acontecer radica em questões anteriores e que passam por temas basilares como a educação, cultura, decisões que não são tomadas e que podiam evitar o abandono das nossas florestas, responsabilidade dos pequenos proprietários, dificuldade em responsabilizar esses proprietários”.

“Isto vai tudo naturalmente levar à questão do financiamento. Já se percebeu que, nas condições atuais, os proprietários florestais nunca limparão as suas florestas porque não veem retorno financeiro. Temos que fazer o que fazem os países nórdicos e que passa pelo investimento em florestas autóctones e que têm de ser incentivados para assegurar o retorno económico justo ao proprietário”, sublinhou.

No entender deste académico, “tem que ser assegurado também as atividades económicas que ajudam à limpeza da floresta mas essas atividades estão abandonas. Assim, as nossas florestas são barris de pólvora e o que estamos a ver nestes dias é a junção entre barris de pólvora e os rastilhos”.

“Isto é uma transição muito difícil mas os cidadãos têm que ter uma maior cultura de segurança partilhada. Não descarto que muitas das ocorrências que estão a existir no mínimo têm origens muito duvidosas mas não têm origem em fenómenos naturais”, conclui.

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